Massarifest 2025: uma noite insana, viajante, inexplicável... e avassaladora!

A Place to Bury Strangers - Foto: Ricardo A. Flávio

O “Massarifest” é um evento que veio para ficar! O festival, que nasceu ano passado com seleto line up: Acid Mothers Temple (do Japão), Devotos (do Recife) e Patife Band (de São Paulo), escolhido a dedo pelo curador “ReverendoFábio Massari, jornalista, escritor, radialista, famoso por seu trabalho na MTV nos anos 90, apresentando inúmeros programas na grade da emissora, ou pelo excelente programa “Rock Report”, na rádio 89FM, de São Paulo, repleto de entrevistas e músicas que você não encontra em qualquer lugar, para comemorar os seus 60 anos de idade, neste ano contou com Retrato & Oruã, Bufo Borealis, Violeta de Outono e A Place to Bury Strangers, dos EUA.

Outra coisa interessantíssima do evento é que além das excelentes bandas do cast, tem sua “feirinha cultural”, onde editoras independentes, selos e outros comerciantes do underground têm a oportunidade de mostrar seus produtos a um grande público: muitos livros, discos, camisetas e assessórios, merchandising oficial das bandas e, neste ano, até mesmo pedais de efeito da marca Death by Audio, de propriedade do vocalista e guitarrista Oliver Ackermann, da banda gringa convidada desta noite, o barulhento A Place to Bury Strangers.

A festa dessa noite começou com a apresentação conjunta das bandas cariocas RETRATO e ORUÃ, que tem em comum a ótima baterista Ana Zumpano. Falando um pouco sobre as bandas, a Retrato começou como um duo, que além de Ana tinha o guitarrista Beeu Gomez, mas tem se apresentado como um quinteto e possui um álbum lançado, intitulado “O Enigma de Um Dia”, que prima por uma sonoridade psicodélica que nos leva aos anos 60 e 70.

Retrato & Oruã - Foto: Ricardo A. Flávio

A banda Oruã, que está escalada para a próxima edição do Lollapalooza Brasil, em 2026, tem mais tempo de estrada, foi formada no final de 2016 pelo guitarrista e produtor Lê Almeida. Eles fazem um som com forte pegada psicodélica também, porém, com guitarras mais sujas, algo eletrônico e muita qualidade. Já lançaram quatro álbuns, alguns EP’s e muitos singles. Se ainda não conhece, vá atrás da informação!

O show conjunto das bandas é totalmente viajante, psicodelia extrema do início ao fim e, se o evento serve para comemorar os 61 anos do Reverendo Massari, a se completar no próximo dia 20 de setembro, as bandas comemoram no palco o aniversário do baixista Bigú Medine, clima de festa total.

E a noite continua com o BUFO BOREALIS no palco! Com seu inspiradíssimo jazz funk, a banda agradou a todos os presentes! Criada pelo baixista Juninho Sangiorgio, também dos Ratos de Porão, dentre várias outras bandas, e o baterista Rodrigo Saldanha, dos Amigos Invisíveis, a banda tem três álbuns de estúdio lançados e prima pela qualidade técnica, são: “Pupilas Horizontais” (2020), “Diptera” (2022) e o novíssimo “Natureza”, lançado esse ano.

Bufo Borealis - Foto: Ricardo A. Flávio

Como toda banda de jazz que se preza, ao vivo a banda abre espaço ao improviso e todos presenciaram um excelente show, com o sax de Anderson Quevedo e trumpete em destaque, mas com tempo para lindos solos do guitarrista Tadeu Dias e um ótimo trabalho do tecladista Vicente Tessara, além de Paulo Kishimoto, responsável por percussão e sintetizadores. Ao final do show, o baterista Rodrigo Saldanha agradeceu ao convite para participar da festa e lembrou-se do falecimento do genial Hermeto Pascoal, ocorrido um dia antes.

Os próximos a subir ao palco são Fábio Golfetti, Ângelo Pastorello e Cláudio Souza, do grande VIOLETA DE OUTONO! A banda com mais de 40 anos de estrada abre o show chutando a porta e já joga pra plateia seus dois maiores hits na sequência: “Dia Eterno” e “Outono”, do álbum homônimo de 1987.

Violeta de Outono - Foto: Ricardo A. Flávio

Eles nunca decepcionam e fazem um show que agrada todo mundo, desta vez sem material mais recente, priorizam seus primeiros álbuns, afinal, é noite de festa e finalizam com sua velha e cultuada versão para “Tomorrow Never Knows”, dos Beatles.

Há tempo para Fábio Golfetti agradecer ao amigo Fábio Massari pelo convite e confidenciar que na década de 90 foi Massari quem os convenceu a não terminar com a banda.

E o que se seguiu nesta noite é algo inexplicável e incrível: a apresentação da banda estadunidense A PLACE TO BURY STRANGERS foi caótica, levando o público a uma catarse coletiva. Conhecidos pela alcunha de “a banda mais barulhenta de Nova Iorque”, Oliver Ackermann, guitarra e vocal, John Fedowitz, baixo e Sandra Fedowitz, bateria não deixaram por menos, com som absurdamente alto e pesado, deixaram o público que encheu o Fabrique Club atônito.

Na segunda música do show, “We’ve Come So far”, Oliver estraçalha sua guitarra, deixando o instrumento em pedaços enquanto tirava sons de efeito de seus pedais. O público olha incrédulo e vibra com tudo o que vem do palco. Instrumento substituído e o massacre sonoro recomeça, sem amaciar nada! Oliver joga sua guitarra para o alto, mas desta vez não a destrói e a mesma aguenta até o final.

As canções vão se sucedendo e de repente, no meio do show, o vocalista Oliver desce do palco e corre pela pista, vai até o fundo e puxa uma caixa de som até o meio da plateia, atrás dele vem a baterista Sandra, grande destaque da banda, com um surdo e duas baquetas e não tarda, o baixista John se junta a eles, para uma sessão de improviso alucinante! Ali no meio do povo, a batida vigorosa da baterista se mistura com os efeitos do vocal e a marcação do baixo. O povo se amontoa em volta, faz parte da loucura.

De volta ao palco, o clima ainda é de êxtase e o barulho permanece ensurdecedor, catártico. A apresentação tem pouco mais de uma hora, e não deixa pedra sobre pedra. Ao final, a baterista Sandra vem até a frente do palco, com o mesmo surdo que desceu na plateia e mais poucas peças do instrumento e o show termina alucinante.

A Place to Bury Strangers - Foto: Ricardo A. Flávio

A banda é desconhecida do grande público mas faz uma apresentação de cair o queixo, mais um daqueles presentes inesquecíveis do Reverendo Massari, que, é sempre bom lembrar, contou com o apoio da produtora Maraty, capitaneada pelo outro grande jornalista musical André Barcinski e seu sócio Leandro Carbonato. Que noite, senhoras e senhores, que noite! Já ficamos imaginando, o que vem aí no próximo Massarifest?

Ricardo Cachorrão

Ricardo "Cachorrão", é o velho chato gente boa! Viciado em rock and roll em quase todas as vertentes, não gosta de rádio, nunca assistiu MTV, mas coleciona discos e revistas de rock desde criança. Tem horror a bandas cover, se emociona com aquele disco obscuro do Frank Zappa, se diverte num show do Iron Maiden, mas sente-se bem mesmo num buraco punk da periferia. Já escreveu para Rock Brigade, Kiss FM, Portal Rock Press, Revista Eletrônica do Conservatório Souza Lima e é parte do staff ROCKONBOARD desde o nascimento.

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