Em entrevista para a Rock On Board, Hugo abriu o coração sobre o processo de composição solo, as inspirações por trás das letras e o que espera que os fãs sintam ao ouvir suas novas músicas.
Acho que a maior novidade que a gente tem é o lançamento do seu álbum novo, que chegou no começo desse mês. Um álbum espetacular. Eu já escutei algumas vezes e gostei muito, e sei que está fazendo bastante sucesso por aí já. Você tem uma carreira bastante extensa, bastante versátil, e este álbum soa bastante pessoal e muito maduro. Quando você olha para esse trabalho, onde você enxerga que ele se encaixa dentro dessa sua trajetória musical?
Uma pergunta difícil, né? Eu acho que esse disco é fruto de tudo que eu já passei. A gente tem momentos de altos e baixos em qualquer trabalho na vida. E na música não é diferente. A música depende muito do mercado estar por uma hora para um lado, outra para outro. São muitas coisas legais que eu passei. Algumas frustrações, alguns problemas. E eu acho que esse álbum junta tudo isso. Nesse álbum eu consegui expressar tudo o que eu passei. Tudo que fez parte da minha carreira nesse tempo todo.
Que legal! O título dele também é bastante chamativo, né? “This Must Be Wrong”. Queria saber um pouquinho de como veio essa ideia, de onde veio, se tem algum significado.
Eu me pegava várias vezes aqui em casa pensando na pressão que a gente bota na gente mesmo de estar fazendo alguma coisa, de ser produtivo. Eu acho que o modo que a gente vive é muito cruel, de sempre estar fazendo alguma coisa. E a capa reflete isso, né? Tem uma pessoa só na praia ali, numa cadeira sentada, e várias pegadas, como se as pessoas estivessem saindo. Então é como se aquela pessoa que estivesse ali na praia estivesse errada. Foi mais ou menos isso que eu quis passar com o título e com a letra da música também. Eu sempre ficava pensando assim, sabe, com essa sensação, assim... E daí eu falei, pô, mas como assim? A gente não pode ter um tempo assim? A gente trabalha para caramba, faz tanta coisa, e a hora que você está ali tranquilo, você acha que você tem que está fazendo alguma coisa errada. Mas é o modo que o mundo gira, né? Então a gente acaba a vida inteira fazendo isso, sem nem perceber.
É uma boa reflexão, né? Porque a gente se sente errado, mas na verdade a gente não tá. A gente tá certo de estar ali.
Sim.
E como foi um pouquinho do processo de criação, de composição desse álbum? Foi algo mais individual seu? Teve colaborações que foram fundamentais para o desenvolvimento dele?
Não, na parte de composição eu fiz tudo sozinho. Qualquer ideia que eu tenho, eu gravo onde eu estiver. Se for fora, eu gravo no celular. E aí eu vou desenvolvendo a ideia, né? O meu pensamento nem era lançar outro disco, sabe? Quando eu lancei o The Last Dance, o anterior, eu falei, “putz, eu não sei se eu vou fazer mais alguma coisa”. Eu estava bem desanimado. Essa é a coisa dos altos e baixos, né? E não falo só altos e baixos no lance de sucesso ou não, mas seu altos e baixos, momentos difíceis e tal. E aí eu comecei a gravar. Eu sempre gravo, mesmo se eu não for usar depois. Quando eu fui ver, eu tinha, sei lá, 20 músicas, né? Então eu falei... Vamos lançar, né? E aí eu comecei a produzir para valer as que eu fui ouvindo, as que eu achava mais legais. Selecionei as mais legais e fui produzindo. As que eu achei boas, mesmo, eu acabei lançando no disco.
Nada como ser uma pessoa criativa, né?
É, mas eu acho que é uma terapia para mim, sabe? Eu acho que desde que eu comecei a tocar, sempre foi a coisa que eu mais gostei de fazer. Eu tinha 15 anos e tinha uma banda que tinha músicas próprias, tal. Então, assim, sempre foi a parte que me fez melhor, sabe? De pegar a guitarra e escrever alguma coisa. Então, fui adquirindo esse hábito durante a vida. É a coisa que eu sempre gostei mais de fazer, mais do que estudar técnica, essas coisas, era fazer música.
É, acho que isso é a fórmula do sucesso, né? Quando você faz algo que você gosta, que é terapêutico. O resto é consequência, né?
Na verdade, é um sucesso já por eu estar me sentindo bem de estar fazendo isso, né? Sem pensar muito, “ah, isso vai vender, isso não vai vender”. Mesmo porque, hoje em dia, o mercado que a gente tem nem sabe o que vai e o que não vai vender, né? Tanta informação que muita coisa fica perdida. Ou, de repente, uma coisa acontece. Então, é muito difícil de você fazer alguma projeção contra isso.
Sem dúvida… E você sempre foi uma pessoa muito ligada no metal e no rock, mas esse disco traz uma atmosfera bastante diferente, até mais experimental. Quais foram as suas principais influências para chegar nesse som e o que te fez buscar esses novos caminhos?
Ah, então, eu sempre gostei de ouvir coisas diferentes, né? Sempre, ao longo da vida, eu fui ouvindo coisas diferentes. E de uns 10 anos pra cá, eu trabalho com trilhas, né? Trilhas sonoras e tal. E é uma coisa que me fez expandir muita coisa, ouvir muitas coisas diferentes, me fizeram conhecer mais. Às vezes as pessoas pedem para você fazer uma trilha estilo X, Y, que você tem que ir naquele mundo ali e ver como é que as pessoas fazem aquilo de verdade, não superficialmente. Porque tem muito detalhe em cada estilo Por exemplo, para mim, a facilidade do metal e do rock é porque é uma coisa que eu sempre escutei, né? Já tá no meu DNA ali. E quando você vai fazer um outro estilo, não é um estilo que você está tão familiarizado. Se você for compor alguma coisa naquele estilo, você tem que ir lá para ver timbre, para ver o jeito que é feito. Não é só “Ah, é isso e acabou”. Então, isso é uma coisa que também te influencia, mesmo que inconscientemente, né? Porque você trabalha com tantas coisas diferentes que aquilo vai também entrando na sua mente ali e você vai criando. E esse trabalho solo que eu tenho é uma coisa que eu nunca pus nenhum obstáculo, “Ah, não posso fazer isso, não posso fazer aquilo”. É uma coisa que mistura tudo mesmo. E assim, sem muito filtro. Quando você tem uma banda de metal, tudo bem, você bota as suas influências lá, mas de uma forma que funcione com aquilo para não ficar uma coisa caricata também, né? Tipo, um remendo de coisas. Então, tem um limite até onde você pode botar as suas influências, né? Então, nesse trabalho solo, eu faço questão de que não tenha, assim, muito limite. Então, eu vou colocando. Se não soar uma coisa desconexa, para mim, eu acho que tudo é válido.
É, e acho que o fato de ser solo também, né? Porque quando você está numa banda, você tem os outros e tem que respeitar a opinião deles também.
Exatamente, né? Todos têm as suas opiniões. E aí você chega num consenso ali: “Ah, isso é legal, isso não é legal”. Solo, você só acha legal ou não.
É... E você trabalhou com vários projetos diferentes: teve o Shaman, trabalhou com o André Matos, agora tem o projeto solo… Você acha que essa trajetória, todas essas pessoas com quem você trabalhou, o André, por exemplo, que também era uma pessoa bastante versátil, que também passeava por vários gêneros, isso te inspirou de alguma forma nessa nossa fase? Como essas experiências aparecem nesse álbum novo?
Ah, com certeza, né? Todo mundo com quem a gente toca, com quem a gente trabalha, você acaba absorvendo algo, né? O André, principalmente, foi um cara que eu trabalhei por 20 anos, quase. O Luiz também, meu irmão, eu trabalhei muito tempo com ele, junto. E a gente convive sempre. Teve sempre uma conversa. Então, todos esses músicos com quem você trabalha, você acaba absorvendo alguma coisa de cada um. E bandas diferentes, né? Eu acho que é importante você sempre pegar a influência dessas pessoas. E, na maioria das vezes, todos os caras que tocam, assim, têm influências diferentes, que, às vezes, o público nem sabe, né? Tipo, o André era um fã do A-Ha, gostava do Abba, né? Quem que vai imaginar? O cara gostava de coisas diferentes. E a gente sempre conversava, trocava, tal, eu mostrava muita coisa para ele também. Então, assim, eu acho que todo músico, toda pessoa que você acaba trabalhando, você acaba sendo influenciado por ela de um jeito ou de outro. Vai te moldando, né?
Se você tivesse que apresentar o This Must Be Wrong pra alguém que nunca ouviu nada seu, que música você escolheria e por quê?
Nossa, essa é difícil. Putz! É que é engraçado, né? Para cada pessoa, eu acho que eu mostraria uma música, assim, para cada pessoa de uma vertente. Por exemplo, eu falo do heavy metal, que é o estilo em que eu fui mais conhecido por grande parte do público que gosta do meu trabalho. E eu acho que, para o público do metal, a Heaven ou a Out of Time, teriam uma rejeição menor. Eu não sei porquê, eu não sei te dizer isso, mas eu percebi isso, né? Mas, assim, eu acho que a música This Must Be Wrong, é uma música que representa bastante para mim o disco em todo, porque mesmo a letra dela, todo esse conceito em volta disso, pode servir para outras músicas também, né? Então, eu acho que ela é uma música que eu mostraria para a maioria. Mas para o público mais metal, talvez eu mostraria a Out of Time.
É, todas são muito boas! Para quem vai ouvir esse álbum pela primeira vez, o que você gostaria que essa pessoa sentisse ou percebesse ao final da audição?
Ah, eu acho que tem muitas letras ali que dá para fazer bastante reflexão. E eu gostaria que as pessoas ouvissem sem um preconceito, sabe? Tipo, eu acho que muita pessoa torce o nariz porque geralmente vem meio rotulado, né? Eu até estava falando, o meu trabalho solo, as pessoas na época achavam que era parecido com Oasis por causa do meu corte de cabelo. E, assim, por mais que eu goste, tem muitas outras influências maiores até que do Oasis nas músicas, nos discos. Mas, eu acho que quem gosta e quem ouve inteiro, o que eu gostaria que as pessoas sentissem é o que cada música realmente remete. Tem músicas que remetem a uma coisa mais alegre, tem outras que são coisas bem mais reflexivas, mais tristes, né? Então, eu acho que, assim, a coisa mais legal é as pessoas se acharem com alguma dessas músicas, sabe? Significar alguma coisa para elas. Eu recebo muita mensagem disso, “ah, essa música significa muito para mim porque a letra me fez pensar tal coisa, tal coisa”, e isso eu acho que para gente que é músico é a coisa mais importante, a pessoa sentir alguma coisa com a sua música. Seja uma coisa que ela faça ela pensar de algum jeito, uma coisa mais feliz, ou até uma coisa mais nostálgica, que ela sinta alguma tristeza, mas que com essa tristeza ela consiga pensar e mudar esse tipo de coisa. E assim também, tem letras que eu falo de alguns assuntos pessoais, para as pessoas saberem que todo mundo passa por algumas coisas difíceis mesmo. Tenho algumas questões na vida que não foram fáceis, tal. Porque muitas vezes as pessoas enxergam como se tudo sempre fosse bem, como se está tudo bem mas, na verdade, só a gente sabe.
É, lógico, e até entender que todo mundo passa por isso, né? Independente de quem seja.
É, eu sempre faço questão de falar isso. Até o segundo single que saiu, Out of Time, é uma música que fala sobre depressão, uma coisa que eu trato até hoje, ainda bem que com o tratamento você não se sente mais nada, está tudo certo, mas é uma coisa que me assombrou por vários anos. E quero que as pessoas saibam que você pode procurar ajuda e que a gente também passa por coisas assim. Eu vejo, assim, jogador de futebol, às vezes o cara tem depressão e as pessoas, “ah, o cara ganha milhões por mês”, não tem nada a ver, né? A gente sabe que não é isso que vai determinar se você vai ter ou não, então, eu acho que é um assunto que é muito importante, que ainda é um tabu. Diminuiu, hoje em dia a gente fala mais sobre isso, mas continua sendo, para muita gente, um tabu.
E acho que escutando esse álbum dá para sentir isso, é um álbum bastante relacionável, você consegue se encaixar em várias músicas aí.
É, eu acho que é por isso, né, porque é muita coisa pessoal que é uma coisa comum em todo mundo, né.
Sem dúvida! E uma curiosidade: se você pudesse montar uma banda dos sonhos, com músicos de qualquer lugar, de qualquer época, quem você colocaria com você?
Putz, essa é difícil, essa é a mais difícil de tudo. Vai, eu vou botar as pessoas que vêm na minha cabeça. Vou colocar Paul McCartney no baixo, acho que pode ajudar bastante. Eu gosto muito do baterista, o filho do Ringo Starr, o Zack Starr, que tocou no The Who um tempão, eu acho muito bom também, poderia ser ele. O que mais? Falta um guitarrista, né. Ai, difícil. Para cantar pode ser o John Lennon também. Na verdade, se eu botasse os Beatles, seria ótimo. Resolvido haha.
Resolvido a questão, né? Hahaha
Mas é isso, tem tanta gente que eu gosto, que é até difícil de pensar assim. Sei lá, na outra guitarra, faltou uma guitarra, bom, eu tocaria guitarra, então tá bom, pode ser assim, tá ótimo.
Bela banda! E quais os próximos passos depois desse lançamento? Tem shows, novos projetos?
Eu fiz um show de lançamento agora no SESC São Paulo, dia 13. E agora eu vou marcar mais alguns shows, né, para divulgar o álbum também. É o que eu vou focar bastante. Eu acho que esse disco merece uma divulgação maior que os outros, porque os outros eu tava investindo em outras coisas ao mesmo tempo e acabei me perdendo aí. E esse disco eu quero divulgar bastante, eu acho que é um disco que tem potencial e que as pessoas podem gostar.
Com certeza! Hugo, eu te desejo todo sucesso nessa nova etapa. Novamente, parabéns pelo álbum, está sensacional. Espero poder presenciar algum desses shows e dessa parte dessa nova. Foi um prazer gigante estar aqui com você hoje. Muito obrigada pelo seu tempo!