Wet Leg
moisturizer
⭐⭐⭐⭐✩ 4/5
Por Lucas Scaliza
Se você acha que gritar é a melhor forma de fazer uma música parecer ameaçadora, pense de novo. Músicas como "pillow talk" e "catch these fists" demonstram como balbuciar, narrar e falar baixinho soa como uma ameaça, prometida ao pé do ouvido. Com seus hotpants e atitude combativa, é assim que a Rhian Teasdale, vocalista do Wet Leg, promete ferrar com sua vida se você insistir no deslize, cara!
O quinteto da Ilha de Wight, no Reino Unido, veio conquistando o mundo indie e do rock alternativo desde 2022 quando lançaram seu primeiro disco. Com as introvertidas amigas Teasdale (muito expressiva) e Hester Chambers (guitarra, quase sempre tocando de costas) à frente, conquistaram admiração por sua música direta, simples, engraçada de um jeito que desarma o ouvinte, mas com muito coração. Tocaram no The Town [saiba como foi AQUI]. Abriram para Harry Styles. A graça e a gracinha de "Chaise Longue" (what?) viralizou. Ganharam o Big G(rammy). E chegaram ao segundo álbum superando o primeiro.
Pé no chão, moisturizer não soa como se a Wet Leg tivesse que competir com toda a música pop do mundo. Não se jogaram nos braços de grandes produtores escandinavos e acharam que seria uma boa ideia criar baladas épicas com arranjos de orquestra e entupir o disco de convidados. Em vez disso, apostaram na personalidade: é indie rock simples e direto, com humor (corrosivo muitas vezes), um coração sincero e aquela ironia afiada. Uma mão no punk, outra na balada, um pé no noise sempre que possível. Tudo isso contribui para moisturizer ainda resguardar o ponto de vista único que faz Wet Leg se destacar nessa década.
O primeiro disco caiu nas graças do público mais por causa de suas criadoras do que por ser um álbum incrível (embora seja bom, sim). Dessa vez, é nítido nos aspectos musicais e extrassonoros como a consciência do grupo evoluiu. Tudo tem muito mais intenção nesse segundo trabalho. Elas sabem o que tocar e o que dizer e o quanto variar e não virar uma banda de uma nota só. Tem diversão e tem a tensão de um ponto de vista muito feminino, mas tem muitas músicas de amor e de feel good (como "pokemon") - e há muita coisa entre todos esses pontos também (como "jennifer's body").
moisturizer é uma produção mais calculada. Riffs sujos e repetitivos convivem no repertório com música muito mais melodiosas. Não tem "saiu assim". Se querem ser perigosas e dissonantes, serão. Se querem ser apaixonantes, sabem como fazer isso também. Dessa vez, todos os cinco integrantes da banda puderam contribuir no processo de composição e o produtor Ben Carey foi inteligente o bastante para entender o que tinha no estúdio e produzir, não superproduzir.
Prova do quanto Wet Leg planejou e executou com consistência o projeto é a parte visual. Da capa de moisturizer aos clipes, passando pelos clipes divulgados antes do lançamento, a banda mantém a mesma linguagem visual e corporal. Uma consistência de ponta a ponta que faria David Bowie acenar com a cabeça.
Com seu som despretensioso, versos deliciosamente subversivos e a personalidade contrastante de Rhian Teasdale e Hester Chambers, o Wet Leg é o exemplo da banda indie que é a cara de uma geração. Se você não conhece e quer sentir o gosto desse grupo, os recentes Tiny Desk Concert e 3voor12 valem a pena. É possível ver um pouco da criatividade, do punch e do quanto se preocupam para que tudo seja bem tocado. De resto, moisturizer vai levar o quinteto ainda mais longe, furando ainda mais a bolha geracional.