Foto: Ricardo A. Flávio |
Domingo
de dia das mães, um frio cabuloso, garoa e horário de matinê, com a casa
abrindo as portas às 14h00, este é o cenário para o anunciado “último show do THE EXPLOITED no Brasil”,
na celebrada “The Final Tour 2025”, que passou por Chile, Argentina, Uruguai,
Curitiba, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, antes de desembarcar aqui em São
Paulo, como parte da segunda edição do “Upfront Festival”, com realização da Agência Sobcontrole. Uma agenda pesada
para um senhor de 68 anos, saúde debilitada e uma vida de excessos, mas falarei
disso adiante.
O
festival teve uma baixa antes de começar, a anunciada banda estadunidense FANG não aparece na escala dos shows de
hoje, sem maiores explicações da produção, uma pena, pois é um show muito bom,
como já visto por nós anteriormente. Mas vamos falar de quem veio e fez bonito.
15h00 e
a PUNHO DE MAHIN estava no palco
dando seu recado de protesto antirracista e de ancestralidade, duas talentosas
meninas, Natália no vocal e Camila na guitarra, bem acompanhadas de dois
rapazes, Paulo na bateria e Dú no contrabaixo. Uma banda preta que merece muita
atenção, estão crescendo, galgando espaços com um discurso honesto e
importante. Infelizmente, foi prejudicada pela má equalização do som na mesa, a
guitarra estava muito baixa, ao passo que o contrabaixo estava “estourando”,
mas, o público, que ainda era pequeno, não se importou e agitou muito com o
som. No final o som melhorou um pouco, Natália assumiu a percussão e a banda
saiu muito aplaudida por todos os presentes.
Na
sequência a banda paulista URUTU chegou
pesada com seu metal punk cheio de energia. Também foi prejudicada pelo som no
começo, mas depois da terceira música tudo correu bem. Não demorou para o ESCALPO ter sua hora e impressionar os
presentes, que nesta altura já lotavam a casa. A rapaziada do interior de São
Paulo e com experiência internacional mandou um som extremamente pesado e muito
bem executado! Empolgou bastante!
Com a já
mencionada ausência do FANG, a próxima banda é a britânica THE CHISEL, na ativa desde 2020, que trouxe na bagagem o bom álbum “What a F*cking Nightmare”. Uma
apresentação carregada de energia, com excelente presença de palco,
principalmente do vocalista Callum Graham,
que pulou durante todo o show e agradou a todos, um punk rock básico e sem
frescuras, como tem que ser.
Já tem certo
tempo que o RATOS DE PORÃO é uma das
principais bandas do rock brasileiro, com uma carreira internacional bem estabelecida,
discos poderosos e sem abrir concessões a ninguém, João Gordo, Jão, Juninho e Boka, fazem um balanço de sua longa carreira, trazendo no
repertório faixas que vem desde “Crucificados
Pelo Sistema”, de 1984, até “Necropolítica”,
o excelente álbum de 2022. Rodas de pogo insanas e o público que canta
absolutamente tudo o que a banda manda do palco, apresentação para lavar a
alma.
Ao
contrário de todas as bandas anteriores, desta vez as cortinas não se fecham e THE EXPLOITED ajusta o palco sob os
olhares da plateia. Muita apreensão no ar, o emblemático vocalista Wattie Buchan vem? Vamos lembrar que na
atual turnê, Wattie, que carrega sérios problemas de saúde há anos, não
conseguiu se apresentar em Belo Horizonte, e na noite anterior, no Rio de
Janeiro, passou mal no palco, chegando a vomitar no começo do show, precisou
sair do palco, mas depois conseguiu terminar a apresentação. E a decepção veio:
junto com a banda, uma moça da produção sobe ao palco “com a notícia que não gostaríamos de dar, Wattie não cantará para vocês
hoje, ele passou mal no Rio de Janeiro, está em São Paulo, com pneumonia e foi
aconselhado pelos médicos a ficar em repouso, ele gravou um vídeo para vocês...
o show irá com continuar, com a ajuda do Callum, do The Chisel e o João, dos
Ratos de Porão”.
Um banho
de água gelada para quem nunca viu The Exploited e a presença marcante e
essencial de Wattie Buchan, mas, até que esperado por quem acompanha a banda e
sabe do histórico nada saudável do vocalista, que chegou a ter um ataque
cardíaco no palco, em Lisboa, no ano de 2014 e sempre passa por problemas em
todas as turnês da banda, são muitos anos de excessos, e Wattie não é mais um
garoto, completará 69 anos em julho, assim esperamos.
Com o
baixista Irish Rob à frente, o membro
mais antigo da banda depois de Wattie, desde 1996 no cargo, logo após o vídeo
no telão com Wattie explicando não estar bem, a banda foi entregando seu
repertório, com excelente recepção da plateia, que não deixou a peteca cair e
foi ao êxtase em rodas de pogo insanas e o stage
diving ocorrendo sem parar, primeiro com Callum Graham nos vocais, que se
diz honrado em poder ajudar a banda, pois The Exploited é uma de suas maiores
influências, Irish Rob também canta e no fim da apresentação, João Gordo sobe
ao palco, um tanto sem graça ao dizer que “eu
não queria cantar para vocês, esse lugar é do Wattie, vamos torcer para ele
ficar bom logo”. “Dogs of War”, “Fuck USA” e “Punks Not Dead” são insanas
na voz do Gordo e, como de praxe nos shows do The Exploited, em “Sex and
Violence” o palco é tomado pela plateia, como se Wattie estivesse ali.
Sim, foi
uma grande decepção! The Exploited sem Wattie Buchan tem o mesmo peso de um
Queen sem Freddie Mercury, um Legião Urbana sem Renato Russo ou um Nirvana sem
Kurt Cobain, por exemplo, mas, foi digno. Os membros presentes se entregaram para fazer o
melhor, e os convidados idem. Para quem, como eu, teve a oportunidade de ver
apresentações antigas da banda com o moicano mais importante do punk rock
mundial, fica o alívio de ter visto e feito parte da história, quem deixou para
a última hora, é uma pena. Ficamos na torcida para que Wattie Buchan se cuide,
se recupere e mantenha-se vivo, que é o mais importante! Se a carreira vai
continuar ou não, não importa mais, o nome dele já está escrito de maneira
gloriosa na história do rock.
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The Exploited