Rodrigo Lima do Dead Fish: "Depois dos quarenta, eu consigo digerir melhor a minha raiva"

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
Com mais de três décadas de estrada, o Dead Fish comprovou no Lollapalooza Brasil que é ainda uma das melhores bandas de palco do rock nacional. No entanto, a banda tocou para um público bem diferente do que de costume. Ao invés da galera dos moshs e stage dives, a audiência era em sua maioria, fãs da cantora teen pop, Olivia Rodrigo.

"É sempre desafiador. Eu gosto desses desafios. As menininhas e os garotinhos foram muito legais com a gente (risos). Acho que a molecada mais ou menos entendeu o que é a estética", disse Rodrigo Lima ao Rock On Board, no backstage do Lolla, logo após a apresentação. 

Única banda de hardcore do dia, Rodrigo ressaltou a importância de reservar um espaço para esse estilo, ainda mais num festival tão diversificado e global, que é o Lolla.

"Acho importante, porque a nossa estética tem trinta e tantos anos, mas tem renovação né? Tem muita banda boa rolando. Então assim, a gente tocar, sem querer falar em nome de um sindicato, e em nome da nossa galera. Mas é importante que a gente esteja ocupando esse espaço, para que outros e outras venham", explica.

Ano passado, o Dead Fish lançou Labirinto da Memória, que serviu para comprovar uma surpreendente consistência de ótimos lançamentos - que começou em Vitória (2015) e passou pelo petardo Ponto Cego (eleito o melhor disco nacional de 2019, por jornalistas e críticos de rock no site Rock On Board). Além disso, a banda que sempre se notabilizou por letras afiadas, continua mostrando que se faz necessária nos dias atuais. Rodrigo explica o momento atual da banda e o que tem inspirado os novos trabalhos.

"Labirinto da Memória fala muito sobre mim. Fala muito como eu cresci. Fala sobre Vitória, essa coisa de memória. E esse disco foi muito inspirado num livro chamado 'Realismo Capitalista', de um filósofo chamado Mark Fisher e de um álbum do Don L, 'Roteiro Para Aïnouz'. Eu acho que depois dos quarenta e tantos, eu consigo digerir melhor a minha raiva", disse.
 
Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
Mesmo que de uma forma mais lapidada em seu discurso, Rodrigo Lima e o Dead Fish oferecem um cardápio hardcore vigoroso, combatendo a passividade, e distribuindo dedos em feridas abertas na sociedade contemporânea. E isso fica cada vez mais apropriado em seus álbuns mais recentes. O vocalista explica, que o amadurecimento ajudou a banda a untar as ideias e sonoridades de uma forma diferente nesses últimos trabalhos.

"Não que eu ache os primeiros álbuns ruins. Por exemplo, eu gosto muito de um álbum chamado "Sonho Médio", que eu acho que tem uma coisa importante ali. Mas é isso. Acho que a gente envelhecer, a gente consegue misturar os elementos" 

Mas o grupo não se resume apenas às letras afiados de Rodrigo. Sonoramente, o Dead Fish também vive uma das melhores fases da carreira, com guitarras sensacionais e uma cozinha sonora que garante o jogo. Quando a gente escuta músicas como "Interrupção", fica evidente a força do instrumental, principalmente com as guitarras lá na frente. Mas nada disso é pré-determinado, garante Rodrigo Lima. De acordo com ele, as músicas surgem naturalmente, e isso é possível pela qualidade dos músicos.

"A gente não costuma fazer nada para agradar as massas. Não, a gente faz porque a gente está nesse momento. Então a coisa sai com muita naturalidade. E essa banda também né? Talvez eu seja o mais amador de todos".

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
No final, para descontrair, perguntamos ao vocalista, como ele ainda consegue manter toda essa energia e dar esses pulos no palco - como este registrado abaixo, pela nossa fotógrafa, Adriana Vieira. 

"Mas hoje eu dei uma hiperventilada (risos). Foram 55 minutos! Eu fico muito feliz que ainda eu consigo, com 52 anos. Mas hoje, naquela temperatura, eu hiperventilei algumas vezes (risos). Mas deu. Rolou!", brincou.

Este ano, o grupo segue em turnê comemorando 34 anos de estrada e está no line up de alguns festivais importantes como o I Wanna Be Tour (Curitiba e São Paulo) e o Porão do Rock, em Brasília.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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