Gilberto Gil faz show de lavar a alma em Allianz Parque lotado

Foto: Carol Goldenberg / Rock On Board
 
Nesta sexta-feira (25), São Paulo recebeu aquele abraço de Gilberto Gil. Perto das 21h, após um atraso de 40 minutos e com um público já eufórico e ansioso, o tempo parou e o rei subiu ao palco do Allianz Parque para incendiar o local com sua penúltima despedida aos fãs paulistanos. 

O espetáculo foi uma grande festa e celebração de peso dos 80 anos de vida e história de Gilberto Gil e suas mais de seis décadas de carreira. O repertório cuidadosamente escolhido faz um passeio por diversas fases da trajetória de Gil, da Tropicália aos hinos da MPB, do reggae à canção de protesto, do xote até o rock. Cada música se torna, no palco, um ponto de interseção entre memória e presente.

Mas o que torna essa turnê singular não é apenas a música em si, mas a configuração afetiva que a sustenta: Gil divide o palco com filhos e netos, formando uma espécie de “banda familiar”. A química entre eles é visível e contagiante. Não é à toa que o público sai com a sensação de ter presenciado algo que vai além da música: é como se estivéssemos acompanhando um encontro de gerações que se respeitam, se admiram e se divertem juntas. Isso dá ao show uma leveza rara, uma espontaneidade que foge dos roteiros rígidos de grandes turnês.

Foto: Carol Goldenberg / Rock On Board

Visualmente, o show também apostou na leveza: o cenário é acolhedor, com luzes quentes e coloridas, imagens da história do artista e uma atmosfera quase doméstica. Não há grandes pirotecnias, exceto chuva de papel no encerramento do show; a grandiosidade vem do repertório e da presença cênica de Gil, que mesmo com a idade avançada, canta com clareza e entrega uma serenidade poderosa, quase mística.

A apresentação começou com um show de fogos, seguida de "Palco", que já levou os fãs à loucura e colocou todos para cantar e dançar. Em seguida, foi a vez da clássica "Tempo Rei", que dá nome à turnê e funciona quase como um manifesto de serenidade diante da passagem do tempo. A partir daí, é uma sucessão de hits que fazem parte do imaginário coletivo brasileiro. Não faltaram músicas como "Domingo no parque", "Refavela", "A Novidade", "Expresso 2222", "Esperando na Janela" e "Toda Menina Baiana".

Mas, alguns momentos merecem destaque especial. O primeiro deles foi "Eu Só Quero Um Xodó", que já não fosse um hino, ainda foi a primeira grande ênfase à maestria de Mestrinho, icônico acordeonista, que está acompanhando Gil nesta turnê. Seu solo de acordeão deu uma pitada extra de sabor e emoção à canção e sua presença no restante do show realçou ainda mais as músicas já maravilhosas de Gil.

Falando em realçar, “Realce” foi outro momento marcante da noite. Durante toda esta turnê, Gil vem trazendo convidados especiais para acompanhá-lo, seja cantando uma de suas músicas, ou apresentando alguma música própria, e, nesta sexta, foi a vez de receber Liniker, que fez com ele um dueto primoroso nesta canção.

Foto: Carol Goldenberg / Rock On Board

"Cálice" também deixou sua marca nos presentes. Introduzida com um vídeo de Chico Buarque contando sobre a criação dessa música, o momento da ditadura e a censura sofrida pelos músicos, e acompanhado de gritos uníssonos de “Sem Anistia”, Gil e sua banda a interpretaram de forma a arrepiar todos os presentes.

Outro destaque foi para "Andar com Fé", que virou um momento quase litúrgico com a plateia cantando em uníssono, além de ter contato com a presença de mais uma de suas filhas, a Bela Gil, que subiu ao palco para dançar com o pai.

Gil também abriu espaço para momentos mais tranquilos, com "Drão", "Estrela" e "Exotérico", e para faixas mais espirituais e filosóficas, como "Se Eu Quiser Falar com Deus", além de surpresas menos óbvias do repertório, que mostram como sua obra é vasta e multifacetada. O músico estava visivelmente feliz e emocionado, esbanjando sorrisos. Aos gritos fervorosos de “Gil, eu te amo”, ele respondia “Eu também te amo”.

Não se pode deixar de mencionar também "Aquele Abraço", que mesmo depois de tantas décadas ainda carrega uma carga política e emocional potente.

Para fechar com tom de nostalgia, a noite foi encerrada com a despedida da banda ao som de "Sítio do Pica Pau Amarelo". No fim, esta noite foi um presente para quem acompanha a trajetória de Gil, mas também uma porta de entrada perfeita para quem está chegando agora. Um show que te faz sair leve, com a alma lavada e a certeza de que a música brasileira continua viva, pulsando com força no compasso de Gilberto Gil.

Carol Goldenberg

Advogada de formação, amante incondicional da música desde terna idade. Frequentadora assídua de shows e festivais, sempre presente nas plateias dos mais variados gêneros. Guitarrista, roadie e guitar tech. Recentemente, decidiu seguir seu coração, ingressando no mundo da produção de eventos.

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