The Offspring ativa modo 'start' na plateia e provoca catarse no Rio

Foto: Lucas Tavares
 
O The Offspring tem uma relação muito forte com o Brasil, tanto que eles fizeram questão de registrar isso no mais recente disco, Supercharged, que traz a inclusão de uma faixa que homenageia os fãs brasileiros. Sendo assim, seria impossível imaginar que a nova turnê não teria parada obrigatória no maior país da América Latina. E essa turnê chega aqui numa espécie de minifestival, com outras cinco bandas convidadas (Amyl And The Sniffers, Sublime, The Warning, The Damned e Rise Against). Mas no Rio, apenas Sublime e Rise Against acompanharam o Offspring nessa ponte aérea. 

Mesmo com alguns fãs fazendo fila na entrada da Farmasi Arena quase duas horas antes da abertura dos portões, o local só ficou realmente cheio minutos antes da atração principal se apresentar. O trânsito da cidade, somado ao horário - mais cedo que o de costume para shows na região -, contribuíram para o show flopado do Rise Against. E embora já tivéssemos um público razoável no Sublime, o ambiente de show demorou a se instalar no local. E a prova disso, é que e nem o superhit "Santeria" conseguiu fazer a coisa pegar no tranco.

Pegando como referência a introdução do show, que veio na exibição de "The Kids Aren't Alright", versão 8-bit, nos telões, o Offspring também ativou o modo "start" na plateia, quando Dexter Holland soltou o seu famoso "Yeah-yeah-yeah-yeah", da desenfreada e indispensável, "All I Want". A partir daí, o jogo mudou e a atmosfera ficou completamente diferente. A arena quase gélida dos shows anteriores, tinha se transformado num verdadeiro coliseu do rock. Em dois tempos, a pista estava lotada, com rodas de pogo abrindo próximas à grade e copos de cerveja voando de lado a lado. 

Justificando todas as expectativas possíveis, o grupo capitaneado pela dupla Dexter Holland e Noodles, os únicos remanescentes da fase áurea, trataram de se garantir num repertório repleto de hits, mas que trouxe também todos os ingredientes básicos para um grande show. Teve vibração, nostalgia, novidade, produção caprichosa nos efeitos e uma banda afiadíssima no palco. 

No início, o som parecia meio embolado e a voz de Dexter estava praticamente mutada nas três primeiras canções, mas a energia do público compensava qualquer "buraco" técnico. Após "All I Want" causar uma revolução em massa, a banda atacou logo com um de seus maiores hinos: "Come Out And Play" - com a voz de Dexter totalmente abafada pelo público, que cantava - ou urrava - em tom libertador. Para garantir ainda mais o que já estava ganho, o Offspring decidiu apostar alto e jogou mais dois sucessos radiofônicos na mesa ("Want You Bad" e "Staring At the Sun"). 

Um combo de quatro hits em sequência, foi a deixa perfeita para apresentar duas canções do novo disco. A primeira foi "Truth in Fiction", punk padrão de dois minutos, e que foi tocada pela primeira vez na turnê. Em seguida veio "Come To Brazil", que não pegou da maneira que muitos esperavam. Com várias citações ao nosso país no telão (imagens de caipirinhas, bandeirolas verde e amarelo e outros clichês para turista ver), ela soou embolada nos PA's, e não teve uma grande resposta da plateia, pelo menos de forma proporcional ao marketing recebido. Ao contrário de "Make It All Right", canção típica dos grandes sucessos do grupo, e que é certamente a melhor dos novos singles.

Um show do Offspring é também uma ode à evolução do tempo, principalmente quando falamos da relevância do rock no mainstream. Quem acha que a banda ficou presa apenas em Smash e Americana, está enganado. Tem muita coisa nostálgica dos anos 00. É só ver a reação do público em "Original Prankster", do bom Conspiracy Of One, e "Hit That", de Splinter, canções de álbuns que já ultrapassam duas décadas e que estão na lista dos superhits do grupo. E isso prova, que por mais que a banda tenha mudado suas formações, eles nunca perderam a mão no sentido criativo.

Fugindo um pouco do modelo lapidado e reservado aos fãs de ocasião, surgiu "Bad Rabbit". Muita gente foi ao delírio na Farmasi Arena quando Todd Morse puxou essa introdução de baixo, que é certamente uma das mais icônicas do rock noventista. Fora da categoria de chicletes comerciais, essa canção é uma joia escondida de Smash, e representa também, a resistência daquele espírito juvenil e independente do grupo, quando ainda eram apenas uma aposta da Epitaph, selo gerenciado por Brett Gurewittz, do Bad Religion. Esse recorte para uma época mais suja da banda, apareceu também quando Brandon Pretzborn puxou a batida levanta-defunto de "Gotta Get Away". Foi legal ver rodas começando a se formar, fazendo uma alusão inconsciente ao seu sensacional vídeo clipe, que mostrava a tensão dos moshs nos shows da banda [não lembra? assista agora no Youtube!]. 

Houve também um momento de auditório, à lá Foo Fighters, com muita conversa e citações aos clássicos do rock, como Deep Purple, Black Sabbath, AC/DC, e é claro, aos Ramones, na mais que batida "Blitzkrieg Bop", uma das canções mais coverizadas por bandas iniciantes na face da Terra (até quando?).

Agora, outro ponto que merece destaque, é a renovação dos fãs, que segue à toda. Impressionante ver a quantidade de gerações diferentes no show. Crianças e pré-adolescentes se misturavam aos cabelos grisalhos nos momentos de maior euforia. Principalmente na exaltação da trinca máxima de Americana [já podemos chamar de álbum clássico do rock?]. Teve clima de festa em "Why Don't You Get a Job?", com balões infláveis de piscinas; teve clima de diversão em "Pretty Fly (for a White Guy)"; e teve emoção coletiva em "The Kids Aren't Alright", carregada essencialmente pelos coros de "Oh-Oh" e pela guitarra "cantada" de Noodles, um dos mais criativos da história, quando o assunto é riff melódico.

Na volta para o bis, a dobradinha de sempre: "You're Gonna Go Far, Kid" e o canto de arquibancada no maior hino alternativo da banda: "Self Steen", que deu números de aclamação coletiva, e deixou a arena em êxtase absoluto. Assim como num game, o The Offspring zerou o jogo mais uma vez!

Assista abaixo a nossa cobertura em vídeo
 

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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