Novo álbum de Sam Fender mostra lado emotivo em canções para grandes arenas

Sam Fender

People Watching
⭐⭐✩ 4/5
Por  Bruno Eduardo 
 
Peço permissão aos leitores para escrever em primeira pessoa, pois preciso fazer uma confissão. Fui influenciado a escrever esse review sobre People Watching, o mais novo trabalho de Sam Fender, após me deparar com a chamada da resenha de Carlos Eduardo Lima, o CEL, para este disco"O novo Bruce Springsteen existe e é inglês", dizia a manchete no Célula Pop. Evidente, que foi o título - sagaz como o próprio CEL - e a minha adoração pelo Boss, que me fizeram querer parar tudo o que estava fazendo, para ouvir o novo álbum deste músico britânico. 

Inclusive, vale lembrar, que a última vez que falei publicamente sobre Bruce Springsteen foi ao lado do próprio CEL e de Marcos Bragatto, na bancada do "O Papo é Pop", onde juntos, analisamos o imperdível Letter To You [assista AQUI]. Sendo assim, posso dizer, que o colega que elegeu Sam Fender ao posto de novo Springsteen, não só fala com propriedade, como está alinhado a este que vos escreve, quando o assunto é a proposta artística do Boss. Além disso, a resenha de CEL, historiador, professor, e progressista de carteirinha, consegue abordar os caminhos literários da obra Springsteeniana de uma maneira muito mais extensa, biográfica e didática, que eu.

Pois bem. As semelhanças com o Boss começam na ideologia social de Fender. Algumas letras são baseadas num olhar crítico social, cantando muitas vezes em apoio às lutas da classe trabalhadora. Musicalmente, essa influência de Springsteen aparece em quase todo o disco - mesmo que de uma maneira ramificada. "People Watching", que abre o álbum, é um grande exemplo disso. Essa faixa poderia ser confundida com alguma canção do The Killers, fase inicial (até Day & Age) - algo que faz total sentido, já que Brandon Flowers e sua turma sempre tiveram o Boss, como o seu santo graal artístico. A faixa-título, inclusive, é uma das melhores, e já possui quase 30 milhões de streams no Spotify.
 
 
No entanto, seria injusto e raso de nossa parte, relegar esse álbum apenas às influências de um artista em grande ascensão. Mesmo porque, o cara anda colecionando discos de platina e convites para grandes arenas no mundo inteiro, e isso, por si só, já é algo digno de colocá-lo numa prateleira separada. Sam Fender comprova em People Watching, a sua enorme capacidade para compor canções cativantes, fáceis de se afeiçoar e repletas de melodias incrivelmente ricas. A segunda canção do álbum, "Nostalgia's Lie", é de uma sensibilidade lírica extrema, que faz até aquele coração já petrificado pelas dores da vida, rachar. O sujeito parece cantar um diário aberto de como se sentiu - ou se sente - ao se confrontar com uma realidade que ele não conhecia - a nostalgia mente, e essa dura constatação é como um soco no estômago dos mais maduros ou experientes. Já "Chin Up" surpreende pela ótima desenvoltura vocal de Fender, numa canção cativante e cheia orquestrações. 

Há também um lado folk aqui e acolá, como em "Wild Long Lie" ou "Rein Me In", com maior destaque nas levadas e na ambiência mais introspectiva. Outra que poderia ir para esse lado, mas acaba seguindo o caminho do country rock, é "Arm's Lenght", onde a voz de Sam Fender remete aos momentos mais emotivos, do já citado, Brandon Flowers. O rapaz realmente tem uma voz afiada, e isso pode ser comprovado em quase todas as canções de People Watching. A interpretação dele, cheia de nuances melódicas em "Little Bit Closer", que pode ser considerada uma das mais grandiosas do disco, surpreende pela versatilidade. E ele ainda vai além em "TV Dinner", abusando de suas cordas vocais ao questionar os direitos iguais para as classes trabalhadoras, que estão numa realidade diferente das celebridades, por exemplo.
 
 
O álbum termina com "Remember My Name", canção à lá Freddie Mercury, onde Fender é amparado apenas pelas orquestrações e naipes de metal. Essa faixa deve funcionar perfeitamente em arenas lotadas, principalmente pelo seu apelo melodramático. Podemos até dizer que ela é uma quase canção hino. Mas também podemos dizer que ela é particular ao extremo, já que faz uma homenagem ao seu falecido avô. E isso é a marca desse disco. Pois embora People Watching seja um álbum totalmente encaixado aos caixotes para grandes multidões, ele também traz uma expressão muito íntima do artista, que aponta o dedo para temas distantes do protegido habitat das grandes celebridades, alimentadas hoje em dia pelo mundo fantasioso das redes sociais. Em suma, é um disco necessário, de um artista novo, indicado para todas as gerações e classes sociais. Ouça o quanto antes.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

2 Comentários

  1. SHOW, acompanho ele desde o primeiro disco, como fã do boss, reconheço nele esse'legado' , fiz algumas postagens dele no blog desde 2021 mais ou menos, adoro Sam! muito boa sua resenha e do CEL

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  2. BOM FUI EU que comentei Rrs.. tava anônimo antes...

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