Living Colour: não morra sem vê-los ao vivo!

Foto: Ricardo A. Flávio

Tenho um caso de amor antigo com o LIVING COLOUR, que me faz voltar a 1988, quando, apadrinhados por Mick Jagger, assinam contrato com a Epic Records, lançam o primeiro álbum, o magistral “Vivid” e o hit “Glamour Boys”, produzido pro Jagger, toma de assalto as rádios brasileiras. Logo após isso, em 1989, são convidados a ser, juntamente com o Guns’N’Roses, uma das bandas de abertura da turnê do disco “Steel Wheels”, dos Rolling Stones, a “Urban Jungle Tour”. Falo de tempos pré-MTV no país e quando imagens de bandas ao vivo eram bem raras, mas, eram os Rolling Stones em turnê depois de alguns anos em silêncio e, milagrosamente, os shows foram transmitidos ao vivo pela TV Bandeirantes, incluindo, os shows de abertura. E que avassalador foi ver a banda formada por Corey Glover, vocais, Vernon Reid, guitarra, Muzz Skilings, baixo (substituído pouco tempo depois por Doug Wimbish) e William Calhoum, na bateria.

Pouco tempo depois, e com um segundo álbum fantástico na bagagem, o primoroso “Time’s Up”, a banda chega pela primeira vez ao Brasil e é um dos headlinners do festival Hollywood Rock de 1992, onde dividiram duas noites com Lulu Santos e EMF, na Praça da Apoteose e no Estádio do Pacaembu, quando pude estar de frente para eles e me impressionar ainda mais com o poder de fogo da banda. Depois disso estive em inúmeros outros shows da banda e uma coisa tem de ser dita: se você gosta de ROCK, você PRECISA assistir essa banda antes de morrer, e isso não é um exagero, é sinceridade pura.

Apesar dos 40 anos de banda – que teve um hiato de cinco anos aí no meio, entre 1995 e 2000, a banda tem uma discografia modesta, são apenas 6 álbuns, mas, para que mais? São todos ótimos e ao vivo, não tem banda com tanta energia, entrega, empatia, além de capacidade técnica muito acima da média, os quatro músicos são excelentes, virtuosos, sem serem chatos. E chegam a essa turnê sem nenhum lançamento novo, o último álbum foi “Shade”, de 2017, e traz um balanço da carreira, com a força de sempre e, pelo menos Belo Horizonte e São Paulo tiveram a sorte grande de contar com o pessoal do BLACK PANTERA abrindo o show, e de forma digna, sem tempo curto, sem som pela metade, os mineiros de Uberaba fizeram uma hora de show, entregando tudo de melhor para a galera que vibrou muito com mais este show da turnê “Perpétuo”, que marca o lançamento do quarto álbum deles, facilmente, um dos melhores deste ano que ainda não acabou.

Que show!

Indo ao que interessa, após o público ansioso pelos nova-iorquinos estar bem aquecido pelo Black Pantera, luzes apagadas e a “Marcha Imperial”, tema de Star Wars, é a deixa para a entrada de Corey, Vernon, Doug e Will que abrem a festa com “Leave It Alone”, faixa presente no disco “Stain”, de 1993, e entregam tudo o que esperamos. Na sequência vem “Desperate People”, do “Vivid” e mais quatro faixas na sequência do álbum de 1993: “Ignorance is Bliss”, “Bi”, “Ausländer” e “Never Satisfied”. Já que não houve uma turnê especial de 30 anos de “Stain”, como fizeram com “Vivid”, fica valendo a lembrança desse grande álbum, que, se não fez o mesmo sucesso dos dois primeiros, merece destaque pelos temas e sonoridade, mais pesada que os anteriores.

Funny Vibe”, presente em “Vivid”, que começa com um riff assombroso de Vernon Reid é a música da vez, seguida de “Sacred Ground”, música de “Collideøscope”, disco de 2003. Outra de “Vivid” e chega “Open Letter (to a Landlord)”, e Corey Glover impressiona a todos como seu vocal permanecesse perfeito, aos 59 anos. Logo após a banda vai tomar uma água nos bastidores e William Calhoun faz  seu esperado solo de bateria, como sempre, empolgante, sem se tornar enfadonho, como é normal acontecer nesse tipo de solo. Na volta é a vez de “Flying”, outra faixa de “Collideøscope”, música de tema pesado, que fala das pessoas que se atiraram das janelas do World Trade Center, durante o atentado contra as torres gêmeas, em 2001.

Logo em seguida é a vez do baixista Doug Wimbish brilhar, mostrando todo o poderio de seu suingue e funky no medley com “White Lines (Don’ Do It)” (Melle Mel) / “Apache” (The Sugarhill Gang) / “The Massage” (Grandmaster Flash and the Furious Five). Botou todo mundo pra dançar. E vem festa pela frente, com “Glamour Boys”.

O show vai caminhando para o final, mas ainda vem quatro petardos: “Love Hears Its Ugly Head”, “Time’s Up”, “Cult of Personality” e o gran finale, com “Type”, que Vernon Reid carinhosamente dedica ao Black Pantera.

Esse é o LIVING COLOUR e se você ainda não os viu, se vira! Dê um jeito, E VÁ! Antes que seja tarde... simplesmente, o melhor show que você um dia pode ver na vida.

Foto: Ricardo A. Flávio
 
Assista abaixo a cobertura do show em vídeo no Rio


Ricardo Cachorrão

Ricardo "Cachorrão", é o velho chato gente boa! Viciado em rock and roll em quase todas as vertentes, não gosta de rádio, nunca assistiu MTV, mas coleciona discos e revistas de rock desde criança. Tem horror a bandas cover, se emociona com aquele disco obscuro do Frank Zappa, se diverte num show do Iron Maiden, mas sente-se bem mesmo num buraco punk da periferia. Já escreveu para Rock Brigade, Kiss FM, Portal Rock Press, Revista Eletrônica do Conservatório Souza Lima e é parte do staff ROCKONBOARD desde o nascimento.

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