The Mission volta ao Rio após dois anos para belíssima apresentação

Foto: Tarcísio Chagas / Rock On Board
 
Geralmente as grandes bandas demoram a vir ao Rio de Janeiro ou nunca dão as caras em terras fluminenses, mas o The Mission quebrou essa (péssima) tradição. A banda esteve por aqui no final de outubro de 2022, na época, tocaram na excelente casa de shows, Sacadura 154. Agora retornam para uma apresentação no Vivo Rio, trazendo a "D-Tour 2024" com a abertura do grupo Christian Death.

Com um trânsito caótico pela soma de uma véspera de feriado e uma obra de grandes proporções no entorno do local do show, o acesso ao Vivo Rio ficou bem prejudicado. Mas fã de verdade enfrenta tudo em nome do Rock and Roll, não é mesmo? Infelizmente não foi essa a resposta que tivemos na noite de sexta, quando um público bem aquém do esperado, aliás, muito abaixo mesmo, apareceu para presenciar o retorno da banda em solo carioca. 

Abertura do Christian Death

Foto: Tarcísio Chagas / Rock On Board
 
Veteranos da cena underground gótica, o Christian Death começou o show com a recente "Elegant Sleeping" do álbum Evil Becames Rule (2022). Liderados pelo vocalista/guitarrista Valor Kand, o Christian Death é uma daquelas bandas com nenhum membro da formação original - Kand entrou no segundo disco "Catastrophe Ballet", de 1984 -, mas isso não chega a ser novidade no meio da música, vide bandas como Foreigner, In Flames, Quiet Riot, entre outros.

Sonoramente falando, e de uma maneira mais fácil de entender, o som Christian Death é aquele para "cortar os pulsos" de tão depressivo, mas que acaba funcionando ao vivo. Tanto que grande parte do público (pouquíssimas pessoas) curtiu de forma respeitosa o quarteto, que para uma banda de abertura, fez um show mais longo do que o convencional. No meio de tanta obscuridade sonora, canções como "Blood Moon" e "The Warning" acabaram se destacando, principalmente por trazer uma levada pouco mais cativante. E ponto positivo também para baixista/vocalista Maitri, que teve uma performance envolvente e carismática, conseguindo chamar a atenção até de quem não conhecia o grupo.

The Mission no palco!  

Numa pontualidade britânica (22h00), o The Mission entrou de mansinho no palco e mandou de cara, a clássica "Wasteland", do seu disco de estreia God's Own Medicine (1986). A banda volta ao Brasil com 3/4 da sua formação clássica: Wayne Russey - Vocal e guitarra, Craig Adams - Baixo e vocais de apoio, Simon Hinkler - guitarra e o recente adicionado Alex Baum - bateria.

Wayne, empunhando uma belíssima guitarra de 12 cordas, comandou o desfile de canções com quase quarenta anos de carreira da banda e se o público era reduzido, compensava pelo entusiasmo e reverência ao material de excelente qualidade executado.

Com um som muito bem equalizado, "Beyond The Pale" veio na sequência, e era possível ver Mr Wayne Russey usando um tablet para auxiliar nas letras das músicas - algo compreensível para um senhor de 66 anos de vida. Se a memória não é mais a mesma, a voz está em dia. E isso ficou provado em "Gauardian Of Delight", com uma interpretação emocionante e vigorosa. Destaque também para a harmonia das guitarras de Wayne e Simon no final da canção, mostrando que não se vive somente de solos de guitarra no rock.
 
Foto: Tarcísio Chagas / Rock On Board

Temos Música Nova!

"O que vocês querem escutar? Que tal uma música nova?", sem deixar o público responder, veio "Kindness Is The Weapon", executada pela primeira vez no Brasil. A música vem sendo tocada constantemente nessa última tour mundial, o que indica ser verdade a afirmação do vocalista de que um novo trabalho será lançado em 2026 para comemorar os quarenta anos do The Mission. Excelente canção e que mantém o espírito da banda, sem muitas surpresas.

O lendário baixista Craig Adams (Ex-The Cult e Ex-Sisters Of Mercy) se destacou em "Grotesque", com uma linha de baixo simples e cheia de groove. O veterano se manteve de maneira sóbria, mas sentindo cada nota dada. Parecia uma viagem particular cheio de sentimento.

Após uma longa introdução de guitarra feita por Wayne Russey, "Deliverance" teve um retorno vibrante do público, que cantou o refrão muito alto! No caminho para o final da música, o vocalista se livrou da guitarra e foi para a frente do palco com apenas o microfone em punho para o público, agora somente acompanhado pelo bumbo da bateria, cantar sozinho as últimas frases da música, enquanto o quarteto saía do palco para dar aquela tradicional descansada antes do bis.

Volta Apoteótica!

Os maiores clássicos ainda não tinham sido tocados e após o disparo do sampler feito pelo baterista Alex Baum, o hit "Butterfly On A Wheel" veio para satisfazer os fãs que não paravam de pedir a canção insistentemente. Com o clima já lá no alto, "Severina", a música mais conhecida da banda no Brasil, elevou o nível de forma estratosférica. 

"Tower Of Strenght" finalizou de forma sublime, com quase uma hora e meia, o show dos britânicos. Se o The Mission peca um pouco pela desenvoltura no palco, vide a idade avançada dos seus membros, fomos compensados com um material atemporal e acima da média. Belíssima apresentação!

Tarcísio Chagas

Foi iniciado na música no meio da Soul Music, Rock Br e se perdeu de vez quando comprou o disco "Animalize" do KISS em novembro de 1984. Farofeiro raiz, mas curtidor de quase todos os estilos musicais, Tio Tatá já foi há mais de 1000 shows em 40 anos de pista. Já escreveu para o Metal Na Lata, Confere Rock, Igor Miranda site, Rock Vibrations e eventualmente colabora com o canal Tomar Uma no YouTube.

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