O Dia Brasil, dizem as más línguas, foi concebido para ocupar um furo gigante na programação do festival, que, continuam as más línguas, essas malvadas, esperava uma grande contratação para, talvez, fazer o tão esperado Dia do Metal. Que não aconteceu. Quase tudo é um grande talvez.
O que não deu pra ser talvez, é que foi claramente um dia atípico na história do festival, que pela primeira vez inclui em seu rol de gêneros o sertanejo, que diga-se de passagem, não tem a menor necessidade dessa vitrine, na opinião dessa que vos escreve. A Cidade do Rock, em comparação a todos os dias anteriores, está coalhada de espaços vazios, com uma facilidade de deslocamento não presenciada antes por ninguém que esteja frequentando o Parque Olímpico desde o início. E isso não é necessariamente ruim, neste sentido. Pois o fã pode visitar as várias atrações do evento, o musical que é apresentado quatro vezes ao dia na Arena 2, os brinquedos, e claro, os palcos alternativos aos Palco Mundo e Palco Sunset, com muito mais tranquilidade.
Um deles é o Global Village, que nasceu com o conceito de trazer gêneros musicais com artistas e influências de várias partes do planeta e claro, também do Brasil. Para começar, o diferencial que é muito apreciado, é o corpo de balé que se apresenta nos intervalos das atrações, com danças irlandesas, africanas, entre outras. Os bailarinos, excelentes, dançam no palco, no chão, brincam com o público, e ninguém sente o tempo passar durante o preparo para o próximo artista. É bonito de ver e divertido.
Neste sábado, penúltimo dia de festival, o Global, seguindo a tendência de realizar encontros (em quase todos os palcos essa foi a ordem do dia), recebe Black Rio, Hyldon e Claudio Zoli, numa promessa de boa música bem executada. E promessa cumprida, adianto.
Depois de 50 minutos de atraso, Black Rio surge no palco, com imagens de bailes black de décadas atrás e "Maria Fumaça" é a música que nos transporta de cara ao final dos anos 1970, dançante, sensual, alegre, instrumental de primeira linha. Os dois sensacionais vocalistas, Edmon Costa e Marquinho OSócio, da banda criada e liderada por Oberdan Magalhães até 1984 e hoje comandada por seu filho William Magalhães, entram no palco e "Sexta-Feira Carioca" arranca aplausos da plateia, que em seguida ouve "Nova Guanabara" e "Mistérios Da Raça", quando o lendário Hyldon é convidado por William e ovacionado pelo público presente.
"Na Sombra De Uma Árvore" e "As Dores do Mundo" são o cartão de visitas perfeito para apresentar aos mais jovens o autor das músicas que eles conheciam, mas não sabiam de quem era. Hyldon fala de sua relação com a Black Rio desde o início de sua carreira, e apresenta "Foi Num Baile Black", composição sua, Lino Krizz e de Mano Brown. E para encerrar a sua participação, mesmo que não fosse sua intenção (explico já, já), a deliciosa "Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda" foi entoada na íntegra e com fervor por todos.
Claudio Zoli é convocado por William, que o anuncia como um dos melhores guitarristas da Soul Music, e "Noite do Prazer" mostra que de voz, ele ainda está muito bem, obrigado. Zoli, ícone dos anos 80 (com a banda Brylho e solo), traz um setlist recheado de hits como "Cada Um, Cada Um" e homenagens a grandes nomes como Cassiano - que ele diz ser o responsável por sua presença no palco -, cantando "Coleção". O eterno síndico Tim Maia também foi lembrado com "Você" e "Acenda o Farol". Foi aí que as coisas ficaram quentes, após tocarem lindamente "À Francesa", canção muito conhecida na voz de Marina Lima. Zoli reconvida Hyldon para voltar ao palco para encerrarem juntos, ele, Hyldon e a Black Rio numa apresentação digna de palcos de maior visibilidade, como um Sunset, por exemplo.
Hyldon volta. A banda se prepara. O público aplaude e aguarda. E as cortinas fecham. A produção responsável pelo palco simplesmente fecha as cortinas ao anúncio da última canção, na cara dos artistas ainda tocando, em um dia em que a primeira atração do Palco Mundo (o encontro de artistas trap) atrasa o evento em mais de 1h e meia, que uma atração sertaneja cancela seu show no Palco Mundo por conta do atraso, que as atrações do Palco Sunset também sofrem atrasos, mas seus artistas não tem a mesma rigidez ao tratar de sua obra. Com certeza os artistas foram muito bem recebidos e tratados pela produção e curadoria do Global Village, mas esses 45 do segundo tempo foi constrangedor, foi um desrespeito com os artistas e sobretudo com o público, que já iria sofrer as consequências da desorganização de cronograma que tomou conta do Rock in Rio esta noite. Não precisava isso.
Parabéns à Black Rio, ao Hyldon e ao Claudio Zoli, que fizeram uma apresentação linda.
Uma pena como foram tratados no final do show no Rock In Rio.
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