Rock in Rio: Avenged Sevenfold faz o show mais coeso e potente do "Dia do Rock"

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
O Avenged Sevenfold justificou o posto de headliner do dia mais pesado do Rock in Rio. Com uma apresentação coesa, que uniu ótimo repertório, execução quase irretocável e público participativo, o quinteto americano foi certamente o show mais redondo da noite. 

Nas redes sociais, muitos questionavam se a banda tinha tamanho para fechar a única noite dedicada ao gênero, ainda mais num festival notabilizado e acostumado com os medalhões. Basta saber: desde 2011, o Rock in Rio utiliza um revezamento entre duas bandas oitentistas (Metallica, Iron Maiden) e duas do final dos anos noventa (System Of A Down e Slipknot). Com essas quatro fora de jogo, o festival apostou pela primeira vez numa banda que não é novata, mas que começou a despontar com notoriedade já no meio dos anos 2000. No entanto, o Rock in Rio foi coerente com o momento do grupo, que foi headliner dos principais festivais lá de fora, como o Download e o Hellfest.

O ponto positivo inicial, foi que não houve a tal debandada do público - algo que geralmente acontece num dia de atrações muito diferentes. A galera ficou e se amontoou próximo ao Palco Mundo para curtir os últimos minutos do festival. E isso denota também, que o Avenged possui sim, uma fanbase consolidada no Brasil e que pode encarar facilmente grandes arenas por aqui. 

Mas e o show?

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
O show do Avenged vinha cercado de grande expectativa por conta dessa nova fase. Principalmente na questão sonora, que mudou muito desde a última visita (há uma década). Boa parte do repertório da turnê é baseado no ótimo Life is But A Dream, que traz uma proposta mais experimental / progressiva, e isso também aconteceu no Rock in Rio. Essa nova roupagem, aliás, vai além da questão sonora. Tanto que eles parecem ser uma outra banda, se pegarmos como referência aquele Avenged que tocou nesse mesmo festival, em 2013. 

Essa "nova faceta" já dá as caras no visual do frontman M. Shadows, que surge no palco sentado numa cadeira de rodas, usando uma máscara. A encenação inicial do sujeito, meio bizarra, combina perfeitamente com "Game Over", uma pancada à la System Of A Down, que abre não só o show do Rock in Rio, como também é a faixa de abertura do novo disco. No entanto, a canção que deveria se destacar pela potência, como acontece em Life is But A Dream, soou embolada por conta do volume incrivelmente baixo que vinha dos PA's. Com a qualidade de som um pouco mais ajustada, "Afterlife", que veio em seguida, botou o Rock in Rio abaixo com a cantoria dos fãs e suas guitarras em duetos. 

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
Logo depois, veio "Mattel", hit interessante - e estranho - do novo álbum, que até fez a galera bater cabeça, mas que no final acaba soando como uma introdução para a maior catarse do show: o hino "Hail To The King" - indiscutivelmente a música mais popular do grupo. O refrão foi entoado por toda a redondeza do Palco Mundo, causando aquela sensação de unificação da massa, com todo mundo cantando junto, independente de ser fã da banda ou não. E num dia que teve rock setentista, gótico, nu-metal, thrash e pop rock, esses hits universais surgem como trunfos categóricos. 

Mas esse não é um show de hinos. Definitivamente. Aqui é tudo levado na receita básica do thrash efetivo: riffs de guitarra (na habilidade do ótimo Synyster Gates); soluções de palco que jogam para galera; e repertório alérgico à pausas e baladas. No Rock in Rio isso funcionou legal. Até mesmo nas músicas longas ou mais intrincadas. Um exemplo disso foi "The Stage", canção de oito minutos, que acabou sendo um dos grandes momentos da noite - com M. Shadows se saindo muito bem nos vocais, aliás. Inclusive, havia uma grande preocupação do vocalista por conta da transmissão de TV no festival (a banda não autorizou nenhum pro-shot antes do Rock in Rio). Isso, porque essas equalizações de TV, geralmente secam a voz e destacam tais deslizes que possam vir a acontecer (e quase sempre acontecem). De toda forma, Shadows manteve o nível e segurou a bronca com boa desenvoltura. 

Embora o grupo esteja mais inclinado a sair fora do chamado 'metal alternativo dos anos 00', ainda ficam os grandes momentos. Principalmente nas Metallicanianas, "Buried Alive""Unholy Confessions" - com direito a solo de bateria animal de Brooks Wackerman. Ficou legal também ver essas canções de uma fase mais juvenil contracenando com singles mais aventureiros, como a ótima "Nobody", que tem um dos melhores refrões da história do Avenged.
 
Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
A recepção do público foi outro destaque. Punhos cerrados que acompanhavam o ritmo da bateria ou mãos de lado a lado para acompanhar momentos mais melódicos, como em "Cosmic", causavam um impacto visual cativante. M. Shadows também conseguiu interagir com os fãs durante toda a apresentação. Falou sobre a preferência do seu filho pelo show do Travis Scott ao Avenged no Rock in Rio, dedicou música para o ex-batera, The Rev, e jurou estar diante da melhor plateia do mundo. 

O show foi encerrado com uma das melhores e mais emblemáticas canções desse "novo" - e interessantíssimo - Avenged Sevenfold: "A Little Piece Of Heaven", uma viagem maluca entre progressivices, sonoridade celta, vocais gritados e muita interação dos fãs, que cantaram todas as partes dessa epopeia avantgarde. Um final perfeito, para um show que se provou no palco de forma honesta e humana - sem autotune, sem bases pré-gravadas - como o mais redondo do dia, sonoramente falando. Ou seja: Headliner aprovado com sucesso.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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