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Foto: Adriana Vieira / Rock On Board |
O público de hoje na Cidade do Rock, parece que é o que os que nunca vieram acham que é: roqueiros. Aquele rock comerciável, aquele rock que só a sua bisavó acha que é a música do demo. Se houve uma edição do Rock in Rio para que aqueles que amam o rock e suas várias vertentes se decepcionassem, essa edição é a de 2024. Por mais que todos os anos ainda vejamos em nossas redes sociais os indefectíveis "ain, o Rock in Rio não tem mais rock..." ou "ain, tem que tirar o nome rock do Rock in Rio..." daqueles que nunca se deram ao trabalho de ler sobre a história do festival, realmente, essa edição deixou mais a desejar do que os outros anos.
Porém - sempre há um porém -, esta que aqui vos escreve teve uma razão para perdoar em parte esse "virar as costas" - como disse um amigo - para o metal, gênero que sempre esteve presente no Rock in Rio. Journey finalmente veio tocar, mesmo sob vários rumores de desentendimentos e cancelamentos reais, no Rock in Rio. Jamais parei de acreditar que veria Neil Schon e cia ao vivo. Não foi como eu desejava, infelizmente, com o "The Voice" Steve Perry, que já saiu há décadas da banda - e continuo aqui, com dor de corna -, mas ainda assim, valia a pena.
E na boa, pena foi o sentimento. Arnel Pineda, atual vocalista, entra no palco com o rosto abatido, e logo a voz confirma o abatimento. Via-se o esforço para cumprir um repertório de notas altíssimas de hits consagrados, como "Be Good To Yourself", que abre o show. O som, no geral, começa baixo, o que foi percebido pelos presentes, e o microfone de Jonathan Cain, por exemplo, não funcionou em vários momentos. Fato esse que prejudicou MUITO a banda. "Stone In Love" também não atenua a força que Pineda precisava exercer sobre a voz, que parecia sem aquecimento, ou afetada por uma gripe, algo assim. "Line Of Fire" e "Dead Or Alive" invertem a sequência prevista para o set, que contava com "Faithfully" na segunda música, e acho que foi muito melhor assim. Aliás, "Faithfully" e "Open Arms" fazem a dobradinha romântica da apresentação. Neil Schon esbanja alegria em um rosto definitivamente sorridente e sua guitarra continua vibrante como sempre, com notas tocadas com a mais absoluta fidelidade.
Os telões do Palco Mundo tem problemas com fantasmas e saturação exacerbada, obrigando o espectador a olhar para a banda, no palco, diretamente. E foi uma pena, porque Deen Castronovo assume os vocais em "Lights", e como ele toca bateria e canta ao mesmo tempo, ficou um pouco difícil de acompanhar o momento. Deen deveria cantar mais, porque canta muito. Minha opinião.
"Separate Ways", um dos maiores hits do Journey, levanta a voz do público em uníssono, jovens, jovenzinhos e maduros como eu, simplesmente esquecem que ninguém vai nos ouvir, e cantamos como se microfone tivéssemos nas mãos.
Mas "Don't Stop Believin" é o que emociona de verdade. Não havia uma só pessoa que não cantasse, do jeito que dava, em inglês, macarronês, javanês, toda a letra da canção, considerada uma das mais belas da história, apesar da voz sofrida de Pineda. Podiam ter fechado com essa, mas "Any Way Want It" fecha o show. Cantei junto, amarradona, e enxuguei os cantos dos olhos, com medo de borrar a maquiagem. Porque chorei, sem vergonha nenhuma. Foi uma jornada de uma vida, esperar pra ver o Journey ao vivo. Certeza de que não foi a melhor performance da banda, bem ao contrário, mas o significado suplanta qualquer falha técnica, qualquer limitação. Emocionante, em todos os sentidos.