Disco surpresa transborda elementos que fazem Jack White ser único na indústria

No Name teve lançamento surpresa. Foto: David James Swanson

JACK WHITE
No Name
⭐⭐5/5
Por  Lucas Scaliza 

Com mínimo aviso prévio aviso, Jack White colocou no mundo um novo disco. No Name É rock'n'roll de garagem, rico em fraseados de blues, direto e sem contorcionismos técnicos. Soa como se Jack tivesse plugado a guitarra no amplificador, levado consigo apenas meia dúzia (ou menos) de pedais e deixado os riffs brotarem organicamente, sem planejar muito a estrutura das faixas. É o disco mais orgânico de sua carreira solo. E por tudo isso, é o disco que mais se assemelha ao que o músico de Detroit fez durante o tempo de atividade do White Stripes.

Disco após disco, a carreira solo de Jack White foi mostrando como o artista podia ousar. Gradualmente trouxe mais elementos de hip hop e R&B para triturar dentro de suas referências de blues, rock, folk e alternativo. Fez faixas explosivas, baladas acústicas, colocou o piano em primeiro plano (algo que ele já fazia no White Stripes também). Abandonou por um tempo a forma de gravar totalmente analógica e experimentou com o digital. Jack percorreu um caminho bastante inventivo mantendo-se sempre fiel às suas bases.


Agora No Name chega para demonstrar que não existe escassez de vontade de povoar o mundo com o calor genuíno da distorção. São 13 novas faixas com a guitarra e a voz característica do músico em primeiro plano. Nada de baladas, nada de piano. O lado A é chamado de "Heaven and Hell", enquanto o lado B é "Black and Blue".

As faixas possuem uma fluência gigantesca. É tudo novo e mesmo assim parece que tudo é terreno familiar. Logo, o disco novo desce sem atrito pelos tímpanos de qualquer ouvinte já acostumado com o artista ou com rock em geral. Músicas que duram o quanto precisam e uso inteligente da dinâmica garantem u
back to basics instigante e equilibrado.

Mas Jack é um ilusionista, em certo sentido. Ele não abandonou as novas referências. "Archbishop Harold Holmes", talvez uma das melhores faixas de No Name, é uma amálgama de spoken word e rap emoldurado por riffs de guitarra. É rock e hip hop unidos que pode passar despercebido por um ouvinte menos atento.


Jack White tem sua própria gravadora (Third Mand Records), sua própria produção de discos de vinil e usa essa liberdade a seu favor. Grava as músicas que tem vontade e pode presentear os fãs com um lançamento no susto. No Name foi anunciado oficialmente no dia 30, teve seu lançamento apenas nas lojas da TMR no dia seguinte e chegou apenas no dia 2 de agosto aos streamings. Na semana anterior ao lançamento, cópias foram dadas de graça a quem fez uma compra no balcão da TMR. Os discos não apresentavam nenhuma identidade visual e nenhuma indicação de que se tratava do novo disco de Jack White. Imagina a surpresa de quem colocou o vinil para rodar! (Essas cópias "secretas" estão no eBay por US$ 500 ou até US$ 1.000 agora). E a gravadora enalteceu publicamente como essa ação provou que algo misterioso ainda pode causar a mágica do encanto e do entusiasmo nas pessoas por meio da música e da arte.

Das composições à produção, do marketing aos riffs, No Name transborda os elementos que fazem seu autor ser único na indústria. Não há como ser mais Jack White do que isso.

Lucas Scaliza

Jornalista, músico sem banda e estrategista de marca. Não abre mão de acompanhar os sons do agora. Joga tarô e já foi host de podcast.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
Banner-Mundo-livre-SA