Doja Cat encerra o Rock in Rio Lisboa com show apoteótico

Foto: Hugo Moreira / Rock in Rio Lisboa
 
Há artistas que são melhores ao vivo do que no disco. Ou no Spotify, para usar uma nomenclatura mais atual. E Doja Cat parece se inserir neste grupo. As músicas da cantora americana crescem com sua performance ao vivo e causam mais impacto do que se estivéssemos ouvindo uma mera playlist da artista. 

 

Responsável por encerrar a edição de 2024 do Rock in Rio Lisboa, Doja Cat mostrou que tem muito cacifo para ser uma headliner de respeito. Para isso, ela abusou de todos os artifícios cênicos que o showbiz tem a oferecer. Seu show tem um cenário, plataformas voadoras, pirotecnia, figurino, sensualidade, presença de palco, atitude... enfim, é quase impossível ficar indiferente à sua performance. Pode-se não gostar de suas letras ou do seu som, mas é inegável que Doja Cat sabe fazer um espetáculo.

 

Boa parte de sua apresentação no Parque Tejo foi focado no seu quarto, “Scarlet”, lançado no ano passado. Das 21 músicas do show, 14 são do álbum. Se o disco recebeu críticas positivas e negativas da imprensa especializada, ao vivo as músicas ganham novas cores com a postura da cantora, seu jeito de cantar de quem parece estar fazendo quase uma afirmação política e a intensa participação dos músicos que a acompanham. “Go Off”, por exemplo, tem uma pegada R&B e abre espaço para um solo de guitarra. “Acknowledge me” também abre o show de forma bem pesada com o auxílio dos backing vocals e Doja Cat cantando quase como se estivesse fazendo um discurso político enquanto no palco exibe um nariz com sangue falso, típico de seus visuais mais arrojados.

 

Já em “Demons”, a cantora enrolava o microfone numa corda enquanto víamos os primeiros sinais de pirotecnia, que marcaria todo o seu concerto.

 

Usando um salto agulha que não a impedia de dançar, rebolar e cantar o tempo todo, Doja Cat obviamente não se restringiu ao seu álbum mais recente. O show também teve espaço para alguns sucessos do passado. Em “Get into it (Yuh!) ela usou e abusou dos seus versos de forma acelerada enquanto rebolava para delírio o público.

 

A cantora navega muito bem entre o hip hop, o rap, o R&B e o pop e a sua versatilidade se reflete no show. Seja no estilo pop de “Say So”, que é seguido pela pegada mais hip hop de “Attention”, música em que os backing vocals descem de uma plataforma do teto do Palco Mundo, e chega até a uma mistura de rock com rap em “Need to know”.

 

A reta final do show ainda teve “Streets”, a boa “Agora Hills” e “Rules”, antes de terminar Paint the Town Red” e “Wet Vagina”.

 

Em 1h15min, Doja Cat desfilou pelo Palco Mundo fazendo suas rimas com se o mundo fosse dela. E quem lhe negaria o poder depois de uma performance tão eletrizante?

 

O DESASTROSO SHOW DE CAMILA CABELLO

 

A atuação de Doja Cat foi a compensação para o desastroso show de Camila Cabello. A cantora americana de origem cubana chegou ao Parque Tejo pronta para dar o pontapé inicial na turnê do seu novo álbum “C.XOXO”, que será lançado na próxima sexta-feira. Tinha tudo para que o público lisboeta se sentisse privilegiado. Afinal, pela primeira vez Camila mostrava ao vivo nove canções do seu novo álbum.

 

No entanto, a frustração foi enorme. Tão grande que enquanto o show acontecia o público foi indo embora, deixando clarões a frente do Palco Mundo em um dia que teve ingressos esgotados.

 

Toda a performance de Camila parecia um grande videoclipe em que a presença do público a frente da cantora parecia um mero detalhe. Muitas vezes ela interagia com as câmeras que a cercavam e se via de costas ou de lado para a plateia. Até um Tik Tok ela gravou. A cantora só procurava mesmo o público quando precisava de uma validação sobre as novas músicas: “Lisboa, vocês gostam das novas canções?”, dizia ela.

 

A resposta a cantora foi morna e ninguém se sentiu muito convencido nem quando ela apareceu comendo pastel de nata ou revelando seu amor pelo Sumol, um refrigerante local, ou por Cristiano Ronaldo.

 

Na verdade, o único momento em que a ex-cantora do grupo vocal Fifth Harmony conseguiu empolgar minimamente o público foi quando sacou os hits “Shameless”, “Havana” e “Señorita”, mas foi muito pouco.  

 

Ne-Yo arrebata o público 

 

O cantor americano Ne-Yo encontrou no Rock in Rio uma plateia que todo músico sonha. Dono de sucessos como “So Sick”, “Play Hard” e “Give me everything”, o cantor transformou o espaço em frente ao Palco Mundo numa grande pista de dança no que foi acompanhado por uma plateia entusiasmada e que conhecia praticamente todas as suas músicas. 

 

Vestido todo de preto, com uma blusa brilhante e um chapéu preto na cabeça, Ne-Yo ensaiava passos de dança a cada música que lembravam uma de suas influências musicais, Michael Jackson. Muito confortável no papel de showman e sem se incomodar com o calor que fazia no Parque Tejo, Ne-Yo fez um show envolvente e que deixou os seus fãs em polvorosa. 

 

Com um set list que, nas própria palavras do cantor, era formado por “classic classics e future classics”, Ne-Yo esbanjou carisma desde a abertura do show com “Closer” até a apoteose de “Give me everything”, um clássico, ou melhor, um “classic classic” das pistas de dança mundo afora. 

 

Ne-Yo ainda apresentou uma nova música, “2 Million Secrets”, single lançado há dez dias e que praticamente foi a única que teve uma recepção naturalmente mais fria, pois o público ainda estava conhecendo o seu novo som. Mas com a confiança do cantor, ela tem tudo para, por enquanto, ser um “future classic”. 

Marcelo Alves

Acredita que o bom rock and roll consiste em dois elementos: algumas ideias na cabeça e guitarras no amplificador. Fã de cinema e do rock nas suas mais variadas vertentes, já cobriu três edições do Rock in Rio e uma do Monsters of Rock. Desde 2014, faz colaborações para o site "Rock on Board". Já trabalhou em veículos como os jornais "O Globo" e "O Fluminense". Twitter: @marceloalves007

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
Banner-Mundo-livre-SA