Sonic Universe
It Is What It Is
⭐⭐⭐✰✰3/5
Por Marcos Bragatto
Você piscou e o vocalista do Living Colour, Corey Glover, aparece com uma nova banda, Sonic Universe, desta feita junto com o guitarrista do Adrenaline Mob, Mike Orlando. O desafio permanente de bandas como essa, tanto na parte egressa do hard rock/heavy metal, caso de Orlando, quanto do rock meio fusion do Living Colour, é o de manter a base de virtuose que caracteriza cada um dos integrantes e conseguir compor músicas que soem cativantes aos ouvidos comuns, para não ficar algo ególatra/vaidoso do exibicionismo técnico. Para um primeiro disco, “It Is What It Is”, a boa notícia é que a coisa vai bem, obrigado, com boa parte das músicas bem estruturada e com refrães que colam nos ouvidos logo de cara.
Um belo exemplo vem em “Higher”, cartão de visitas que parece um refrão ambulante com um pouco de música ao redor. No melhor estilo grooveado da música negra americana mesclada com rock clássico, é uma peça arrasa-quarteirão rara que faz até o ouvinte de primeira viagem sair por aí gritando “Higher! Higher!” sem parar. Se bobear, até enjoa, de tão grudenta. Outra com bom refrão é “I Am”, espécie de carta de intenções da banda, não por acaso lançada com single antecipadamente, assim como “Higher”. Nas duas – em quase todo disco, diga-se - se percebe um Mike Orlando bem mais agressivo em levadas de guitarra e sobretudo nos solos, em uma via mais para o Sonic Stomp, seu projeto instrumental solo, do que para o Adrenaline Mob.
O que faz a conexão com outra tarefa para superbandas, a de não se assemelhar demais com as bandas principais, por assim dizer, de Glover e Orlando, e aí varia de acordo com cada música ou passagem de música. Coisa que não chega a ser comprometedor, mesmo porque seria de uma ingenuidade atroz achar que uma banda com a voz do Living Colour não fosse lembrar o próprio Living Colour. Mas não pense, contudo, em encontrar em Orlando, que também produz o disco, um emulador do brilhante Vernon Reid. Aí contribuem de modo valioso o cascudo baixista Booker King, que já tocou com Deus e o mundo e deve ser referência para as duas bandas, e o baterista Taykwuan Jackson, egresso da cena metal/metalcore americana.
Nessa seara, ao menos duas faixas. Primeiro “It Is What It Is”, uma massa sonora que dá título ao disco, tem baixo galopante e bateria perseguidora, em quase sete minutos de música intrincada, mas ainda assim boa de ouvir. Tudo por causa da guitarra manhosa de Mike Orlando, mas também agressiva em outras partes, e de mais um bom refrão. A outra é “Life”, um tanto calminha para esse cenário, mas que remete diretamente às pesadas e cadenciadas do Living Colour, soltinha pra tocar em rádio, quando isso era importante. Mas, no fim das contas, nesse bom disco de estreia, o prêmio de melhor de todas vai para a pesada “My Desire”, conduzida com um riff espetacular, com mudanças de andamento, grande força instrumental e um refrão cercado de vocais de fundo, que de certo modo resume o disco e própria banda. Caso dure e não seja apenas um projeto paralelo, o Sonic Universe tem um belo caminho a seguir.