O Within Temptation chega ao Brasil após um longo tempo sem dar as caras. Como eles não pintavam por aqui há uma década, a expectativa por esse reencontro era muito grande. Para ter uma ideia dessa ansiedade dos fãs, a Signing Sessions do festival com eles bateu recorde de procura, e as senhas para tirar fotos e pegar autógrafos do grupo esgotaram em apenas 4 minutos.
No entanto, esse distanciamento também serviu para comprovar o crescimento da banda desde a sua última passagem. A montagem do palco, com 3 telas circulares e uma baita produção de cena (com labaredas, jatos de fumaça e luzes sensacionais), só evidenciava que o Within Temptation tinha realmente se transformado num headliner de primeira linha.
Esse upgrade de relevância ficou ainda mais exposto com a performance do grupo no Summer Breeze. A banda parece já saber seu tamanho nos tempos atuais. O show é pensado e reproduzido de forma grandiosa - com mudanças de cenas a cada canção, discursos e atos conscientes. Todo esse conceito de "showzão" é emoldurado por uma qualidade sonora impecável. Pancadas como "The Reckoning", que no estúdio tem o feat de Jacoby Saddix do Papa Roach, e "Bleed Out" fizeram tremer as estruturas do Memorial da América Latina.
O som pesadão também alterna com momentos de suavidade quase pop, com eficiência garantida pela voz de Sharon. "Angels" é daquelas que nem parecem ser de uma banda reconhecida num festival de metal. E isso também é um ponto a favor, pois ao contrário das suas coirmãs (como Epica e Evanescence), eles conseguem variar um pouco mais nos caminhos sonoros, tornando o show bem menos cansativo aos radicais.
"Faster", por exemplo, parece uma música dos anos 80, cheia de synths. "The Cross" também segue nessa linha de ecletismo sonoro, com algo meio medieval, mas que contém elementos eletrônicos (!?). Só que tudo isso aqui, é regado a um peso descomunal dos riffs de guitarra e uma cantoria divina de Sharon. O fato, é que musicalmente o show chama a atenção até dos não-fãs. Músicas como "Wireless", "Im The Middle Of The Night" (repleta de vocais altíssimos), e a excelente "Don't Pray For Me", são como uma flecha afiada em busca de novos seguidores.
E temos que falar de Sharon Den Adel. A vocalista é uma diva do carisma. Ela conversa com o seu público de forma particular; pede desculpas pela ausência no país; agradece o apoio; homenageia uma fã que faleceu recentemente em "Supernova"; e ainda pede para a banda pausar o show para que uma fã seja atendida. "Seguranças! Tem alguém passando mal ali!", ordena de forma quase professoral. A pausa dura uns cinco minutos e ninguém reclama. Pelo contrário, seu fã-clube ama cada atitude dela. Mas é impossível ser diferente. Sharon vive o auge de sua forma artística. Ela está cantando melhor que praticamente todas as cantoras de sua geração, não tem pose de rock star, e ainda sabe usar sua representatividade - seja acenando uma bandeira da Ucrânia em "Raise Your Banner" ou enrolando uma faixa de orgulho LBTQIA+ no pedestal do seu microfone.
Num dos melhores shows do Summer Breeze, impecável em condições sonoras e técnicas, o Within Temptation justificou de forma imponente o seu posto de principal atração do dia.