Within Temptation fala sobre luta pela democracia e retorno ao Brasil


Por  Bruno Eduardo 

Uma das principais atrações do Summer Breeze Brasil, os holandeses do Within Temptation chegam com um novo trabalho, que pode ser considerado o mais pesado da carreira. Com Bleed Out, o grupo também assume uma posição de frente na luta pelos direitos sociais e traz canções ainda mais engajadas com a política mundial. Inclusive, o novo single ("A Fool's Parade"), gravado nas ruas de Kiev, tem os seus royalties doados para uma organização humanitária ucraniana. Em entrevista ao Rock On Board, a vocalista Sharon Den Adel confirmou a importância de escolher um lado nesse período de guerras mundiais, e ainda falou da expectativa em voltar ao Brasil após um longo período de afastamento.

Olá, Sharon! É um prazer conversar com você de novo. Estou feliz porque você está vindo ao Brasil agora. Vocês tocam no Summer Breeze! Qual é o sentimento em retornar ao Brasil como atração principal de um grande festival?

Bem, poder voltar depois de 10 anos e depois ser a atração principal de um festival, é o maior elogio de todos, é claro. E saber que vocês não se esqueceram de nós. Porque nós deveríamos ter voltado muito antes, mas você sabe, com Coronavírus e tudo o mais que está acontecendo no mundo, nós tivemos que adiar nossas turnês aqui na Europa também e depois recuperar o atraso. E antes que você percebesse, estávamos cinco anos atrasados, e então, sim, tínhamos outras obrigações, mas agora estamos de volta e muito felizes por estar de volta ao seu país novamente.

Vocês possuem um relacionamento muito forte com os fãs brasileiros, certo?

Sim, temos! Nós amamos a maneira como vocês experimentam a música e sempre foi um prazer tocar para vocês. E eu me lembro muito de como as pessoas eram apaixonadas quando tocávamos aí, e isso é a melhor atmosfera para você tocar e o melhor público que você pode ter.

Eu quero te dizer que eu realmente gostei muito do último álbum. Ele é muito, muito pesado. Você acha que esse é o álbum mais pesado da banda?

Eu acho que é o álbum mais pesado sim, e talvez também por causa dos temas que o álbum traz. Isso (os temas) acaba sendo um convite para um som mais pesado. Pois se você tem letras mais pesadas, você obtém sons mais pesados, sabe? E isso é realmente bom. Acho que estamos lidando com os problemas do mundo, porque, na minha opinião, o mundo está pegando fogo e nós estamos dançando no meio do vulcão neste momento. Todos nós. E ao mesmo tempo estamos assistindo a isso tudo. E o que podemos fazer é conversar sobre isso ou fazer música, no nosso caso. Para tentar nos livrar dessa frustração. Acho que conversando, podemos mudar a opinião das pessoas sobre a direção que o mundo está tomando agora.
 
 
Eu disse que é um álbum pesado, mas que é muito cheio de variedades sonoras diferentes. Um exemplo é a música "Wireless", que eu adoro...

Você gostou? Ah que ótimo!!

Sim, adorei essa música. Mas com um disco tão pesado e mesmo assim cheio de músicas mais melódicas, você considera o som de vocês difícil de rotular?

Bem, nós mudamos um pouco o nosso som em cada álbum. Se você comparar o primeiro com o último, há uma grande diferença, mas se você comparar este com, 'Resist', não é tão diferente assim. Comparando novamente todos os álbuns entre si, eles são bem diferentes. Acho que também o 'The Heart Of Everything' era muito mais de metal sinfônico. Acho que esse foi nosso último álbum de metal sinfônico de verdade e depois disso passamos a ter inspirações diferentes, porque sentimos que finalizamos nosso som em um nível sinfônico com aquele álbum. Não sabíamos que direção seguir depois disso e não aceitamos nos repetir. Então começamos a mudar muito, eu acho. E o resultando está no álbum de hoje. Nós sempre gostamos de mudar um pouco porque isso nos inspira a fazer coisas novas, e também a usar novos sons que estão disponíveis. Além disso, a cada poucos anos a música também evolui, e sentimos que queremos acompanhar as mudanças no desenvolvimento musical. Porque isso nos inspira. Você não quer soar como uma banda de 2000 quando você pode soar como uma banda de 2024.

Vocês decidiram lançar seu último álbum de forma independente, certo?

Sim!

Por quê?

Porque víamos a necessidade de lançar singles num momento nosso. No momento em que achávamos importante escrever sobre certas coisas. Queríamos decidir o momento de lançar o que quiséssemos e nossa gravadora não deixava, porque tinha que se encaixar com todos os outros lançamentos que eles tinham no catálogo. Pedimos para que eles nos deixassem sair, e tivemos uma separação  de maneira boa. E no final foi bom ter essa oportunidade, especialmente porque o Coronavírus aconteceu logo depois disso (saída da gravadora). Então pudemos escrever e lançar imediatamente no momento da pandemia. Enquanto ninguém conseguia se apresentar ao vivo, e onde muitas bandas tiveram que obter permissão para lançar qualquer coisa, fomos capazes de lançar quando quiséssemos e sentimos que era o momento certo para fazê-lo. Pra que você possa escrever uma música, produzi-la, mixá-la e lançá-la, você precisa de algumas semanas. Então quando um assunto está quente, precisamos lançar o quanto antes, sem precisar de qualquer tipo de burocracia. Tanto que temos singles em 'Bleed Out' influenciados pela guerra na Ucrânia, sim, e no Irã. E no que está acontecendo no Irã com os direitos das mulheres. Então há vários tópicos e também algumas coisas pessoais acontecendo lá. Mas os direitos das mulheres de acreditar, ter sua religião ou não ter uma religião. "Don't Cry For Me" é sobre religião. Então são tópicos diferentes em diferentes direções.

Mesmo com tantos tópicos, você considera este um álbum temático?

Politicamente falando, você quer dizer?

Talvez, mas tinha pensado mais em algo relacionado ao posicionamento de vocês sobre a guerra. Mas você acha que é um álbum político?

Não, não é um álbum político. Acho que é mais nós, sendo humanos, tentando alcançar outros humanos. Dizendo ok, somos todos humanos no final e o que está acontecendo em certos países não é humano. É um álbum tentando entender as pessoas em diferentes países, que têm regimes diferentes. Que estão sob certas ameaças e, precisa mais de democracia. É democracia, é um álbum sobre democracia. Acho que ter o livre arbítrio para decidir por si mesmo que decisão você quer tomar. Por exemplo, no Irã, olhando pelos direitos das mulheres, que elas possam se vestir da maneira que elas queiram. Mesmo que você acredite no Islã, não importa, mas você ainda quer se vestir de maneira mais moderna. É sobre isso também. No Irã, pessoas ainda são mortas por isso. Assim como acontece na Ucrânia, que vem sendo invadida pela Rússia, simplesmente pelo fato de uma independência que acaba não existindo. Então é um álbum que fala sobre muitas coisas e é muito sobre a visão de que a democracia não existe ou é um regime que tenta fazer propaganda. Então tem muito a ver com, sim, alcançar pessoas que achamos que precisam de apoio para seus objetivos pelos quais estão lutando.

Eu sinto que a cada novo álbum você está mais envolvida com o poder da sua voz, da sua representatividade popular. Principalmente porque você é uma mulher, e que mostra a importância de lutar pelos seus direitos e pela qualidade da vida humana. Estou certo?

Acontece que eu sou uma mulher, isso é verdade, mas é mais como se para mim fosse... Bem, quanto mais velha eu fico, você sabe, não só eu, mas toda a banda... É como se sempre estivéssemos politicamente engajados. Então sempre fomos interessados ​​​​em política e fomos inspirados pela política. Um exemplo é "Deceiver Of Fools" do álbum 'Mother Earth', que na verdade é uma música política. No álbum 'The Silent Force' há muitas músicas políticas e bem inspiradas nisso também. Mas agora estamos mais abertos a isso, porque na época não sabíamos se... Se essa era a nossa posição. E também se as pessoas estavam esperando que disséssemos algo político em nossas canções. Ainda não sabíamos como transformar isso em nossas entrevistas e falar sobre isso de uma maneira diferente. Então conversávamos em metáforas e através de nossa música. Mas nos dois últimos álbuns, nós sentimos que o mundo está pegando fogo e precisamos fazer algo agora. Dizer algo. Ser mais aberto sobre isso. Porque se você realmente quer ter uma discussão com outras pessoas sobre o que é democracia e o que é empoderar as pessoas, então você precisa se manifestar. E então você precisa ser mais claro sobre isso. E é importante ficar de um lado neste caso. Porque as pessoas se sentirão fortalecidas. Mesmo que você não esteja em seu país, as pessoas sentirão que há pessoas falando sobre elas. Na verdade, apoiando você. O que lhe dá a sensação de não estar sozinho lá fora, mesmo que você venha do Irã ou se você estiver morando na Ucrânia. Então é um tipo seletivo de ativismo, de certa forma. Mas há tantos outros países que precisam desse apoio também e espero que outras bandas peguem essa bandeira para tentar apoiar eles, do jeito deles. Então é mais como falar sobre como realmente nos sentimos sobre certas situações que são importantes para nós.
 
 
Última pergunta. Vocês estão bastante engajados na guerra na Ucrânia e o novo álbum fala muito sobre isso. E vocês também estão doando royalties do novo single ("A Fool's Parade") para ajudar na causa. Fale um pouco sobre esse assunto e a importância dessas atitudes.

Estamos apoiando uma organização da Ucrânia que ajuda pessoas que fazem música, mas também ajuda refugiados a conseguirem certas coisas que precisam por lá. Para que tenham sinais humanitários para si mesmos. A organização tenta ajudar músicos na Ucrânia, mas também tenta alcançar músicos fora da Ucrânia para que eles possam ser embaixadores e manter o assunto vivo através da música, como estamos fazendo agora falando sobre a Ucrânia e apoiando-os. É importante falar sobre eles, porque é isso que eles precisam. Porque você sabe que para muitas pessoas na vida diária, o que é lógico, claro, é apenas um jornal de novo escrevendo sobre a Ucrânia e no dia seguinte há outro assunto novamente. E as pessoas esquecem que tem gente ainda sofrendo e a guerra continua. Então, essa organização faz coisas muito boas, e é por isso que queremos ir em direções diferentes, para que exista essa conexão com a música. Ao mesmo tempo que fazemos isso, eles tentam ajudar os refugiados em seu próprio país. Ajudar quem perdeu tudo e precisa de ajuda imediata, como eles. Eles também ajudam crianças com aulas de música, para que possam lidar com sua síndrome de estresse, mas também ajudam os músicos a fazer pequenos shows no subsolo em estações de metrô para outras pessoas. Música é muito importante para manter a sanidade. É uma boa organização para se apoiar.

Então é isso, Sharon. Obrigado pelo tempo.

Eu que agradeço seu interesse. Bye bye.

Banda vem ao Brasil este mês

O Within Temptation vem ao Brasil este mês para se apresentar no festival Summer Breeze Brasil. O grupo é um dos principais headliners do festival, que acontece em São Paulo, no Memorial da América Latina, nos dias 26, 27 e 28 de abril. A banda, liderada pela carismática cantora, é um dos nomes mais respeitados do chamado metal sinfônico e se apresenta no segundo dia do Summer Breeze, sábado, dia 27. Confira o line up completo do festival AQUI.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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