Como se fosse ao vivo, Pearl Jam volta a apostar na força das guitarras em ótimo álbum

Pearl Jam

Dark Matter
⭐⭐⭐✰4/5
Por  Marcos Bragatto 
 
Se no disco anterior, o bom “Gigaton”, o Pearl Jam andou costurando pra fora, em flertes com o elo perdido da década de 1980, agora a banda investe em sua real vocação: o grunge de guitarras mais pesadas, ou nem tanto, e com solos-empolgação. Parece óbvio, não fosse uma tortuosa e nem sempre convincente trajetória traçada pelo grupo desde a década de 1990. Contudo, este Dark Matter não se traduz como “back to basics”, resgate de identidade ou termo que o valha, porque tem a sonoridade atual, contemporânea, moderna até, muito pela produção de Andrew Watt (Ozzy Osbourne, Iggy Pop, Rolling Stones). Ame ou odeie, é a coqueluche da vez no mercado de produtores, dentro e fora do rock.          

Senão, vejamos. Aquele solo de guitarra sem fim que aparece em “Alive”, e fica todo mundo querendo outro do tipo, enfim aparece no desfecho de ao menos três músicas: “Upper Hand”, “React, Respond” e “Waiting for Stevie”. Nelas e em quase todas as outras, a banda usa um artifício conhecido, mas nem sempre bem explorado, o de terminar a faixa com um crescente instrumental notável, mais ou menos como acontece em apresentações ao vivo, coisa que o Pearl Jam domina muito bem há anos em performances memoráveis a cada noite. Parece simples, mas não é sempre que se consegue isso de uma forma tão homogênea com aqui, o que só pode ser fruto de um método adotado e desenvolvido em estúdio.
 
 
O início com “Scared Fear” nem dá pistas de que o disco vai se desenvolver dessa maneira, mas a sequência com “React, Respond,” e mais pra frente com a sombria “Dark Matter”, já conhecida como single desde fevereiro, “Won't Tell”, meio melodramática e sustentada por um bom verso/refrão, e a semipunk “Running” não deixa dúvidas quanto ao bom uso das guitarras e de como a banda parece tocar ao vivo. As calminhas da vez são “Wreckage”, cujo desfecho surpreende ao manter a linha das demais, e “Something Special”, ingenuamente bonitinha, creditada em parte ao guitarrista Josh Klinghoffer, que anda tocando ao vivo com a banda. Caberia facilmente no rol de lentinhas babas do Red Hot Chili Peppers

O destaque entre os músicos é sutil, mas são os guitarristas que fazem a festa, sobretudo Mike McCready, que deve ser quem manda os solos mais agressivos, o que nos leva a imaginar ele tocando assim em cima de um palco. Com Stone Gossard fazendo das suas em texturas e levadas até por trás até dos vocais, tem-se, já há tempos, e aqui mais ainda, uma das mais afiadas duplas de guitarra base + guitarra solo do planeta. Mas não se pode passar os ouvidos no disco sem realçar a boa performance de Eddie Vedder. No ano em que completa 60 primaveras, ele mantém o tom de voz que o consagrou a ponto de ser imitado por toda uma geração no pós-grunge. Impinge sutis variações que não lhe subtraem esse emblema e - de novo – se esgoela como se estivesse em um show e, quando cabe, amansa o gogó com grande facilidade.
 
 
A contribuição de Vedder também reforça o crescente instrumental no final das músicas, conforme desenvolvido ali em cima. Algo que se vê com mais clareza no caminho surpreendente que a boa “Got o Give” toma, na já citada “Waiting for Stevie”, e em “Setting Sun”, que fecha os trabalhos em clima de happy hour/luau. Com esse entorno que valoriza as canções propriamente ditas, e pelo conjunto da obra, já se pode afirmar que Dark Matter é o melhor trabalho do Pearl Jam em muitos anos, talvez desde os tempos da era de ouro do grunge, na preciosa década de 1990.

Marcos Bragatto

Jornalista e crítico de música especializado em rock desde 1993. Foi colaborador das revistas Dynamite, Rock Press, Roadie Crew, Bizz, Revista MTV e Billboard Brasil. No currículo, eventos como Rock in Rio, Lollapalooza, Hollywood Rock, Monsters Of Rock, Dynamo Open Air (HOL), Reading Festival (ING), Gods of Metal (ITA) e Wacken Open Air (ALE). Há mais de uma década é Editor e faz tudo no site Rock Em Geral.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
SOM-NA-CAIXA-2