O palco às escuras. Um silêncio quase ensurdecedor, quebrado
apenas pelos murmúrios e gritinhos ocasionais que vinham da plateia cheia de
fãs, só aumentava a ansiedade do brasileiro em receber mais uma vez uma das mais
faladas bandas de rock da atualidade. Um som orquestral se ouve, os corações
batem mais rápido: está começando, estão chegando. A americana Greta Van Fleet está no recinto.
E vem, antes da banda surgir sob os holofotes, no riff de ”The Falling Sky”, terceira canção do elogiadíssimo último álbum Starcatcher (2023), arrebatando o público que ainda restava de planícies, lamaçais e colinas nos arredores. Com roupas brilhantes, ousadas e chamativas, com maquiagens cheias de glitter e cores (alguém aí, véio, também lembrou de Pablo, de Qual é a Música...?), os irmãos Josh, Jake e Sam Kiszka e o baterista Danny Wagner, parecem vir diretamente dos anos 70. É o clássico soando pelos ares, mas com aquele “algo” diferente. E esse “algo” é que faz a galera da grade pirar em “Safari Song”, com um Josh completamente envolvente (metido em um macacão colante, preto e cheio de figuras místicas) e uma banda que simplesmente toma conta do Palco Samsung Galaxy.
Foto: Rock On Board
Se ao longo de três dias, os panoramas aéreos mostravam um
Lollapalooza com um público um pouco aquém do esperado (por conta da chuva e
frio que perseguiram todo o cronograma do festival, talvez), nessa hora a
impressão se desfaz, com a concentração humana diante de Greta. Após “Built By Nation”,
um solo de bateria, que quando o há, geralmente é reservado entre o meio e o fim
de um show, se faz ouvir sob aplausos da audiência. De repente, foi um
subterfúgio para que Josh tenha tempo de fazer a sua primeira troca de roupa
(outro macacão colante – cuja costura deu nervoso, o plush marca – branco e brilhante,
com jaqueta combinando), para entoar “Black Smoke Rising”.
Neste momento, a banda mostra um quê de grande headliner do festival, sempre finalizando as suas músicas com um clima apoteótico, e com pausas gigantes entre elas. Pensei com os meus botões que seria para ganhar tempo, uma vez que o setlist cantado antes pela imprensa era pequeno.
“Meeting The Master” colabora para dar a atmosfera folk e
mística à apresentação, fazendo com que parte do público se visse chorando,
emocionada. É realmente um bonito momento, que dá aquele tom zeppeliano, que os
Greta tanto renegam (por que, né?).
Em “Heat Above” percebe-se a histeria de outros tempos na plateia, quando em “The Archer”, Jake, o fã de Chimbinha, rouba a cena e vai pra galera, sem parar de solar um momentinho sequer, incluindo as firulas, como tocar guitarra atrás da cabeça, exatamente como faziam antigamente, enquanto Josh ganhava outro tempo pra trocar outra roupa. Ficou devendo tocar com os dentes, bem datado.
Josh surge de calça de cetim branco, bolerinho também de cetim dourado e branco, e óculos a la Elton John, pouco antes de jogar rosas brancas ao público, no melhor estilo RC, e entoar a frenética “Highway Tune”, levando o pessoal do Lolla ao delírio, para finalizar com a hard porrada “When The Curtain Falls”.
O Greta é daquelas bandas, goste (venere) ou odeie (não
muito). Com um som tão específico, para alguns, ultrapassado, há os que o defenda
com garras e dentes, por trazerem aos jovens de hoje a “música de verdade que
se fazia há 200 anos”. E há os que simplesmente querem inovação total no rock,
mas que mesmo assim, não tirariam a adolescente Greta da vitrola, se por acaso
lá estivessem.
Greta Van Fleet cumpre bem o seu papel de principal atração da noite, quiçá do festival, ainda que tenha sido uma pena um tempo tão curto de show. Mas é, dona Greta, a lenha faz um fogueirão, mesmo!
Assista abaixo a nossa cobertura em vídeo do Lolla 2024