Paul McCartney no Maracanã: um privilégio para 66 mil pessoas

Foto: Marcos Hermes
 
Muitos saíram do Maracanã com a impressão de terem assistido o melhor show dos últimos tempos. Só que independente do impacto visual e sonoro causado nesta, que foi a última apresentação da turnê brasileira de Paul McCartney no Brasil, o que estava em jogo ali para a grande maioria, era o valor histórico desse acontecimento. Não há como negar: é um privilégio poder assistir ainda ao vivo, um dos principais arquitetos do que se entende como música pop mundial.

É impressionante também, que mesmo aos 81 anos de idade, o lendário Beatle é uma prova de que o rock é sim, uma fonte de juventude inesgotável. Seu show de quase três horas é totalmente conduzido por ele mesmo, que troca de instrumentos diversas vezes, e mantém uma sinergia messiânica com uma arena gigante e completamente lotada. Seu carisma é tão convincente quanto os hinos atemporais que ele deu ao mundo, e isso pôde ser visto logo no início com a cantoria generalizada de "Can' t Buy Me Love", sucesso dos Beatles, e que está completando sessenta anos de lançada.

Embora os Beatles seja o grande foco de seus shows, a fase com o Wings também tem bastante destaque. "Junior's Farm" e "Letting Go" trazem uma ampliação sonora, com destaque para a ótima banda de Macca - principalmente para os metais, que deram um verdadeiro show solo em "Letting Go". Mas o fato, é que a apresentação de Macca vai muito além de um repertório de sucessos e da performance divina de seus músicos acompanhantes. Cada música traz um verdadeiro capítulo antológico, promovendo assim uma viagem pela evolução da música moderna e pela lembrança de lendas que moldaram o rock. Um exemplo disso é "Let Me Roll it", que foi executada com uma pequena homenagem à Jimi Hendrix.

Um show de luzes e o maior mosaico do ano no Maraca

Mesmo com todo o artefato musical, o show ganha proporções apoteóticas no aspecto visual. Primeiro, destacar os impressionantes canhões de iluminação, que se moviam e mudavam de cores (alternando com muitos raios lasers), algo de uma magnitude que a gente só vê mesmo em shows do Roger Waters. Já os telões ajudavam a criar temas em cada canção. Em "My Valentine", por exemplo, que foi dedicada a sua esposa, Nancy Shevell, o telão exibiu dois astros de Hollywood: Johnny Depp e Natalie Portman. Em outros momentos, imagens dos Beatles reunidos ilustraram o backdrop do palco, e deixavam a nostalgia transbordar ao som de clássicos como "Love Me Do" e, na sempre certeira, "Get Back".

Mas foi com a participação do público, que o show ganhou os seus momentos memoráveis. A utilização de balões coloridos, que eram iluminados pelas lanternas dos celulares na animada "Ob-La-Di, Ob-La-Da" foi uma jogada genial da produção, que distribuiu uma espécie de roteiro programado para quem foi ao show (ganhando uma balão e um papel para mosaico). Os celulares também ajudaram a iluminar todo o anel do Maracanã nas canções mais lentas, como "Let it Be" e "Something", que foi dedicada ao seu parceiro George Harrison. Também teve homenagem à John Lennon em "Here Today", e ao líder do Moody Blues e antigo parceiro de Macca no Wings, Denny Laine, em "Jet". Por falar nisso, o show também reforça a qualidade do álbum Band On The Run, um dos preferidos da casa, e que comemora meio século de vida.

Foto: Marcos Hermes
 
Como contamos aqui na nossa resenha do show de São Paulo, essa turnê é recheada de momentos particularmente comoventes. Num desses, McCartney surgiu num palco elevado, de uns cinco metros de altura, onde era exibido um pássaro preto voando, e apresentou sua versão de "Blackbird" - tirada do icônico álbum branco dos Beatles, de 1968. A versão acústica contou com a cantoria de todo o estádio e emocionou muitos fãs. Lágrimas também surgiram aos montes numa apoteótica execução de "Hey Jude", que contou com cartazes para criar o maior mosaico que o Maracanã recebeu este ano. Afinal, todas as torcidas estavam ali, unidas, cantando pelo mesmo propósito e criando o momento mais catártico do ano nas arquibancadas do Brasil em "NA-NA-NANAAA, NA-NA-NANAAA".

E não há como deixar de citar o espetáculo sensorial de "Live And Let Die", transbordado por uma pirotecnia deslumbrante, com fogos de artifício, lasers, labaredas e um ritmo alucinante de luzes estroboscópicas. O termômetro emotivo voltou a subir no bis com a imagem de John Lennon no telão cantando a canção "I've Got A Feeling", num dueto virtual com Macca. Ainda teve "Birthday", uma versão porradona e impressionante de "Helter Skelter", e a cantoria expansiva no canção-hino "Carry That Weight". 

Antes de deixar o palco após a última nota de "The End", McCartney agradeceu a plateia e prometeu voltar, o que encheu de esperanças os corações dos que sofrem antecipadamente por seu abandono dos palcos. Afinal, além de ser um dos artistas mais queridos do mundo, ele promove em seus shows, uma verdadeira celebração à música, e ter oportunidade de presenciar isso é uma dádiva incontestável. Tanto que o sentimento de satisfação de todos que deixavam o estádio do Maracanã estava estampado nos semblantes emocionados de todas as idades. 

Um baita privilégio para qualquer amante de música ter vivido na mesma época que Paul McCartney.

 ASSISTA ABAIXO A COBERTURA EM VÍDEO COM TRECHOS DO SHOW 
 

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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