A primeira vez em que Paul McCartney tocou no Brasil foi
em abril de 1990, no famoso “Paul in Rio”, em duas apresentações lendárias num
Maracanã completamente lotado. De lá pra cá muitas foram as vezes que o
ex-Beatle voltou ao Brasil e fez a alegria de fãs por todo o país e uma coisa
nunca mudou: o extremo carisma, carinho, empatia e vitalidade do menino Paul.
Chegamos em 2023 e depois de passar por Brasília, com
direito a show surpresa intimista num pequeno espaço para poucos e felizes, e por
Belo Horizonte, a “Got Back Tour” chega a São Paulo numa quinta-feira quente e
com estádio lotado desde cedo, para o primeiro de três shows na cidade, antes
de partir para Curitiba e Rio de Janeiro. Enquanto se ajeita, o público pode
escanear com seus smartphones um QR Code que aparece no telão e leva diretamente
a página de merchandising oficial do músico inglês, é a tecnologia cada vez
mais presente.
Sem banda de abertura, um DJ animou a plateia desde as 19h00min
com um repertório que incluiu canções de Paul McCartney em diversas fases
diferentes, passando por Beatles, Wings e até a parceria com Stevie Wonder na
belíssima “Ebony and Ivory”, que empolgou e fez a galera cantar junto e dançar
muito.
Quando batem 20h00min, o DJ se retira discretamente, as luzes apagam e
os telões mostram praticamente meia hora de imagens de Paul McCartney em toda
sua carreira, embaladas por músicas que acompanham gerações e gerações, para
quem já esteve nas turnês anteriores do cavaleiro britânico, não existe
surpresa, o script se repete. Mas, é legal frisar que o público se renova, e
muito! Os velhos fãs dos Beatles estão todos ali, mas os filhos e netos vieram
também, é um espetáculo para toda a família.
Paul McCartney sobe ao palco e “Can’t Buy Me Love” é a
primeira pérola de uma noite para não esquecer. O ex-beatle, como sempre faz,
arrisca palavras em português, faz caras e bocas e agrada sempre a todos. O
repertório é conhecido, as homenagens também, mas não importa! Você poderá
assistir dez turnês de Paul McCartney, ele te emocionará em todas.
Homenagens para esposa e Lennon
Mesclando o trabalho dos Wings, sua banda no início da
década de 70 e The Beatles, o que se ouve é uma avalanche de sucessos
atemporais: “Letting Go”, “Got to Get You Into My Life”, “Getting Better”, “Let
‘ Em In”, “Love Me Do”, “Jet”, e a primeira homenagem é para sua esposa Nancy,
com a música “My Valentine”. “Here Today” ele dedica para John Lennon e “Something”
para George Harrison, quando toca um ukelelê – que é outro detalhe a se
destacar, o famoso baixista dos Beatles só não tocou bateria, de resto: baixo,
piano, guitarra, banjo o que vier ele toca, e bem.
O público não tem tempo de respirar ou secar as lágrimas,
a banda manda uma sequência de músicas para ninguém botar defeito: “Ob-La-Di, Ob-La-Da”,
“Band on the Run”, “Get Back”, “Let it Be”, “Live and Let Die”, a famosa música
tema do agente 007 em “Viva e Deixe Morrer”, regravada pelos Guns’N’Roses e que
sempre nos traz uma experiência fantástica, com explosões e fogo para todo lado
e o encerramento apoteótico da primeira parte do show com a belíssima “Hey Jude”. Nesse momento, Paul rege o coro de quase 50 mil vozes, alternando em “agora os homens”,
“agora só as mulheres”, “agora todos juntos” - algo absolutamente lindo.
E como se já não tivéssemos emoção o bastante até aqui, o
longo bis tem início de forma absurda: “I’ve Got a Felling” traz Paul McCartney
num dueto lindo com ninguém menos que John Lennon, que aparece nos telões
cantando junto, em imagens tiradas do famoso show dos Beatles no terraço do
edifício da Apple, em 1969. Avassalador! Na sequência, McCartney pergunta quem
faz aniversário neste dia e dedica “Birthday” a todos.
O público que já está empolgado explode de vez com “Sgt.
Peppers Lonely Hearts Club Band” e “Helter Skelter” e o show se encerra com Paul
apresentando sua fantástica banda: Paul “Wix” Wickens, nos teclados, Rusty
Anderson, na guitarra, Brian Ray, na guitarra e baixo e o absurdo baterista Abe
Laboriel Jr. e a mesma sequência que finda o álbum Abbey Road, de 1969: “Golden
Slumbers”, “Carry That Weight” e “The End”.
Ele está com 81 anos, não sabemos se voltará ao
país, mas, com essa vitalidade e tesão pelo que faz, aposto que Sir Paul McCartney
tem muitos brasileiros a emocionar ainda.