Roger Waters em São Paulo: sem surpresas mas estupendo como sempre

Foto: Marcos Hermes
 
E chegou a São Paulo a “This is Not a Drill”, a possível “última turnê mundial” de Roger Waters, o talentoso, principal compositor e cabeça pensante do PINK FLOYD, e, depois de shows em Brasília, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte, nada do que vimos no palco montado no Allianz Parque foi surpresa, em tempos de internet, os spoillers voam, sabemos o repertório, as falas e tudo mais o que acontecerá nesta turnê, onde tudo é muito bem ensaiado e milimetricamente perfeito na execução, como cabe a um artista desta envergadura. E, ainda assim, sem surpresas, estar diante deste ícone, é estar em êxtase absoluto por cerca de duas horas e meia de espetáculo.

Sem bandas de abertura, às 20:05 temos o primeiro recado, na voz grave de Roger Waters: “Ladies and gentlemen, the show will start in 15 minutes” (“Senhoras e senhores, o espetáculo começará em 15 minutos”), repetido faltando 10 e 5 minutos, até que às 20:20, a frase que todos já sabiam que chegaria: “Antes de começar, duas mensagens públicas: Primeiramente, em consideração aos demais espectadores, por favor, desliguem os seus celulares. E em segundo lugar, se você é um daqueles que diz ‘eu amo o Pink Floyd, mas não suporto a política do Roger’, vaza pro bar!”, numa tradução simpática, que omitiu o “fuck off” que o Roger disse.



E, tem início o espetáculo com a versão “The Lockdown Sessions” para o clássico “Confortably Numb”, que originalmente fecha o lado 3 do álbum The Wall, de 1979, e é marcada pelo lindo solo de David Gilmour, mas aqui ganha uma versão contida, introspectiva e, ainda assim, muito bela. A sequência é arrasa quarteirão: “The Happiest Days of Your Lives”, “Another Brick in the Wall – Part 2” e “Another Brick in the Wall – Part 3”, a partir daí, o mundo está nas mãos de Roger Waters e ele pode tudo o que quiser.

Em seguida, três músicas da carreira solo de Waters: “The Powers That Be”, do disco Radio K.A.O.S., de 1987, “The Bravery of Being Out of Range”, do álbum Amused to Death, de 1992 e “The Bar”, a mais recente faixa gravada pelo mestre, tocada ao piano, num clima intimista.
 
Foto: Marcos Hermes
 
E voltamos ao Pink Floyd, com “Have a Cigar”, seguida de “Wish You Were Here”, quando a história do início da banda e da amizade de Roger Waters com Syd Barret é contada no telão e chega “Shine on You Crazy Diamond”, com imagens da banda na época projetadas e levando boa parte do público às lágrimas. O telão é didático e explica que em 1977, o Pink Floyd gravou Animals e que isso foi uma homenagem de Roger Waters a dois escritores e suas obras: George Orwell e seus livros “A Revolução dos Bichos” e “1984”e Aldous Huxley, com “Admirável Mundo Novo”, ouvimos “Sheep”, com uma simpática ovelha gigante flutuando pela plateia.

Um intervalo de 20 minutos é anunciado, quando o famoso porco inflável de “Animals” aparece voando e a banda volta com “In the Flesh”, seguida de “Run Like Hell”, ambas do clássico e já citado, The Wall. Outro momento solo, que lembra o ótimo disco lançado em 2017, “Is This the Life We Really Want?”, quando ouvimos “Déjà Vu” e a faixa título.
 
Foto: Marcos Hermes
 
Hora de privilegiar o clássico The Dark Side of the Moon e Roger e banda tocam cinco faixas seguidas deste disco: “Money”, Us and Them”, Any Colour You Like”, “Brain Damage” e “Eclipse”, aqui em versões fieis aos disco original, deixando de lado a recente releitura gravada The Dark Side of the Moon Redux.

Roger Waters adora um discurso e, muito falante, explica que a próxima canção faz parte do último disco em que participou do Pink Floyd, The Final Cut, de 1983, e também aproveitou a deixa para convocar o público a participar de um ato em prol da Palestina a ocorrer no dia seguinte na Praça Oswaldo Cruz / Av. Paulista, quando foi muito aplaudido por isso. A banda toca “Two Suns in the Sunset” e, para finalizar, num clima novamente intimista, senta-se ao piano, conversa muito e tocam “The Bar” novamente, com toda a banda em volta, lembrando um despojado bar jazzístico, com a curtinha “Outside the Wall” fechando tudo, com Roger apresentando toda a banda e saindo com eles em fila indiana. Que espetáculo, senhoras e senhores.

Ricardo Cachorrão

Ricardo "Cachorrão", é o velho chato gente boa! Viciado em rock and roll em quase todas as vertentes, não gosta de rádio, nunca assistiu MTV, mas coleciona discos e revistas de rock desde criança. Tem horror a bandas cover, se emociona com aquele disco obscuro do Frank Zappa, se diverte num show do Iron Maiden, mas sente-se bem mesmo num buraco punk da periferia. Já escreveu para Rock Brigade, Kiss FM, Portal Rock Press, Revista Eletrônica do Conservatório Souza Lima e é parte do staff ROCKONBOARD desde o nascimento.

2 Comentários

  1. Ótima descrição do espetáculo incrível de ontem. Agradeço por ter compartilhado o setlist!

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