Glenn Hughes prioriza fase Coverdale do Deep Purple em bom show no Rio

Foto: Zeone Martins
 
Já sem seu baixo Fender Precision empunhado, Glenn Hughes agradecia o público carioca. "Thank you very much, Rio. My name is Glenn.", com a voz levemente hesitante, mostrando certa timidez fora do modo 'frontman', pronto para deixar o palco após "Burn", do disco homônimo do Deep Purple, fechar a apresentação.

Na tour, o repertório é dedicado às fases III e IV da banda inglesa, em que foram registrados Burn (1973), Stormbringer (1974) e Come Taste The Band (1975), sem grandes mudanças. Em sua última vinda ao Brasil, em 2019, o inglês tocou quase o mesmo setlist, porém, com mudanças de formação em sua banda, algumas alterações nas canções e improvisos diversos, a performance de sexta-feira sua própria cara.

Como a maior parte do repertório é baseado na voz de David Coverdale, o baixista explorou mais a região médio-grave de sua voz. Mantendo os agudos característicos de suas partes originais nas canções apenas nestes trechos, foi interessante ouvir a voz de Hughes com uma impostação bem diferente de seu padrão, fora a versatilidade do cantor mesmo passando por uma forte gripe, que chegou a causar o adiantamento da apresentação de Curitiba, marcada para dois dias antes. 

Às 21:30, "Stormbringer" abriu o show com seu belo riff de guitarra e o vocalista driblando problemas com o retorno, sem se ouvir no volume adequado. Já empolgou o público de cara, assim como mostrou a qualidade da banda de apoio, que manteve os arranjos originais das canções por todo repertório, ao mesmo tempo que interpretava suas partes a própria maneira. 

Burn, álbum celebrado na tour, contou com a performance de  "Might Just Your Take Your Life", "Sail Away", "You Fool No One", "Mistreated" e a faixa-título, com os duetos vocais da primeira reproduzidos com a voz do tecladista Bob Fridzema. A segunda e a terceira, tiveram performances certeiras, dignas de lágrimas deste que voz escreve, "Mistreated teve outra reação acalorada do público, que cantou por toda a apresentação, além de mostrar os acertados improvisos de Glenn Hughes no baixo e o de toda a banda, com uma levada forte desta que, talvez, seja a música mais emblemática da fase Coverdale/Hughes do Deep Purple.

Felizmente incluindo canções do fase IV da banda, da época em que o habilidoso Tommy Bolin (James Gang, Billy Cobham) substituía Ritchie Blackmore na guitarra, "Gettin' Tighter" abraçada por Hughes como maior  representante de seus tempos no grupo, e "You Keep On Moving" contaram com performances inspiradas, e mostraram como Come Taste The Band ainda hoje merece mais atenção.

Vale lembrar que após a morte de Jon Lord e as tenebrosas regravações (e outra horrível tour) do Whitesnake para The Purple AlbumGlenn Hughes segue como único representante das fases III e IV do Deep Purple, então o clima festivo da noite também traz a tona o quanto o repertório destes álbuns segue sendo executado ao vivo por vontade do músico. Felizmente, aos 72 anos, o cantor segue em ótima forma física e musical, mas fica o lembrete de que uma próxima tour do tipo pode ser a última celebração deste período do Purple. 

Voltando para o bis para um cover de " Highway Star" (um dos poucos momentos dispensáveis da noite, já que poderia dar lugar, tranquilamente, a outra faixa da fase Coverdale/Hughes) e uma forte versão de "Burn", com toda a força e detalhes da composição presentes, se encerrou a bela apresentação de Glenn Hughes na casa Sacadura 154. Prometendo voltar ano que vem, como novo álbum e uma nova tour voltada para sua carreira solo, fica a indicação para que o leitor não perca a oportunidade de conferir a força do músico (e de sua banda) ao vivo. 

Zeone Martins

Redator, tradutor e músico. Coleciona discos e vive na casa de vários gatos. Ex-estudante de Letras na UFRJ. Tem passagens por várias bandas da região serrana e da capital fluminense.

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