Em show lotado, Måneskin mostra que o rock continua carismático e juvenil

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
Improvável. Essa seria a melhor palavra para definir o sucesso do Måneskin no mundo inteiro. Quem assiste um show deles hoje, pode até dizer que eles soam totalmente roteirizados ao que se espera de uma banda de rock básica. Mas basta lembrar que eles começaram nas ruas de Roma, na Itália, e que alcançaram a geração Z após viralizarem no tik tok por conta de um cover de "Beggin'" - uma música bem mais ou menos, diga-se de passagem - que as teorias do sucesso são logo enterradas. Mas afinal, o que tem de tão diferente no Måneskin a ponto de lotar uma das maiores casas de shows do Rio de Janeiro, com direito a tietagem em aeroporto e fãs acampados em portas de hotel? Quem foi no Qualistage nesta última quarta-feira (01) teve a resposta.

O Måneskin nada mais é que uma banda jovem, extremamente carismática, e performaticamente inspirada nos anos 70. Esteticamente, seus integrantes possuem um charme próprio, cada um no seu estilo, e isso, lógico, impulsiona a conexão entre o grupo e seus fãs apaixonados. Já na questão sonora, eles são um grupo ainda em evolução. Rush, o último álbum, é um conjunto de canções funcionais, que trazem uma banda entendendo onde quer chegar [leia a resenha AQUI]. Não há ainda um hino aqui, e seria exagero dizer que o disco é um marco no novo cenário do rock. Mas isso não importa. O grande mérito desse quarteto romano é que eles não estão nem aí para revoluções musicais. Assim como o seu público, o Maneskin se apega na juvenilidade e parece apenas querer curtir essa fase de rockstars mundiais.

Italianos jovens e carismáticos
 
Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
Adolescentes e pessoas de cabelos grisalhos estão aglomeradas num Qualistage abarrotado só para ver a nova sensação do rock mundial. Não é por menos. No Spotify, principal plataforma de streaming da atualidade, o Måneskin reúne mais de 20 milhões de ouvintes mensais e está no mesmo patamar de bandas consagradas e cheias de discos no catálogo, como Metallica e Foo Fighters. No entanto, hoje é uma noite triunfal para os amantes do rock. Isso, porque ao contrário dos artistas mais ouvidos de rock nas plataformas, os integrantes do Maneskin possuem pouco mais de 20 anos de idade e seu público é majoritariamente jovem. Além disso, há muitas meninas também. 

Mas a grande expectativa da noite era ver se as músicas do último álbum funcionariam ao vivo e se eles iriam manter o nível de apresentação daquilo que foi visto por milhões de pessoas no Rock in Rio, ano passado. Será que a banda está conseguindo acompanhar o seu crescimento artístico na velocidade que são expostos a uma super popularidade? Bem, levando em consideração o show desta noite, podemos dizer que felizmente, a banda não decepcionou. 

Num resumo bem raso, o show do Måneskin nada mais é que um bombardeio de canções muito bem tramadas, com carisma implacável e energia selvagem no palco. É um show de rock para todas as idades, mas principalmente para quem ainda tem juventude em seus pulmões e quadris (ou joelhos).

Um show para quem gosta de rock
 
Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
O grupo entrou ao som de "Don't Wanna Sleep", boa canção do último álbum, e excelente escolha para abrir a noite. Com poucos segundos, já dava pra sentir: jogo ganho e de goleada. A cantoria dos fãs era tão alta, que era impossível ouvir a voz de Damiano. Isso também aconteceu em "Gossip", hit dançante, que tem a participação de Tom Morello (Rage Against The Machine) [que possui um dos vídeo clipes mais legais do ano]. Já o novo - e ótimo - single, "Honey (Are U Coming?)", mostra que o grupo deve seguir um caminho mais dedicado às guitarras de Thomas Raggi, que é inclusive, o que se vê no palco.

O repertório também é muito coeso. Além das escolhas óbvias, como "Supermodel", "Beggin'" e "I Wanna Be Your Slave" - essa tocada duas vezes na noite -, a sequência das canções foram bem escolhidas e ajudaram a fazer uma boa junção das várias fases da banda. Com exceção do momento intimista - onde a banda atravessou no meio do público, para subir num segundo palco e fazer uma cancha voz e guitarra com citação a Cazuza ("Exagerado") -, a impressão é que eles optaram por músicas que funcionam melhor num show de rock. Pensado dessa maneira, até poderíamos questionar algumas ausências como "La Fine" ou "Mark Chapman", do álbum Rush, mas o fato de não terem deixado o passado de lado nas ótimas "For Your Love", que tem um quê de Live, fase Throwing Cooper, e "In Nome Del Padre", serviram para mostrar um lado pesadão da banda, que é pouco conhecido pelos fãs de "Beggin".
 
Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
Ao vivo, fica muito evidente que o som do Måneskin nada mais é que um rock 'n' roll puramente alegre, que ganha potência nos duelos de Raggi com a baixista Victoria De Angelis. Aliás, o guitarrista é quem se sobressai na performance musical do grupo. Ele é quem coloca energia no repertório com seus riffs e solos que fritam os amplificadores. Se o som do grupo não tem nada de virtuoso, o show tem. E isso é garantido por Raggi, que inclusive tem um momento só seu na apresentação, com três minutos sozinho no palco solando a esmo. 

No final, dois grande momentos. Em "Kool Kids", canção da banda à la Idles, o palco foi invadido por fãs que se amontoaram em cima dos integrantes, principalmente de Victoria e Damiano. Ao vivo, a música tem uma versão estendida, e ultrapassa os 4 minutos de duração, o que a deixa ainda mais vigorosa. Mas nada se compara ao final arrebatador com "The Loneliest", que é sem dúvidas a grande balada da banda. Nesse momento, brilha a estrela de Thomas Raggi, que remete ao guitarrista do Guns N'Roses, Slash, em solo marcante. 

Eles só querem se divertir
 
Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
O show foi divertido, provocativo, misterioso e totalmente conectado ao seu público, que enlouquecido, recebeu da banda muitos drops do que o rock tem - e sempre teve - de melhor, que é a aquela tal "espontaneidade ensaiada" (quem nunca?). E isso mostra que o rock pode sim, ainda ser carismático e juvenil nesses novos tempos. E isso funciona mesmo mantendo vários clichês batidos e repetidos por um monte de gente, e no caso do Maneskin, costurando vários retalhos sonoros aqui e acolá. Sim, o rock não precisa ser sempre revolucionário e inovador para ser legal. Aliás, o rock nunca falou sobre isso.

Ninguém sabe para onde vai o Måneskin após o sucesso de Rush. Nem mesmo dá pra saber se eles vão para algum lugar que os reservem na prateleira de estrelas do rock da nova geração. Pegando o show deles desta noite como referência, parece que eles não estão muito preocupados com isso. Tão é curtindo a vibe. No entanto, é evidente o compromisso do grupo em aprimorar sua habilidade no palco, e criar músicas que sejam adequadas a esse fundamento. E esse compromisso, com os palcos e seus fãs, já vale uma noite de rock em qualquer lugar do mundo.

 ASSISTA ABAIXO A COBERTURA EM VÍDEO COM TRECHOS DO SHOW 
 

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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