Roger Waters: show no Rio é intimista, emotivo e sempre memorável

Foto: Lucas Tavares
 
"Não sei se tenho como fazer mais turnês como essa, mas estou me divertindo muito esta noite!”, diz Roger Waters, já próximo do final da apresentação no Estádio Nilton Santos no Rio de Janeiro. Aliás, numa noite em clima de despedida, tivemos um Waters que conversou bastante com a plateia. Retribuiu carinho, respondeu várias declarações de amor, como por exemplo nos gritos de "Roger, eu te amo!", entoada pela galera do gargarejo.

“Você, eu também te amo! Amo todos vocês”, dizia de forma totalmente particular. Resumindo: ele estava se sentindo mesmo em casa.

Como todo mundo já sabe, "This is Not a Drill" é a turnê de despedida do lendário baixista e principal compositor do Pink Floyd que, nesta noite de sábado (28), tocou para um público fiel e de todas as idades. Mesmo com uma produção menos espalhafatosa que em outras passagens, o aspecto visual ainda sim, é surpreendente.
 
"Vaza para o bar!"

"Se você é um daqueles fãs de Pink Floyd que não suportam a política do Roger, vaza pro bar!". Essa era a mensagem que aparecia no telão para anunciar o início da apresentação, que atrasou um pouco (cerca de 20 minutos) por diversas questões, como por exemplo, o acesso ao público no estádio.

E sim, foram muitas mensagens políticas. Dessa vez, podemos dizer que o público não estava tão desavisado como na sua última - e polêmica - passagem, no meio do processo eleitoral brasileiro em 2018. Mas fora o lado ideológico, podemos dizer que Roger Waters está no auge dos seus 80 anos de idade. O músico dá um show a parte com sua vitalidade e voz – canta, dança, discursa, toca vários instrumentos como baixo, guitarra, violão e piano - no meio de toda a produção tecnológica.

Logo na primeira música do espetáculo, uma versão reformulada de "Comfortably Numb", ele entra no palco representando um médico empurrando uma pessoa em estado terminal na cadeira de rodas. Não é de hoje que Roger Waters introduziu teatralidade em seus shows. “Hello! Tem Alguém aí?” Soa a letra da música com a banda ao fundo em som alto, limpo e com uma qualidade sonora rara em grandes estádios. Destaque inicial da noite vai para suas backing vocals, Amanda Belair  e Shanay Johnson.

Hinos do Pink Floyd e ataques aos presidentes

Clássicos e mais clássicos do Pink Floyd estiveram presentes nos primeiros momentos do show, principalmente com "The Happiest Days of Our Lives" e uma cantoria uníssona do estádio em "Another Brick in the Wall", acompanhada de projeções que variavam entre Roger e vários trechos do clipe e inúmeras imagens nos telões que compõem o palco. 

O mais legal de um show de Roger Waters, é que cada música no repertório é uma viagem e experiência a parte. As mensagens políticas são fortes e sinceras; os presidentes dos EUA – Clinton, Bush, Biden, Trump, Reagan, Obama - são chamados de criminosos de guerra com todos os seus feitos listados no telão em português, assim como as minorias oprimidas como negros, trans, povos originários, mulheres e o tema atual do mundo: palestinos.

Homenagens ao ex-companheiro de Floyd
 
O repertório também reserva músicas do seu trabalho solo, como a linda "The Powers That Be" e "The Bar", onde o público é realmente convidado e envolvido para um momento clima de bar no show. Na sequência temos "Wish You Were Here" que conta a história dele e Syd Barrett - ambos fundaram o Pink Floyd junto de Richard Wright, tecladista, e do baterista Nick Mason -, que deixou a banda por problemas mentais. As dedicatórias a Barret, que morreu em 2006 de câncer, continuam em “Shine on You Crazy Diamond". Já "Sheep", reserva o momento espetaculoso da noite, com uma ovelha que “sai” dos telões para voar no meio do publico antes mesmo da canção ser iniciada - essa é a chamada experiência sensorial dos shows de Waters.

Após 20 minutos de intervalo o tão famoso porco de The Wall também deus as caras e sobrevoou a plateia, para anunciar as sensacionais "In the Flesh" e "Run Like Hell". 

Meio século de um clássico em versão original

O álbum mais famoso da historia da música que completa 50 anos este ano não poderia ficar de fora. The Dark Side of The Moon foi inclusive, regravado por Waters em versão solo este ano. Mas para a felicidade de todos, no show desta noite, as versões tocadas foram as originais, em aspecto fiel. "Money", "Us and Them", "Any Colour Your Like", "Brain Damage" e "Eclipse" lavaram a alma dos presentes com execução divina dos músicos, com destaque aos guitarristas Dave Kilminster e Jonathan Wilson, que apoiam também nos vocais em algumas músicas onde a voz de David Gilmour casa melhor nas versões originais.

Já no final, Roger Waters dedicou a segunda parte de "The Bar" para sua mulher Camila e seu irmão John que faleceu este ano. Ele revelou inclusive que pegou algumas frases de “Sad eyed lady of the lowlands”, do disco Blonde on Blonde, de Bob Dylan. Num formato de “bloco de carnaval”, com os músicos andando no palco com seus instrumentos, a banda foi apresentada e foi deixando o front. Eis que os telões descem e exibem a imagem do grupo finalizando o show já no fundo do palco, com Roger Waters totalmente descontraído e se divertindo bastante. Até que a banda executa a última nota e a exibição é encerrada.

Foram tantas as mensagens, ativismos, discursos vorazes e amorosos, tecnologia com imagens incríveis, som de qualidade inigualável, lembranças a história de sua carreira e ex-banda, sentimentos atuais e história que o que fica é que de fato: foi um show do Roger Waters. E não foi mais um.
 
 ASSISTA ABAIXO A COBERTURA EM VÍDEO COM TRECHOS DO SHOW 
 

Rom Jom

Fotógrafo, jornalista, mochileiro, baixista, punk rocker e decano de roda de pogo. Pela Rock On Board cobriu vários festivais como Maximus e RIR além de entrevistas com Rival Sons, Linkin Park, Cypress Hill, Comeback Kid, Red Fang e muitas outras.

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