Rio Montreux Jazz Festival tem shows impecáveis de John Patitucci e Mike Stern

Foto: Rogerio Von Kruger
 
Começou nesta quarta-feira, 11 de outubro, a terceira edição do Rio Mountreux Jazz Festival, edição carioca do emblemático festival suíço, que sempre escala grandes nomes do jazz com artistas de diversos estilos, e que também ficou eternizado na letra de "Smoke On The Water", clássico do Deep Purple de 1972. 

Para a noite de quarta-feira, foram escalados grandes nomes do Jazz: John Patitucci, com seu Eletric Guitar Quartet e o guitarrista Mike Stern, que substituiu Al Di Meola, que teve sua turnê cancelada por problemas de saúde. Mantendo uma estrutura de dois palcos, as atrações internacionais ocorreram no palco Villa-Lobos, enquanto no palco Village, houveram duas sessões (idênticas) do Yebo Musical, apresentadas pela companhia paulistana Gumboot Dance Brasil.

E o musical é centrado nas coreografias Gumboot, estilo de dança surgido nas minas de carvão da África do Sul, pela necessidade de comunicação de diferentes entre grupos e tribos escravizados pelos europeus no XIX. Contando com uma banda afiada, a performance é calcada em coreografías complexas, extremamente bem ensaiadas, e que trabalham a percussão com passos, assim como batidas nas botas características dos trabalhadores citados. 

Contando também com vocalizacões e cantos, muito bem articulados e apresentando as belas vozes de Munique Costa e Pamela Amyy, o grupo levantou a plateia, contou um pouco da origem do Gumboot e sua função de resistência anticolonial, além de, no clima de um festival de jazz, apresentar músicos também versados no estilo. Destaque também para a 'competicão', em um tom bem humorado, de dança entre as dançarinas, que improvisaram em cima de um dos temas tocado pelo quarteto instrumental formado por (nome dos integrantes) e confirmando o eficiente e intenso trabalho do coreografo Rubens (adicionar sobrenome), diretor do projeto.

Às 22:38, o John Patiitucci antecedeu "Band Of Brothers " primeira da noite, indo ao microfone, para comentar que o repertório seria baseado em composições próprias e standards do jazz,  e apresentou os guitarristas David Gilmore, que empunha uma Gibson Es335 e Steven Cardenas, que usa uma Fender Telecaster com captadores Humbucker, além do baterista Brian Blades. Em uma hora de show, o Eletric Guitar Quartet do baixista foi preciso, elegante e esbanjou da habilidade e entrosamento dos integrantes, que, entre os responsáveis pelas cordas, foram parte da banda do saxofonista Wayne Shorter, homenageado da noite tanto com a interpretação de suas composições, quanto com temas que prestam respeito a sua pessoa, como "The Watchman", do próprio Patitucci. O músico ainda saudou Carolina, viúva de Shorter, que estava presente no evento.

Demonstrando técnica em favor da apresentação e das composições, o lendário baixista americano, executa temas, solos e licks complexos com facilidade, além de fazer bases e acompanhamentos 'de luxo' para as dobras e solos de guitarra da dupla Cardenas e Gilmore. Falando dos dois, Steve Cardenas possui uma abordagem mais melódica e sútil, enquanto David Gilmore apresenta linhas de guitarra em velocidade mais alta, se complementando em duetos e alternância de solos por toda a apresentação. 

Ao fim da apresentação, após um efusivo pedido de bis de uma empolgada platéia, o produtor musical Marco Mazzola, curador musical do Rio Mountreux Jazz Festival, foi ao microfone e convidou o baixista e sua banda para retornar ao palco e executar mais uma canção. A escolhida foi "Keep Your Eye On The Prize" canção folk-gospel americana, que teve sua execução na noite baseada na versão da cantora e ativista dos diretos civis Mavis Staples. A versão mais uma vez primou pelos acompanhamentos e temas, com a melodia vocal adaptada tanto o baixo de 6 cordas de Patitucci, que também usa um baixo de 5 cordas em alguns temas, quanto para mais duetos de guitarra da dupla das (outras) 6 cordas. A faixa fechou com primazia a impecável primeira apresentação internacional da noite de sexta.

Por volta de 00:10, e minutos após algumas brincadeiras com a parte do público estava a frente do palco durante a troca de equipamento e últimos ajustes no palco, Mike Stern iniciou o show anunciando uma composição de sua esposa, Leni Stern, também guitarrista, que cantou "Like a Thief" tocando n'goni (instrumento tradicional africano) e mostrou habilidade em solos mais melódicos ao decorrer do setlist.

O virtuoso guitarrista, teve que repreender o instrumento após uma queda em 2016, que lhe rendeu fraturas nos dois braços. Mudança imperceptível para quem presenciou o repertório da noite desta quarta-feira, ainda que possa se notar os movimentos peculiares que o guitarrista faz para palhetar. A guitarra de Mike Stern permeia o repertório em  temas, acordes arpejados, bases e sinalizações para outros músicos após extensos improvisos, fora os característicos solos do guitarrista, que por vezes também faz vocalizacões que acompanham linhas do instrumento.

A banda de apoio do guitarrista também é um dos destaques: Bob Franceschini, no saxofone, é um solista de primeira linha, roubando a cena a cada momento dedicado ao instrumento, enquanto Lincoln Goines e Juan Chiavassa cuidam da sessão rítmica com precisão e eficiência, também brilhando nos momentos solo e na condução de suas linhas em acompanhamentos. 

Após pouco mais de uma hora de apresentação e com a plateia em êxtase, o guitarrista anunciou o fim do show e apresentou mais uma vez toda a banda. Retornando para o bis com "Red House" de Jimi Hendrix, cantou bem e garantiu, assim como John Patitucci, uma noite imperdível para os presentes no morro da Urca, fazendo jus a fama do Mountreux Jazz Festival suíço e carioca. Conselho amigo: não deixe de ir a um show de nenhum deles.

Zeone Martins

Redator, tradutor e músico. Coleciona discos e vive na casa de vários gatos. Ex-estudante de Letras na UFRJ. Tem passagens por várias bandas da região serrana e da capital fluminense.

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