Black Flag faz uma grande celebração do punk rock em dois atos

 
Finalmente chegou a São Paulo a My War Tour 2023, turnê que se iniciou em março, no Texas, onde os californianos do BLACK FLAG estão comemorando os 40 anos de lançamento de seu clássico segundo álbum, “My War”, lançado em 1983.

Para abrir a noite, a sempre divertida aula de história ministrada pelo professor Mao e seus GAROTOS PODRES, banda do ABC paulista que sempre empolga o público punk em qualquer lugar que tocam. Depois de resolvidas questões judiciais envolvendo o nome da banda, entre Mao e o antigo baixista, a banda está muito entrosada com, além de Mao, na voz e gaita, Deedy, na gutarra, Uel, no baixo e nesta noite com a estreia de Negralha, mandando muito bem na bateria.

O repertório é conhecido de todos e resume bem a carreira da banda, desde a abertura com “Garoto Podre”, até o encerramento com “Vou Fazer Cocô”, do primeiro disco deles, “Mais Podres do Que Nunca”, de 1985, passando pelo hino “Avante Camarada” e a boa versão dos italianos da banda Los Fastidos, “Antifa Hooligans”. Apesar das canções de protesto incorporadas ao repertório, dos bons covers – além de Los Fastidios, recentemente gravaram uma faixa da banda espanhola / basca Eskorbuto, “Mucha Policia, Poca Diversion”, sinto falta de material próprio inédito, mas, tenho consciência de ser voto vencido, o público quer mesmo é “Anarquia Oi!”. E assim seguem, bem.


Intervalo curto e, pontualmente, o BLACK FLAG inicia sua celebração, com a execução, na íntegra e na mesma ordem, do disco “My War”. Seguem os nove petardos: “My War”, “Can’t Decide”, “Beat My Head Against the Wall”, “I Love You”, “Forever Time”, The Swinging Man”, “Nothing Left Inside”, “Three Nights” e “Scream”. Opinião estritamente pessoal: “My War” é um excelente disco, muito pesado e fez história, mas, para ouvir em casa, para ouvir ao vivo, inteiro e na sequência, ele é cansativo, e muita gente queria ir embora, apesar da maioria estar totalmente empolgada, no pogo e no stage diving, para desespero do vocalista Mike Vallely, que se mostrou claramente contrariado com público sem noção que, não contente apenas em subir ao palco e pular de volta, faziam questão de agarrar os músicos.

Inusitado e inédito, ao fim da apresentação de “My War”, o vocalista Mike Vallely anuncia que a banda fará um intervalo de 10 minutos e retornará em seguida para seu greatest hits, e, mais inusitado ainda, os 10 minutos de intervalo foram embalados por jazz saindo do sistema de som da casa. Bom para acalmar os ânimos do público, que estava bem empolgado.

A banda retorna para o segundo ato com o single “Nervous Breakdown”, com “Fix Me” na sequência, o suficiente para os “sem noção” entrarem em ação e enervar de vez Mike Vallely, que não pensou duas vezes ao partir para cima do cara que o agarrou e o jogou de volta ao público, parando o show e exigindo da segurança que colocassem o rapaz para fora.

Ânimos abrandados e sequência arrebatadora do show com clássicos como “Wasted” ou “Jealous Again”, mas, quando é anunciada “Gimmie Gimmie Gimmie”, do álbum “Damaged”, é que não sobrou nada de pé. “Six Pack” manteve o mosh pit insano e, assim como na semana anterior, no mesmo local, no show da banda L7, as meninas não se intimidaram e entraram de igual para igual nas selvagens rodas de pogo. Com “TV Party” o público sabe que a festa está no final e com “Rise Above” a explosão é total.

O clássico “Louie Louie” é a última do set e serve para um show particular do excelente Greg Ginn, guitarrista e único membro original da banda. Confesso que chegou a cansar de tão esticada a música, por momentos, parecia que o punk estava virando progressivo de tanta frescura – e talento, na guitarra sempre afiada de Ginn, mas, bastou a música voltar ao andamento normal, o público pirou de vez e agradeceu demais esta nova visita da banda ao país.

Tudo excelente e a reclamar, apenas, o fato de que, desta vez, não houve venda de merchandising oficial da banda, como havia acontecido em 2020 – lembrando que a gravadora do Black Flag, a SST Records, é de propriedade do guitarrista Greg Ginn, mas, ainda assim, outra grande noite com estes senhores norte-americanos. Que voltem sempre.

Ricardo Cachorrão

Ricardo "Cachorrão", é o velho chato gente boa! Viciado em rock and roll em quase todas as vertentes, não gosta de rádio, nunca assistiu MTV, mas coleciona discos e revistas de rock desde criança. Tem horror a bandas cover, se emociona com aquele disco obscuro do Frank Zappa, se diverte num show do Iron Maiden, mas sente-se bem mesmo num buraco punk da periferia. Já escreveu para Rock Brigade, Kiss FM, Portal Rock Press, Revista Eletrônica do Conservatório Souza Lima e é parte do staff ROCKONBOARD desde o nascimento.

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