The Toy Dolls - A brincadeira completou 40 anos... e segue!


Com produção da Agência Powerline e assessoria da Tedesco Mídia (que prometem grandes espetáculos daqui para o final do ano – Black Flag, The Aggrolites e L7 entre eles, aguardem), chegou a vez de São Paulo receber a turnê comemorativa dos 40 anos de lançamento do primeiro LP dos TOY DOLLS, “Dig That Groove Baby”, lançado em 1983. A banda tem 44 anos de formação, nasceu em 1979, e antes da estreia em LP já havia lançado um compacto e um EP, que já traziam músicas que se tornaram grandes clássicos da banda, como “She Goes to Finos” e “I’ve Got Asthma”.

Mas antes dos ingleses de Sunderland começarem sua festa, a noite quente paulistana teve a acertadíssima banda SKAMOONDONGOS abrindo o show. Com seu vigoroso ska-punk antifascista, liderados pelo baterista Wellington de Melo e a voz de Axl Rude, abriram o show com o grito “Contra!” e colocaram toda a plateia, que já superlotava a casa, para dançar.

Com Axl Rude sempre deixando muito clara a posição da banda de ódio ao fascismo, racismo, homofobia e qualquer tipo de opressão, eles desfilam seu repertório agradando a todos os presentes, e, o que é melhor, principalmente a quem ainda não os conhecia. As clássicas “Pobre Plebeu” e “Segunda-feira 13” é claro que estavam lá, e ainda empolgaram com “Ska com Maracatu”, onde cantam “A Cidade”, de Chico Science & Nação Zumbi como música incidental.

Em breve discurso, o baterista Welligton de Melo lembra que tinha 14 anos em 1988 (como eu) e estava presente no primeiro show do Toy Dolls no Brasil (como eu), marcado pela covarde agressão que o guitarrista e vocalista inglês Michael “Olga” Algar sofreu de um skinhead fascista, que escalou o palco e acertou um soco no artista, o que gerou briga generalizada e encerramento do show, e menciona a honra que é estar dividindo o palco com os ingleses 35 anos depois disso. Wellington também lembra o lamentável caso do amigo e baixista Mingau, do Ultraje a Rigor, baleado dias atrás em Parati – RJ, e que ainda encontra-se internado em estado grave, pedindo pensamento positivo a todos.

Ainda teve tempo para um “parabéns à você” de toda a plateia, após Axl Rude dizer que é dia do aniversário do guitarrista Nicolas Miranda, que se juntou à banda não tem muito tempo, mas está entrosado como velho companheiro. E o show se encerra de forma apoteótica, com toda a plateia entoando os versos de “Medo”, cover do Cólera que os Skamoondongos gravaram recentemente e o clássico antifascista “Bella Ciao” encerra os trabalhos de uma banda coesa, cheia de energia e muito bem ensaiada e entrosada, que sempre empolga com sua perfeita união de baixo-guitarra-bateria e metais.

Com uma espera não muito longa e uma lotação cada vez maior, as luzes se apagam e começa a gravação de “Happy Birthday” e a vinheta “Theme Tune”, que são a deixa para a banda entrar no palco já detonando “Fiery Jack”, do álbum comemorado esta noite, “Dig That Groove Baby”. Este show de punk rock está um pouco diferente do tradicional, por absoluta falta de espaço, não existem rodas de pogo, é só o público vibrando e cantando com Olga, com o baixista Tommy Goober e o baterista The Amazing Mr. Duncan.

O desempenho de palco dos músicos permanece o mesma depois de décadas, são passinhos ritmados, sorrisos, brincadeiras e figurino todo combinado. Acabada a primeira música, Olga e Tom Gloober já começam as piadas ao tirar os paletós, gravatas e começarem uma “disputa” entre eles, mas não tarda o som voltar com “Cloughy Is a Bootboy!”, do disco “Wakey Wakey!”, de 1989. Do disco de 1991, “Fat Bob’s Feet”, vem o próximo som: “Bitten by a Bed Bug”.

O show continua com “Fistcuffs in Frederick Street”, que originalmente está no segundo LP da banda “A Far Out Disc”, de 1985, mas que aqui no Brasil ficou mais conhecida quando da primeira visita deles ao país, em 1988, quando o Estúdio Eldorado lançou as edições nacionais de dois discos, o de estreia e o “Bare Faced Check”, de 1987, que também tem esse som.

Do disco lançado em 2004, “Our Last Album?”, tiraram “The Death of Barry de Roofer with Vertigo”, seguida de “Benny the Boxer”, faixa do último disco dos Toy Dolls, “Episode XIII”, de 2019. Sempre importante lembrar que até aqui todas as gracinhas, corridas pelo palco, caras e caretas, passinhos e tudo o mais que se espera dos Toy Dolls acontece, ininterruptamente.

Voltando ao disco que mais interessa nesta noite, duas faixas seguidas de “Dig That Groove Baby”: “Up the Garden Path” e a mais que clássica “Dougy Giro”. Se acabasse aqui, eu já me dava por satisfeito, mas, tinha muito mais pela frente! E do “Toy Dolls EP”, de 1981, vem a divertidíssima “I’ve Got Ashtma”, jogo completamente ganho, público extasiado e ensopado com o calor infernal que os ventiladores e umidificadores recém-instalados na casa não conseguem fazer a situação melhorar muito. Outra do primeiro disco, e após brincadeirinha Olga “pisando no inseto” no palco, a banda manda “Spiders in the Dressing Room”.

“El Cumbachero” é outra do último disco, “Episode XIII”, tocada nesta noite. Chega a hora de um desfile de clássicos, após a já conhecida performance de Olga, para quem já conhece a banda, pelo menos em vídeo, com uma garrafa gigante de vinho Lambrusco que “cospe” papel picado na plateia, , eles tocam “The Lambrusco Kid”, do disco “Idle Gossip”, de 1986. Sequência matadora com “Nellie the Elephant”, seguida de “She Goes to Finos”.

O show continua com a já conhecida, ótima e acelerada versão que Olga faz de “Toccata in D Minor”, de Johan Sebastian Bach, seguida de “Alec’s Gone”, que faz parte de “Absurd-Ditties”, álbum de 1993, que é cantada a planos pulmões por todos os presentes. Um breve solo de bateria de The Amazing Mr. Duncan para Olga e Tom Goober se refrescarem e já voltam com tudo com a cover de “Wipe Out”, que sempre empolga, seja com quem e onde for tocada.

O show se encaminha para o final, todos sabem disso e a empolgação é a mesma desde a abertura, e chega a vez de ouvir “Dig That Groove Baby”, a faixa título do disco comemorado nesta turnê. Quase nem deu tempo da banda sair para o mise-em-scène do bis, comum em qualquer show, e já voltaram com a trinca final: “When the Saints Going Marching In”, clássico tradicional gospel, muito tocado por grupos de jazz, e imortalizado, principalmente, por Louis Armstrong é seguida de “Glenda and the Test Tube Baby”, do primeiro disco, cantada em coro de forma emocionada por todos e “Idle Gossip”, do disco homônimo de 1986 encerra a festa, com bolas gigantes com o roto de Olga caindo sobre a plateia, final já manjado, mas sempre comemorado.

44 anos de estrada, brincando, se divertindo e encantando, esses são os TOY DOLLS.

Ricardo Cachorrão

Ricardo "Cachorrão", é o velho chato gente boa! Viciado em rock and roll em quase todas as vertentes, não gosta de rádio, nunca assistiu MTV, mas coleciona discos e revistas de rock desde criança. Tem horror a bandas cover, se emociona com aquele disco obscuro do Frank Zappa, se diverte num show do Iron Maiden, mas sente-se bem mesmo num buraco punk da periferia. Já escreveu para Rock Brigade, Kiss FM, Portal Rock Press, Revista Eletrônica do Conservatório Souza Lima e é parte do staff ROCKONBOARD desde o nascimento.

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