Pretenders polemiza com a "implacabilidade" em novo álbum

 
The Pretenders

Relentless
⭐⭐⭐✰✰ 3/5
Por  Rosangela Comunale 

O 12º album do Pretenders mal chegou  às plataformas e já provoca certa polêmica. Apesar de críticas ovacionais pelo mundo, o material que é intitulado Relentless, que quer dizer “Implacável” em português, não é exatamente fidedigno ao que sugestiona.

Drasticamente diferente do penúltimo Hate for Sale em termos musicais, “Relentless” é basicamente um álbum de baladas, com letras melancólicas, o que pode causar até uma certa monotonia para os fãs mais antigos. Talvez não tenha sido à toa, inclusive, que um dos colaboradores na faixa de seis minutos “I think of You Daily”, Jonny Greenwood, guitarrista e tecladista do Radiohead, tenha sido convidado. “That’s my advice to me, But I never could take good advice” (Esse foi o conselho para mim, mas eu nunca admiti bons conselhos”), lamenta Hynde na canção-balada que segue como uma valsa de piano.

O trabalho, feito com o produtor David Wrench, que já disputou vários Grammys, já começa com uma Hynde meio que justificando o porquê da série de baladas que prepondera no disco. Em “Losing my Sense of Taste”, os versos revelam: “I don’t even care about rock and rollAll my old favorites seem tired and old, My whole collection now feels like a wasteI’m losing my sense of taste,”(Eu nem ligo mais para o rock´n roll, todos os meus velhos favoritos parecem velhos e cansados. Minha coleção toda está um desperdício, estou perdendo minha noção de gosto”).


E o rock´n roll mesmo parece ter ficado no passado. Alguns vestígios embrionários são encontrados em “Let the Sun Come In” e “Vainglorious”, esta última a mais pesada e com cara dos velhos Pretenders.

 

O meio do disco continua na linha melódica da melancolia com Hynde divando como uma verdadeira crooner. O tom soft permeia por “”A Love”, “The Promise of Love”, “Look Away”, “Your House is On Fire” e “Just Let it Go” com versos de lamentações  como “Our changes came fast but the torments were slow, let it go” (“Nossas mudanças vieram rapidamente mas os tormentos foram lentos, deixemos passar”).

Mas, para os fãs brasileiros, a cantora que batizou o grupo de “The Pretenders Collective” (“O Coletivo Pretenders”, pois só ela e o baterista Martin Chambers são da formação original, desde 1978), apresentou algo em “Relentless” que talvez faça referência ao Brasil, já que ela morou por aqui. Em “The Copa”, ela canta “I woke up this morning with the Copa on my mind, those days of cryptic signals, I was sad to leave behind” (“Acordei esta manhã com Copa na minha mente, aqueles dias de sinais enigmáticos, estava triste em deixar para trás). Para quem não sabe, Hynde viveu em SP em 2004. Numa entrevista antiga ao jornal O Globo, ela lembrou que  viveu no Centro de Sampa e depois chegou ao Rio. “Porque todo músico quer ir para lá. Só lembro de coisas boas. O céu, Copacabana, a música”.

A líder dos Pretenders não podia deixar sua marca feminista de fora, claro. Em “Merry Widow” , ela chama de viuvez o divórcio: “I´m a divorcie but I feel like a widow, a merry widow” (“Sou divorciada mas me sinto uma viúva, uma viúva feliz”) e “Domestic Silence” traz, na balada, o comodismo que acontece em relacionamentos: “Domestic silence is making me go over” (O silêncio doméstico está me deixando passar por cima de tudo”)

Para os fãs mais antigos dos Pretenders, vale a dica: a implacabilidade de “Relentless”, que marca o retorno da banda para o grupo Warner Music depois de mais duas décadas de contrato com a Sire Records, pode decepcioná-los um pouco. Até mesmo porque Hate for Sale fez muito mais jus ao que fez dos Pretenders os Pretenders. Melancolia define.

Rosangela Comunale

Amante das artes, principalmente, da Música. Formada em Piano Clássico. Militante da causa animal.

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