Pato Fu no Circo Voador tem casa cheia, cantoria alta e dois pedidos de bis

Fernanda Takai com o Pato Fu no Circo Voador [Foto: Rom Jom]
 
Quando você vê um Circo Voador abarrotado cantando "Sobre o Tempo" quase à capela, fica muito evidente a relevância do Pato Fu na história não só do rock, mas da música alternativa brasileira que deu as caras nos anos noventa. Além disso, o repertório que os mineiros apresentaram nesta noite - fazendo um apanhado de quase todas as fases - comprova uma das coisas mais legais sobre eles: a impossível tarefa de tentar rotular o seu som.

Afinal, tem de tudo num show do Pato Fu. Tem tecnologia, tem simplismo, tem peso, tem momento de fechar os olhos, e tem, acima de tudo, ótimas canções. A banda abriu a apresentação com "Spoc", canção "mutântica" e com bateria eletrônica do álbum Gol de Quem?. Em seguida, o grupo ganhou a companhia do baterista Xande Tamietti, que retorna ao grupo para essa turnê comemorativa. Já com um baterista de verdade no palco, eles relembram o genial e subestimado Rotomusic De Liquidificapum na noventista "O Processo de Criação vai de 10 a 100 mil". 

A variação sonora no palco e também as múltiplas facetas do Pato Fu fez deles um dos grupos mais inquietos da história. Não importa se a voz fofa de Takai tornou-se uma marca registrada da banda. Eles não ligam. "Licitação", pancada punk com John Ulhoa nos vocais é uma prova de que o grupo está aí para fazer o que bem entende. "Não entendo essa galera maluca que pede para eu cantar nas músicas tendo uma cantora como a Fernanda Takai", brinca Ulhoa. Aliás, a música do Pato Fu é uma prova de compromisso com uma liberdade artística rara nos catálogos das quase extintas grandes gravadoras.

Ponto para Maurício Valladares, que conseguiu entender a proposta lá no início e fisgou o grupo para a BMG logo após o disco de estreia. Daí pra frente, foi uma coleção de conquistas, que inclui prêmios em grandes veículos como MTV, turnês fora do país e inclusão entre as melhores bandas do mundo pela Revista Time

Do preferido da casa (Ruído Rosa), veio "Menti Pra Você, Mas foi Sem querer" e também a versão evoluída e cheia de peso de "Eu", originalmente lançada pelo Graforréia Xilarmônica. Aliás, é impossível ouvir "Eu" e não ter na mente as imagens do show triunfal deles no Rock in Rio em 2001. E você acaba se tocando que já se passaram mais de 20 anos dessa performance, que ficou marcada pelas mãos e guitarra sujas de sangue de Fernanda Takai - em entrevista ao Rock On Board, há alguns anos, John Ulhoa falou sobre as memórias desse show [LEIA AQUI].
 
O carisma do casal Fernanda Takai e John Ulhoa [Foto: Rom Jom]
 
John, inclusive, é um capítulo importante dessa biografia. Boa praça e carismático, o guitarrista também se destaca pelo som que tira de sua engenhosa mente sonora. Da guitarra frenética em "Gol de Quem?" às palhetadas suingadas de "No silêncio", ou até quando introduz o riff sabatthico de "Cego para as Cores", Ulhoa distribui uma cartilha incrivelmente versátil e cheia de desenvoltura ao show. A verdade é que o cara é uma espécie de termômetro sonoro da banda, esquentando e esfriando as coisas no palco. Mas a temperatura que nunca cai é da plateia, que canta alto quase todas as canções.

Uma das melhores letras do grupo, "Perdendo os Dentes", é cantada tão alto pelo público no Circo Voador, que ecoou até o largo da Carioca. A dobradinha "Made in Japan e a performance sensacional de "Capetão 66.6 FM", com direito a telão pegando fogo e chifrinhos de diabinho em Takai, foi certamente um dos pontos altos da noite e determinou o primeiro pedaço do show.

Na volta para ao bis, "Silenciador" mostrou o clima festividade e intimismo que cerca esse show de 30 anos. Isso porque Takai, com dificuldade em acertar o tempo da música, pediu para a banda parar e fazer tudo de novo, como se estivesse num ensaio aberto para amigos. Essa ambiência particular também ficou evidente nos agradecimentos ao pessoal da BMG - com música dedicada ("Diga Sim") e tudo! -, além dos fã-clubes e canais que apoiaram a banda desde os primórdios. "As primeiras pessoas a dizer sim, para a gente foram eles", diz Takai. 
 
Circo Voador teve casa cheia com o Pato Fu [Foto: Rom Jom]
 
"Eu Sei", sucesso da Legião Urbana, que virou single do Pato Fu no disco Televisão de Cachorro, apareceu antes da loucura divina "Rotomusic de liquidificapum" encerrar a segunda parte do show. No entanto, o público não quis ir embora e pediu mais um bis de forma insistente. E eles, claro, voltaram e mandaram a inesperada "O filho predileto do Rajneesh", que está no preferido de muitos fãs de carteirinha, Isopor. "Muito tempo que a gente não faz um tris", brinca Takai.

Fã ou não da banda, é impossível não ser tocado por esse show de 30 anos do grupo. Seja pela variedade sonora do repertório, pela naturalidade deles em cima do palco ou pela conexão impressionante com o público, o Pato Fu comprova sua representatividade sem megaproduções ou temas polêmicos, e se concentram apenas no que é realmente importante para eles: a música. 

PS do editor: Não deixe de assistir essa turnê.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
SOM-NA-CAIXA-2