Foo Fighters faz show de redenção para plateia superlotada no The Town

Dave Grohl comandou a galera no The Town [Foto Adriana Vieira]
 
O chamado "dia rock do The Town" teve seu encerramento num show de quase três horas do Foo Fighters. A banda liderada por Dave Grohl despejou uma tonelada de hits, improvisações, medleys, discursos, e claro, uma apresentação do tamanho da expectativa dos seus fãs. Para quem já assistiu um show da banda, nada de novo no roteiro. No entanto, esse show tem sim elementos particulares que o tornam único para quem esteve no Autódromo de Interlagos.

Após a morte do baterista Taylor Hawkins, muitos questionamentos surgiram quanto ao futuro do Foo Fighters. O grupo, inclusive, ficou um tempão sem dar as caras, até que Grohl anunciou a continuidade da banda e elegeu o novo baterista. Com álbum fresquinho na bagagem, eles chegam no Brasil com Josh Freese e um par de novas canções no repertório. E foi nessa pegada de "nova fase" que o Foo Fighters subiu no palco por volta das 23h. 

Nos primeiros acordes de "All My Life", já era possível notar a ansiedade da plateia em poder ver de novo a banda no palco. Fãs de todas as idades, incluindo muitas crianças, comprovam que o FF já está naquela prateleira das bandas que mais renovam público no mundo inteiro. 

Outro fato que precisa ser registrado e olhado com atenção pela produção do festival, é que no momento do show, quase todo o público presente no Autódromo estava disputando espaço para tentar ver a banda. Com isso, a região destinada para o público do Palco Skyline estava assustadoramente lotada, e era realmente impossível tentar transitar ou chegar mais perto do palco sem passar algum aperto. As pessoas ficaram afuniladas numa área sem escoamento, sem a possibilidade de ir e vir, e que caso ocorresse qualquer tipo confusão, poderíamos ter problemas sérios de segurança. Além disso, muita gente viu o show com uma visão ruim e um som pior ainda, tamanha era a dificuldade de chegar mais perto.

Num local superlotado, o FF viu "Pretender", hit de Echoes, Silence, Patience & Grace, ser cantada de forma uníssona. Já em "No Son Of Mine", uma das mais pesadas e que estão naquele grupo raro de faixas não-hits nos shows da banda, as primeiras citações da noite: "Paranoid", hino do Sabbath, e "Enter Sandman", hino do Metallica
 
Dave Grohl feliz por estar de volta ao Brasil [Foto: Adriana Vieira]
 
Pegando as citações como exemplo, se tem uma coisa que é certa nas apresentações do Foo Fighters é o roteiro característico, quiçá previsível, mas sempre funcional. O grupo não dispensa os hits e joga para a galera mesmo! Dá uma olhada nessa sequência: "Learn To Fly", "Walk", "Times Like These" e "Breakout". Malandramente, o novo single "Rescued" foi colocada no meio desse bolo e funcionou perfeitamente.

E aí vieram mais daquelas inúmeras citações que Grohl adora. Num medley que teve Beastie Boys, Ramones, Devo e Nine Inch Nails, o público parecia não entender bem, mas engoliu. "My Hero" que veio em seguida, trouxe de volta a cantoria generalizada e comprovou que Josh Freese foi uma ótima escolha para as baquetas. O baterista é um motor, que embora não tenha o mesmo carisma do insubstituível Taylor Hawkins, tem a energia e a cadência que um show do tamanho do FF precisa.

"This is A Call", primeira canção do primeiro disco da banda, lançado há quase 30 anos, é uma daquelas que muitos fãs novos não conhecem, mas que ainda soa redondinha hoje. No time dos hits improváveis do grupo, a dobradinha "The Sky is a Neighborhood" e "Shame Shame" dão uma mudada na cadência do show, mas continuam sendo uma das coisas mais legais que eles fizeram nos últimos tempos. Foi legal também ver a banda tocar "Generator", sucesso que marcou época na primeira passagem do grupo pelo Brasil em 2001.

Fã exibe cartaz em homenagem à Taylor Hawkins [Foto: Adriana Vieira]
 
Mas é lógico que não podemos deixar de citar a ausência de Taylor Hawkins no show do grupo. O baterista, que foi homenageado em "Aurora" e com cartazes dos fãs, já era parte fundamental numa apresentação da banda, dividindo com Dave Grohl, o papel de gestor no palco. Era talvez o único baterista de uma megabanda na atualidade que deixava a bateria para se tornar frontman por vários minutos. O Foo Fighters até que soube tampar bem essa lacuna, mas a perda é irreparável.

Entretanto é bom destacar também a alegria de Dave Grohl em estar de volta. O show em São Paulo, no mesmo local que aconteceria a fatídica apresentação cancelada pela morte de Hawkins num quarto de hotel na Colômbia, pode sim ser colocada como uma redenção do cara. Insensível pensar que o fato dele ser - e gostar de ser - um rockstar rico e famoso o faz dele menos humano. Certamente foi difícil para ele voltar sem seu melhor amigo de muitos anos, e ele está conseguindo. Está seguindo em frente.
 
Foo Fighters e Dave Grohl no The Town [Foto: Adriana Vieira]
 
O momento mais bonito do show ficou já no finalzinho com "Best Of You", com o seu coro cantado de forma ininterrupta pelo público. "Everlong", como sempre, deu toques finais a apresentação botando a galera para pular. Os primeiros acordes também já surgiam como aviso de que a "hora de voltar para casa" estava chegando, mas os fãs pareciam satisfeitos com o que viram no The Town.

Resumindo, foi aquele show do FF que você já sabe o final do filme, e que mesmo já sabendo que seria daquele jeito, você mete o selo de qualidade "FF" sem medo de ser feliz.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
SOM-NA-CAIXA-2