Josh Homme passou por maus períodos nesses últimos anos em que o Queens Of The Stone Age ficou sem lançar um álbum de inéditas. O último disco da banda foi Villains, de 2017, e de lá para cá, o sujeito perdeu alguns de seus melhores amigos, como o ex-companheiro de banda, Mark Lanegan, em 2022, e Anthony Bourdain, em 2018. Além disso, Homme passou por um processo de separação com sua esposa, Brody Dalle, que rendeu uma batalha pela custódia de seus três filhos. Acha que foi só? Para finalizar, nesta semana, ele revelou que fez tratamento contra um câncer no ano passado.
Com esse prefácio obscuro, não é difícil imaginar de onde o líder do QOTSA tirou sua inspiração para criar esse In Times New Roman, álbum que certamente vai agradar a maior parte dos fãs da banda. Para início informativo, é importante dizer que o disco foi praticamente produzido no estúdio de Josh Homme, e que as canções trazem uma proposta mais direta, com a maioria das músicas batendo na casa dos 4 minutos de duração. A exceção fica por conta da excelente "Straight Jacket Fitting", que fecha o disco. Canção que até engana com seu ritmo inicial arrastado, num quase Sabbath, mas que descamba a algo bem mais melódico, cheio de guitarras bem sacadas e vocalizações sensacionais de Homme.
Mas vamos lá pro início da bolacha. O álbum abre com "Obscenery", que não chega de sola e nem com o pé na porta, mas surge como um atestado dos últimos tempos do grupo - riff crú, levada mais dançante, vocais cheios de falsetes encaixadinhos. Ou seja, aquilo que você já vem acostumado a ouvir deles. "Paper Machete", que aparece em seguida, é daquelas que entram direto na coletânea do QOTSA para pegar estrada em alta velocidade. Detalhe para o solo de guitarra com assinatura e firma reconhecida de Homme.
O mais legal de In Times New Roman é que que o QOTSA soube dosar muito bem a busca por referências com a manutenção de sua obra. Em "Carnavoyager", por exemplo, Josh Homme busca em Bowie a sua pedra preciosa. Em "Made To Parade" também, mas o grupo revisita o próprio passado numa daquelas canções tão certeiras que poderia estar no ótimo Lullabies To Paralyze (2005).
Com um pé no rock moderno feito pelo Arctic Monkeys, "Emotion Sickness" cativa com uma fórmula quase imbatível de riffs ganchudos e versos vocais atraentes. Não à toa foi escolhida logo como música de trabalho para divulgar o disco. Outra que merece destaque, mas que não deve ser single, é a divertida "What The Peephole Say", que sugere audição compartilhada em bares enfumaçados e festas rock raiz.
Longe da atmosfera dançante e bem humorada de Villains (2017), dessa vez o QOTSA sangra em riffs de guitarra e letras obscuras para exorcizar os demônios internos de seu frontman, conseguindo um resultado seguro, direto ao ponto e certeiro em quase todas as decisões. Os fãs vão gostar desse.