Cólera fala sobre turnê na Europa, novo EP e lançamentos em Vinil

 
"Epidemia de cólera na Europa"... Parafraseando a manchete do “Caderno 2”, do jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, de 15 de agosto de 1987, para falar sobre o CÓLERA - Desde 1979 sem nunca ter parado. Em 2023 a banda completa 44 anos e parte para sua 4ª turnê europeia, a primeira com a nova formação, que, além de Val (baixo e voz) e Pierre (bateria e voz) conta com Wendel Barros (vocal) e Fábio Belucci (guitarra). Como velhos e grandes amigos que somos, resolvemos parar um tempinho para falar sobre o atual momento da banda e manter o grande público informado sobre tudo o que está acontecendo com a banda.

O Cólera está de malas prontas para mais uma turnê na Europa. Diferente da primeira turnê (1987 - que durou mais de 5 meses e teve 56 shows), agora a volta será mais rápida e pontual, com shows em Portugal e na Inglaterra, onde a banda tocará pela primeira vez no Rebellion Festival, aclamado "maior festival punk do mundo". Qual é a perspectiva de todos vocês? 

Wendel: Após 15 anos estamos voltando para alguns concertos na Europa. E a perspectiva é a das melhores, fazer bons shows, apresentar parte do nosso novo trabalho e tenho certeza que a nossa volta ao velho continente será nostálgico para os fãs europeus. Estou muito feliz em poder continuidade aos trabalhos junto ao Cólera, sendo a minha primeira vez indo para Europa, levando adiante o legado do Redson.

Val: Nós avaliamos que todos os shows do Cólera tem a mesma importância, nunca diferenciamos nossa apresentação, mesmo que seja para um público de 20 pessoas ou de 20.000 pessoas, sempre tocamos com a mesma energia para dignificar o público.

É óbvio que a nossa primeira turnê Europeia em 1987, tornou-se um marco na história da música underground no Brasil. Derrubamos um muro enorme que havia entre os dois continentes. Além disso, tivemos a grande sorte de conseguir fazer mais duas turnês europeias ainda com o Redson (2004 e 2008). A única vez que o Cólera tocou fora do país que não tenha sido na Europa, foi em 2016, que nos apresentamos na Colômbia. Já com essa nova formação. Colômbia que por sinal, é um país com uma das maiores cenas PUNK que já tocamos. 

Agora em 2023 nós partimos para nossa quarta turnê europeia com as mesmas dificuldades de sempre, mas com a mesma garra e determinação, para tocar em dois países que não tocamos nas turnês anteriores (Portugal e Inglaterra) e como já tocamos em mais de 15 países e sempre há pessoas que admiram o CÓLERA, temos a expectativa de que seja novamente uma experiência incrível, ainda mais tendo neste roteiro o REBELLION que sempre foi nosso grande sonho em participar. 

Pierre: A minha perspectiva, é de que façamos boas apresentações nos palcos de Portugal e Inglaterra, justamente os dois países que não tocamos nas turnês anteriores (1987, 2004 e 2008), como falou o Val, e claro a participação no "Rebellion", que acredito, dispensa qualquer comentário.

Fábio: A única vez que eu viajei para fora do Brasil foi em 2016 para tocar em Bogotá (foi a primeira vez que o Cólera tocou em outro país da América do Sul) e para mim a será muito gratificante levar o som e a mensagem do Cólera para Portugal e a Inglaterra, que também são países em que o Cólera estará se apresentando pela primeira vez! Acredito que será uma grande experiência, o Punk é uma cultura bastante cosmopolita então creio que não haverá grandes obstáculos para que sejamos compreendidos!

Ano passado vocês gravaram uma música nova, "Repetição Constante", já muito executada, e conhecida, em shows. Agora vocês estão prestes a lançar um novo EP, com outra faixa inédita, "Jovem Desertor", como tem sido o processo de criação e composição da banda? Existem também algumas regravações, como foi a escolha desse repertório e os convites para as participações especiais? Aproveito para perguntar como será o lançamento, se existe alguma perspectiva além do lançamento nas plataformas de streaming.

Val: Nosso novo EP, chamado “Está na hora de mudar”, contará com 6 faixas, sendo 2 inéditas, que são “Jovem Desertor” e “Repetição Constante”, o primeiro cover gravado em estúdio pelo CÓLERA, “Até quando Esperar”, da PLEBE RUDE, que tocávamos ao vivo com o Redson no final dos anos 80, época em que as bandas fizeram vários shows juntas, e conta com a participação do magnífico violoncelista JÚLIO PELOSO (Julinho, além de professor de música, faz parte do TRIO TITANIUM, que faz versões de músicas populares com um cello e dois violinos, é guitarrista da banda punk GERAÇÃO SUBURBANA  e também lidera o S.I.X., um sexteto de cordas – duas violas, dois violinos e dois cellos –  que faz versões de rock em divertidos shows e já acompanhou gente como os INOCENTES em shows diferentes do que o público está acostumado) e 3 regravações, a primeira é “Quanto Vale a Liberdade”, e conta com a participação especial do EDGARD SCANDURRA tocando guitarra solo e fazendo o backing vocal. A segunda é “Dia e Noite, Noite e Dia” e conta com a participação do BADAUÍ, da banda CPM22, e a terceira é “Movimentação”, que somos nós mesmos prestando homenagem a o maravilhoso EP “É Natal?!”, que lançamos em 1987, e nunca teve grande divulgação. 

Este EP será lançado em uma festa no Partisans Pub, no bairro de Pinheiros, agora no dia 29 de junho.

E quanto as composições, seguimos da mesma forma, todos participam com ideias e composições, apesar de que as duas músicas inéditas que estamos lançando neste EP serem do Fabio.  Mas já estamos preparando outras músicas que serão lançadas em breve no nosso próximo álbum de inéditas. Imagino que em 2024 já estará pronto.

Fábio: Quanto às músicas que eu componho, geralmente eu gravo uma demo em casa com uma bateria eletrônica e a partir disso a gente começa a trabalhar a música. Cada um dá as suas sugestões e coloca a sua forma de interpretar e assim chegamos a um resultado onde todos contribuem no processo criativo.

Wendel: O processo de criação e de composição vem sendo de todos da banda basicamente juntos. Cada um chega com uma letra, arranjos e quando entramos em estúdio acertamos os detalhes. E tivemos a ideia de aproveitar o momento da tour e fazer o lançamento do novo EP na Europa, que surgiu através do contato que fizemos com pessoal da banda RAZOR KIDS (Portugal) quando estavam em tour aqui no Brasil, no começo desse ano. O Ramon Contrera entrou em contato comigo e de início a proposta era para um split com eles. Seguimos adiante e decidimos fazer esse trabalho em parceria com eles, e também outra banda escocesa, e agora também vamos fazer o lançamento do nosso EP na Europa, em vinil.

Pierre: O processo não mudou muito não, o Fabio tem criado a maioria das músicas, maldição de guitarristas (risos), apresenta pra banda, que começa então a trabalhar as partes de baixo, batera, voz e backings e a cada ensaio, ajustamos uma coisa aqui outra ali, até ficar pronta e isso não tem um prazo determinado, a medida que uma começa a ter forma, começamos a mexer em outra e assim se segue.

Fábio: Para falar a verdade nós recebemos o convite do Jef (Jeferson Bem, baixista das bandas AGROTÓXICO e FLICTS, e proprietário do RED STAR STUDIOS) para gravar e tivemos que produzir esse EP bem rápido porque o estúdio já estava marcado e não tínhamos muito tempo! O Val sugeriu gravar uma versão de "Até quando esperar", eu indiquei uma composição minha pra gente trabalhar, a "Movimentação" nós já havíamos tocado em ensaios mas não ao vivo e por ser uma faixa não tão conhecida e com uma letra bastante atual, decidimos incluí-la também. Por fim, convidamos o Scandurra para participar da regravação de "Quanto vale a liberdade", aproveitando a versão que apresentamos com ele ao vivo em ocasião do show de comemoração dos 40 anos do Cólera no Sesc Pompeia, que ocorreu no final de 2019.

Existe a ideia de juntar essas 6 faixas prontas com mais material novo e lançar um LP inédito aqui, como está sendo esse processo? Existe a intenção de se lançar material físico? Talvez por meio de financiamento coletivo como foi com o último disco, "Acorde, Acorde, Acorde" (2018)?

Fábio: Sim, pretendemos fazer um projeto de financiamento coletivo para levantar uma verba para gravarmos um disco novo! Serão pelo menos 8 faixas inéditas, as 6 faixas do EP poderão entrar de bônus, mas de toda forma não farão parte integralmente desse disco novo. Já temos o material e algumas músicas já ensaiadas para gravar no segundo semestre deste ano.
 

Falando em lançamentos, recentemente a gravadora de vocês, a EAEO Records, e o selo Nada Nada Discos relançaram alguns trabalhos em formato de vinil, em edições remasterizadas e luxuosas, "Tente Mudar o Amanhã" (LP e Box para colecionadores), "Pela Paz em Todo o Mundo" (LP e Box para colecionadores), "Caos Mental Geral", "Deixe a Terra em Paz", "Primeiros Sintomas" (LP's), o split com os Ratos de Porão "Cólera e Ratos de Porão - Ao Vivo no Lira Paulistana" além das coletâneas "SUB", "O Começo do Fim do Mundo" e agora o icônico "Grito Suburbano", todos com versões em LP's e também os concorridos boxes set para colecionadores, e, muitos destes relançamentos estão esgotados. Me falem um pouco de como é o resgate dessas obras e se existe a intenção de repor no mercado os itens esgotados.

Val: Sempre contamos com o nosso selo “EAEO”, principalmente agora que se juntou com outros dois importantes selos para formar uma grande parceria chamada “TRÊS SELOS”, que tem feito o relançamento dos nossos álbuns antigos em vinil, sempre muito bem acabados e com grande conteúdo histórico, como fotos, fanzines, botons, adesivos, pôsteres e até cópias dos ingressos dos shows da época. Esperamos contar com eles para concretizar inclusive o lançamento do “Acorde! Acorde! Acorde!” em vinil, os álbuns que estão fora de catálogo e também dos nossos próximos álbuns inéditos.

Fábio: Esperamos que estes lançamentos em vinil tragam um interesse renovado na discografia do Cólera, que é bastante extensa. Há muito material que não é tão conhecido por um público mais amplo, como por exemplo o EP “Dê o Fora”.

Deixo aqui o meu desejo de uma boa viagem e excelentes shows na Europa e um espaço para uma mensagem aos fãs da banda.

Val: Aos fãs da banda eu desejo que sempre acreditem que a existência do Cólera, mesmo após a partida do REDSON sempre foi de manter viva a chama da indignação que sentimos em relação aos que discriminam, aos que desmatam, aos que covardemente pisam nos mais necessitados, aos que colocam a ganância acima de tudo e principalmente contra os fascistas que tentam em vão nos fuder.

Fábio: Agradeço imensamente o apoio dos fãs que ajudaram a manter o Cólera em atividade nesses últimos anos e espero que gostem dos trabalhos que lançamos recentemente e que vamos lançar ainda esse ano, procuramos sempre honrar o legado do Redson!

Ricardo Cachorrão

Ricardo "Cachorrão", é o velho chato gente boa! Viciado em rock and roll em quase todas as vertentes, não gosta de rádio, nunca assistiu MTV, mas coleciona discos e revistas de rock desde criança. Tem horror a bandas cover, se emociona com aquele disco obscuro do Frank Zappa, se diverte num show do Iron Maiden, mas sente-se bem mesmo num buraco punk da periferia. Já escreveu para Rock Brigade, Kiss FM, Portal Rock Press, Revista Eletrônica do Conservatório Souza Lima e é parte do staff ROCKONBOARD desde o nascimento.

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