Novo álbum do Electric Mob é hard rock de qualidade com vocal 'absurdo'

 
Electric Mob

2 Make U Cry & Dance
⭐⭐⭐✩ 4/5
Por  Noemi Machado 

Tenho um fraco por vocais, e quem é meu amigo (ou não -  parafraseando Caê) sabe disso. O CEO da Rock On Board, que me conhece desde bebê e praticamente me criou, sabe disso. E me deu uma porrada em forma de vibrato poderoso nos cornos pra trabalhar.

A única coisa que eu sabia era que é uma banda independente. E só. Preferi ouvir o álbum antes de me aventurar no fantástico mundo do Mr. Tim Berners-Lee e descobrir até o CPF da tia-avó do baterista. Seguindo a cartilha do crítico musical sob duras penas, porque eu sou do tipo que às vezes dá uma checadinha nas últimas linhas quando a parada é bem interessante, chuto o mouse no streaming.

E dando o play na primeira faixa, já senti o clima de cara. Se meu quartinho estava quente no verão, esquentou ainda mais ao começar a ouvir o álbum - “Sun Is Falling”, inclusive, foi ouvida num dia que tinha um sol caindo individualmente na cabeça de cada habitante e turista do Rio de Janeiro. A canção chega devagar, numa levada que te faz pensar “já ouvi isso antes”, e você fatalmente já espera o refrão avassalador que realmente vem, sem decepcionar, tanto por provar que sua expectativa estava certa, quanto pelo timbre vocal, que já mostra ali que será bem usado pela banda. E “num” tão errados, não. 

Numa viagem mutcho lôka da minha cabeça, me senti ambientada num bar de beira de estrada americano, com uma banda iradíssima inexplicavelmente perdida no deserto, tais quais os roteiros dos enlatados que adoro assistir.

Aí, rapaz, vem a segunda música. Pronto, nacionalidade já identificada. A Electric Mob é de Curitiba, com o album 2 Make U Cry & Dance lançado pela gravadora italiana Frontiers Music. Tá certo que o artifício de mesclar ritmos regionais com rock já vem sendo usado há décadas, e é legal ouvir essas referências. Mas não sei se colou com “Will Sunshine”, que me deu uma leve impressão de que algo estava fora de lugar, com uma certa vontade de demonstrar de algum jeito no arranjo, o respeito à tradicional música brasileira, uma quase exigência de qualidade desde Chico Science.

“It’s Gonna Hurt” é a promessa de te fazer chorar e dançar começar a ser cumprida, a cadência imposta por André Leister na batera te dá aquele involuntário movimento de balançar o corpo, de bater os pés no chão, de jogar os braços pro ar, e de subir a cabeça junto com a nota final pra subitamente, respirar.
 
 
Seguindo adiante confirmamos os holofotes sobre a voz e, repito: não estão errados. Em “By The Name (na na na)” os riffs da guitarra de Ben Hur Auwarter, muito bem harmonizados com o baixo de Yuri Elero, são gostosos de ouvir, até de cantarolar junto. O refrão é aquele chicletinho que enquanto você não ouvir outra coisa da mesma fórmula, VAI MESMO grudar, e você vai até cantar do nada. Só não tente o agudo, porque isso é pra quem pode.  Mas se você pode...

Todo o álbum é coerente, correto. Nenhuma música a seguir da outra surpreende exatamente com outro elemento que não seja o hard rock clássico. Há mais uso da tentativa de toques intergêneros (como em “The Kingdom Come”), mas não vi fazer muita diferença – não que o quisessem, na verdade - porque a real é que o hard rock é o DNA profundamente dominante.

E a balada, moça? Cadê a indefectível balada? Pois é, também procurei e quase a achei em “Watch Me (I’m Today’s News)” a última faixa.  Chegou a bater na porta, mas saiu correndo antes que eu atendesse. Me trolaram. Senti falta, confesso, pra dar um descanso na apreciação de um disco quase todo ele em notas altas, muito drive e distorções contínuos. 

De fato, o vocal de Renan Zonta, não só potente, mas com um timbre hipnotizador e com um alcance absurdo, somados à técnica muito bem trabalhada, tem o seu destaque óbvio, compreensível e envolvente. E a banda inteligentemente o explora ao máximo, ajudando a elevar o rock brasileiro, provando que mais uma vez podemos exportar um material de altíssima qualidade. Electric Mob tem o seu lugar garantido no atual panteão mundial do hard rock, em minha opinião. Graças a Deus.

Valeu muito o passeio. Paguei o meu drink, saí do tal bar de beira de estrada, e subi no ônibus de volta pra casa, satisfeita. O meu chefe tinha razão, ao me dizer que eu ia gostar disso.

Noemi Machado

Passou dos vinte há algum tempo, foi desencaminhada pelo Gênesis, Queen e Led Zeppelin ainda na infância e conviveu com bandas de rock a vida quase toda. Apresentadora do programa ARNews na Rádio Planet Rock e Rádio Oceânica FM, também é produtora de eventos, gestora do coletivo Arariboia Rock e colaboradora do site Rock On Board.

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