Rock in Rio: Black Pantera e Devotos em dia de vitória do underground nacional

Duas gerações da cena nacional no palco [Foto: Adriana Vieira]
 
Este texto naturalmente é parcialíssimo e carregado de emoção, pois falo de amigos que com muita luta, e talento, chegaram ao maior palco do país! E isso não é pouco!

De Uberaba, interior de Minas Gerais, o BLACK PANTERA é a bola da vez do rock brasileiro, e começaram o ano com um petardo, em março foi lançado o excelente álbum “Ascensão”, terceiro disco dos irmãos Charles e Chaene da Gama, muito bem acompanhados do baterista braço pesado Rodrigo ”Pancho” Augusto, escolha acertadíssima para abrir o festival.

O trio entrou no palco com sol forte, público ainda se ajeitando e a bagunça começou em alto nível, com “Padrão é o Caralho”, que inaugura o Rock in Rio 2022, seguida de “Mosha”, ambas do último álbum, o já citado “Ascensão”. Breve agradecimento e “Godzila” é a música da vez, quando o guitarrista e vocalista Charles Gama desce do palco, pula a grade de proteção e vai tocar nos braços da galera! Frenesi total!

Apesar do irmão ser o vocalista, quem costuma falar mais na banda, é o baixista Chaene, que sempre tem discursos certeiros e contundentes na ponta da língua, e não poderia ser diferente no Rock in Rio, que fala sobre a representatividade preta e grita um “foda-se o preconceito”, depois pede para a galera levantar o dedo do meio, pois a próxima música se chama “Taca o Foda-se”.

Quase sem tempo para respirar, a sequência vem com um dos singles do último trabalho, e “Fogo nos Racistas” não deixa pedra sobre pedra! Público inflamado e a primeira “homenagem” ao atual presidente da república se ouve na plateia. Na sequência, outra pedrada: “Execução na Av. 38”.

Tempo para um gole de água, uma respirada mais funda e Charles convida ao palco Cannibal, Neilton Carvalho e Celo Brown, os pernambucanos da banda DEVOTOS, uma das referências do Black Pantera, que de cara mandam juntos “De Andada”, paulada que abre o álbum “O Fim Que Nunca Acaba”, de 2018. Vale lembrar aqui que neste ano a Devotos também lançou disco novo, “Devotos Punk Reggae”, que trás versões para reggae de músicas de toda a carreira da banda, além da faixa inédita “Nossa História”.

Cannibal é o porta-voz da banda pernambucana, conta que gravaram um “disco que não valeu” no início da carreira, e a mídia disse à época que eles tinham pressa de lançar o álbum e por isso não havia dado certo, quando ele explica que uma banda vinda da comunidade, da periferia, “tem pressa de vencer” e anuncia uma música do primeiro disco, “Eu Tenho Pressa”.

Charles começa anunciar a próxima música, essa do Black Pantera, e pede para a galera abrir espaço para uma roda, pois tem tudo a ver com o som, quando Cannibal pede para que a roda seja só das meninas, e é atendido imediatamente, “Abre a Roda e Senta o Pé” começa e arrebenta tudo!

“Fé Demais”, outra faixa do disco “O Fim Que Nunca Acaba” é a próxima, e cabe lembrar que os arranjos com as duas bandas juntas ficaram sensacionais, ganharam peso e pela reação do público, agradou a todos! Breve pausa para respirar e Chaene pega a palavra novamente para explicar a imagem de Elza Soares atrás do palco, dizendo que a música que tocarão agora ficou famosa na interpretação de Elza, e completa afirmando que “a carne mais barata do mercado continua sendo a carne negra”, a versão de “A Carne”, é estupenda! Com os dizeres “Vidas Negras Importam” no fundo do palco, nova homenagem ao atual presidente: “Hey B... VTNC” é o grito de guerra da galera.

Agora é Cannibal quem assume o microfone principal e anuncia “Punk Rock Hardcore Alto José do Pinho”, citando amigos e grandes referências, como Matalamão, Mundo Livre S/A, Otto, Chico Science, Nação Zumbi, Inocentes, Ratos de Porão e a porrada come solta, com a entrada de um amigo fantasiado de urso branco no palco dançando, era China, vocalista da banda Sheik Tosado.

A despedida começa, e Chaene novamente fala de representatividade e lembra o orgulho de “ter três bandas pretas tocando no dia do metal: Black Pantera, Devotos e Living Colour”, e o show se encerra com “Boto Pra Fuder”, com Charles fazendo todo o público cantar junto o refrão: “EU NÃO ESPERO NADA DE NINGUÉM”!

Emocionado e estupefato, olho para o lado e digo “QUE PUTA SHOW FODA”, um amigo me responde: “azar de quem entrar depois, arrebentaram”! É isso!

Ricardo Cachorrão

Ricardo "Cachorrão", é o velho chato gente boa! Viciado em rock and roll em quase todas as vertentes, não gosta de rádio, nunca assistiu MTV, mas coleciona discos e revistas de rock desde criança. Tem horror a bandas cover, se emociona com aquele disco obscuro do Frank Zappa, se diverte num show do Iron Maiden, mas sente-se bem mesmo num buraco punk da periferia. Já escreveu para Rock Brigade, Kiss FM, Portal Rock Press, Revista Eletrônica do Conservatório Souza Lima e é parte do staff ROCKONBOARD desde o nascimento.

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