Black Pantera sobre tocar no Rock in Rio: "Não é habitual ver caras como a gente ali"

Black Pantera no show do Rock in Rio [Foto: Adriana Vieira]
 
O show do Black Pantera no Rock in Rio continua repercutindo. A performance do trio de Uberaba segue sendo uma das mais citadas quando o assunto é "o melhor show do Rock in Rio 2022" [veja AQUI a opinião dos jornalistas que cobriram o festival]. A representatividade da apresentação dos caras, que ainda contou com a presença do Devotos no Palco Sunset, foi destacada pelo próprio Rock On Board, que conversou com o grupo após o show. 

Ainda emocionados e sabendo a importância do feito, um dos principais expoentes do rock pesado nacional falou sobre o show do Rock in Rio e pediu atenção com a cena underground, que foi representada de forma digna no dia 02 de Setembro, num dos palcos mais importantes do Mundo.

Como foi a experiência de tocar no Rock in Rio, um festival tão icônico?

Charles Gama: Nossa cara, a gente tá em êxtase ainda. A gente sempre sonhou com esse momento e agora que passou sai aquele peso das costas. Mas a gente está maravilhado com tudo o que aconteceu. Desde a equipe, a produção do Rock in Rio que nos tratou super bem. Estávamos dois anos esperando para tocar aqui né? Teve a pandemia, o cancelamento, e agora fizemos o nosso show junto com o Devotos que é uma referência para gente, pra caramba. Duas bandas pretas abrindo o dia do metal no Rock in Rio é fantástico! Não poderia ter coisa melhor pra gente não! Foi fantástico!
 
Charles Gama foi parar no meio da galera no Rock in Rio [Foto: Adriana Vieira]
 
Muita gente fala que hoje em dia só o rap traz mensagens de protesto, mas vocês também tocam em temas sensíveis para a sociedade...

Chaene da Gama: O rap tem muito disso. O rap e o hip hop têm falado disso. A gente é uma banda preta, somos homens pretos e a gente tá tocando rock and roll. E a gente vai falar disso no rock and roll, que é o necessário. Tem muitas bandas que sempre fizeram isso também. O Rage Against The Machine, o próprio Living Colour já é um manifesto. Quatro caras pretos tocando virtuosamente de uma maneira foda. E a gente também. Não é habitual ver caras como a gente subir ali e tacar o rock and roll, né? E existem um monte de bandas pretas no Brasil e no mundo inteiro que não têm esse espaço e essa visibilidade. Então poder chegar e ser esse canal para essa galera é incrível e é importante.

Rodrigo Pancho: O próprio disco que a gente lançou esse ano se chama "Ascenção". E é Ascenção de todo mundo. Das minorias né? É um disco de protesto. Então assim, as bandas pretas precisam de espaço. As bandas das minas. As bandas LGBTQIA+. Tem que ter espaço pra todo mundo. Diversidade. Então acho que foi um dia importante, cheio de significados, um dia histórico!
 
 
Vocês mostram isso não só no disco, mas em situações que acontecem no mundo inteiro, como o clipe que fizeram em homenagem ao George Floyd, morto por um policial nos Estados Unidos. Ou seja, pra vocês é importante passar uma mensagem mais ampla do que acontece no mundo?

Chaene da Gama: Exatamente. Sem subjetividade. A mensagem do jeito que é. O cara morreu enforcado. Gritou pela mãe até morrer. Isso acontece e não é televisionado na maioria das vezes. É a realidade do povo preto, das minorias, das mulheres, dos homossexuais. Tem um pessoal que se sentiu a vontade para sair do esgoto e fazer o que quiser, falar o que quiser... E o Black Pantera é o contraponto disso.
 
 
Fale sobre essa participação do DEVOTOS no show. Já que eles são uma banda com muitos anos de estrada e vocês uma banda em ascensão...

Charles Gama: Cara, o Devotos é uma banda que é referência para a gente desde sempre. O Cannibal, o som que ele faz há praticamente 30 anos aí... É fantástico. É uma referência dentro do punk rock nacional. Os caras já deveriam ter tocado no Rock in Rio há muito mais tempo, mas chegou esse momento deles. Eles aproveitaram. A gente aproveitou esse momento de estar com eles também, porque era um sonho nosso de fazer essa gig com o Devotos. Que bom que deu certo, que rolou pra todo mundo. E duas bandas que representam tudo né cara?

Rodrigo Pancho: Que tem tudo a ver. Duas gerações diferentes. E é o que eu falei pro Cannibal antes do show: espero que depois desse, aconteçam outros shows do Black Pantera com Devotos. Vamos olhar para as bandas undergrounds, as bandas pretas, as bandas das minas... O Brasil tem coisa muito boa acontecendo. No dia do metal mesmo: Surra, Ratos de Porão, Crypta... Dead Fish... Sabe? Hoje é dia do underground. A gente pode estar representando o interior. A gente veio lá de Uberaba, cara. A galera de lá ficou igual em clima de Copa do Mundo, nos bares assistindo a gente em telão. Isso é uma representatividade muito grande!

Charles Gama: É igual aquele molequinho que tá pegando na guitarra mas não consegue enxergar ninguém que remeta isso a ele. Aí o molequinho lá, pretinho, que tá pegando na guitarra ele pensa: "ah eu não vou tocar guitarra porque não vejo ninguém fazendo isso do jeito que eu sou. Porque se a gente serve de referência para esse molequinho crescer e acreditar... Que foi isso que aconteceu com a gente... O Living Colour taí que é uma prova. Quando eu descobri o Living Colour eu falei assim: "É isso!". Quando eu descobri Devotos, a mesma coisa. Bad Brains, também. Então que a gente se torne referência para esse moleque e para essa mina que querem fazer um som pesado, foda e estamos aqui provando que dá pra fazer isso sim. A gente é do interior, de Uberaba e estamos aqui no Palco do Rock in Rio.
 
Black Pantera 'botando fogo' no palco do Rock in Rio [Foto: Adriana Vieira]

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Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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