Por Ricardo Cachorrão
Flávio
Acaba de sair nas plataformas digitais o novo EP dos INOCENTES,
com duas faixas: “Queima!” e “Eu Vou Ouvir Ramones”, punk rock direto, urgente e sem delongas,na definição da própria
banda.
Num bate papo rápido com a rapaziada, disse que, apesar de alguns artistas
insistentes, infelizmente já passou a “era álbum”. As novas gerações não se
interessam mais em ouvir um disco de cabo a rabo, e, normalmente também não
querem saber de detalhes técnicos, produtor, estúdio usado e, até mesmo, a letra
das canções.
E, apesar do suposto “renascimento do vinil”, isso me parece um
nicho bem específico, e, em geral, ninguém quer comprar mais nada! Se banalizou
a arte ao ponto do ouvinte crer que “tudo
tem que ser de graça, e quem cobrar, é um explorador capitalista sem vergonha”.
Clemente Nascimento, vocal, guitarra e único membro na banda desde
o princípio, há 41 anos, rebateu: “Na
verdade o problema está na velha geração, que quer ouvir apenas os velhos hits
que marcaram sua adolescência a vida inteira. A gente se mata para fazer um
álbum novo, grava e coisa e tal, mas as pessoas não ouvem inteiro, ouvem a
faixa de trabalho que é a mais tocada e fica nisso. Então a nova geração me deu
a solução, voltar a lançar singles e EP’s, que na verdade é uma volta ao
passado do conhecido compacto, que foi muito popular nas décadas de 60, 70 e 80
e possibilitou o lançamento de várias bandas. Seguimos essa lógica, se vão
ouvir uma ou duas músicas do álbum, lançamos uma ou duas músicas”.
Faz sentido...
E ele continua... “E todo
mundo fica feliz, quando nós tivermos umas 10 músicas foda que fazem sentido
juntas, lançamos um álbum, já sabendo que ninguém vai ouvir inteiro”.
Comento que devo ser de outro planeta então, pois sempre ouço os
discos inteiros e, normalmente, gosto mais das faixas diferentes.
Clemente: “Mas você gosta de
música! A maioria gosta de hit! E é isso!”
Voltando ao EP, o famoso “lado B” aqui é uma canção onde a voz
principal é do guitarrista Ronaldo Passos, o segundo mais antigo da banda, e
perguntamos a ele sobre “Eu Vou Ouvir Ramones”.
Ronaldo disse “legal você
ter gostado da minha música, de vez em quando eu faço alguma coisa, eu tenho
uma pegada diferente de escrever do Clemente, eu tenho vontade de fazer mais
músicas, eu tenho um ar mais sarcástico, uma coisa mais divertida, eu acho que
as pessoas gostam de música divertida, percebo isso quando bandas tocam músicas
divertidas, que as pessoas têm uma reação diferente, no meu caso, por exemplo,
no meu projeto Ronaldo Passos Trio, que é uma pegada mais country e rockabilly,
as letras são todas divertidas e o country em si, é uma música divertida. Eu
percebi reação muito positivas, nos poucos shows que eu fiz. E é isso, mano! Eu
tenho essa ideia de faz música nessa pegada, eu acho que isso dá certo, cara!
Acho que pode rodar mais, ter um efeito diferente... por quê o Inocentes já tem
aquela coisa, aquele tipo de música, que já vem fazendo há anos! Então, tipo
assim, fazer uma coisa diferente, numa música nova, às vezes com o mesmo
conteúdo, é bacana, não muda muita coisa, em minha opinião... às vezes dá um
gancho, toca numa rádio, por ter uma pegada diferente, sabe? Algumas pessoas
vieram falar comigo da música – ‘poxa que legal’ – o que me deixou bastante
satisfeito.
O baixista Anselmo Monstro está feliz com o novo trabalho, apesar
de ser das antigas (risos) “Poxa, tá
legal o trabalho, né? Mas sendo franco com você? Eu prefiro material físico,
com encarte, pegar na mão... tem uma conversa de sair físico no futuro, mas,
sei lá...eu prefiro né? Acho que será uma coisa legal de vender, com uma capa
bonita, duas músicas bem legais... acho que rola...”
O baterista Luís Fernando, o Nonô, lembrou-se de outro detalhe
importante, que é o fato do EP também estar disponível em NFTs, colecionáveis e
que podem ser negociados... “Tenho certo
saudosismo pelo que foi a época dos long plays, mas as coisas mudam e acho que
a música está constantemente tentando achar o equilíbrio de tornar mais
acessível a todos e de valorizar e remunerar os compositores e músicos. As NFTs
me parecem uma nova forma de conseguir isso... parecem uma criptomoeda, as
pessoas comprar frações da música e se tornam proprietárias dos direitos
autorais dela também”.