Iron Maiden em Lisboa: o que o Brasil verá em setembro?

 
Com mais de 40 anos de estrada e integrantes cujas idades variam entre 63 e 70 anos, seria absolutamente normal que o Iron Maiden colocasse um pé no freio ou perdesse parte do fôlego em comparação às suas apresentações enérgicas em décadas passadas. No entanto, com exceção das novas rugas e cabelos brancos que naturalmente vêm com a idade, parece que o tempo não passa para o veterano grupo de heavy metal britânico. E nem as grandes dificuldades relativamente recentes, como o câncer na garganta enfrentado pelo vocalista Bruce Dickinson em 2015, afetam o vigor e a potência da banda no palco. 


Em sua 17ª passagem por Portugal, o Iron Maiden escolheu Lisboa para encerrar a perna europeia de sua turnê chamada Legacy of The Beast. O concerto no Estádio Nacional, em Oeiras, zona metropolitana da capital portuguesa, teve todos os elementos de um grande show do Iron Maiden. 

Vimos a competência habitual de Steve Harris no comando da cozinha da banda ao lado do carismático baterista Nicko McBrain. Vimos também Adrian Smith, Janick Gers e Dave Murray esmerilhando na guitarra, revezando-se em solos durante as várias longas canções da banda e dialogando entre eles em total harmonia, ao mesmo tempo em que imprimem suas próprias assinaturas. Da mais performática de Gers, passando pela classe de Murray e pela pegada mais clássica de Smith. 

Mas acima de tudo vimos um Bruce Dickinson cantando cada vez melhor. Em entrevistas recentes, o vocalista chegou a dizer que sua voz ganhou muito mais potência desde o câncer na garganta, uma vez que ele se livrou de um tumor grande na base da língua. Segundo o frontman, agora há mais espaço para o som sair e potência em algumas notas mais altas. 

De fato o álbum Senjutsu já mostrava um Bruce Dickinson cantando num tom mais grave e mais robusto. E essa é a tona do disco lançado no ano passado. Contudo, ao vivo, Dickinson atinge todos os tons e camadas mostradas em canções das décadas passadas, como “Hallowed by the name”, “Run to the hills” ou “Aces High”. O vigor do vocalista impressiona e nos faz crer que de fato ele pode estar certo quando acredita estar cantando melhor, sete anos depois de ter se curado. 

O que o Brasil verá?

Principal atração do primeiro dia do Rock in Rio, no dia 2 se setembro, o Iron Maiden vai mostrar no Brasil um misto de clássicos e novas canções, o que já é tradicional nas turnês do grupo toda vez que lança um novo álbum. 

Antes de desembarcar no Brasil para quatro shows em Curitiba, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro e São Paulo entre o final de agosto e o início de setembro, a turnê Legacy of The Beast passou em sua nova versão por 29 cidades europeias. E por que nova versão? Porque a Legacy of The Beast começou em 2018 e chegou a passar por Rio, São Paulo e Porto Alegre em 2019. Mas depois disso veio a pandemia de COVID-19 e o mundo parou. 

Neste intervalo de dois anos, o Iron Maiden aproveitou para lançar o bom álbum Senjutsu, bastante elogiado pela imprensa no mundo todo. E reformulou o set list para o pontapé inicial da retomada da turnê em Zagreb, na Croácia, no dia 22 de maio. 

Como o próprio nome diz, esta turnê trata de legado. E o Iron Maiden mostra, em quase duas horas, que tem muito a transmitir do passado e do presente para os seus “Blood Brothers” que o acompanham há tantas décadas. 

Pode-se dizer que o show é dividido em duas partes. Os primeiros 25 minutos são dedicados ao material novo, com três canções do mais recente álbum: “Senjutsu”, “Stratego” e “The Writting on the wall”, três boas músicas pinçadas de Senjutsu. Esta última é uma típica música do Iron Maiden, com um refrão forte para a plateia cantar junto. 

Com um coque samurai e vestido de preto, Dickinson comanda a plateia com o carisma e a sua teatralidade característica enquanto a identidade visual do cenário é toda marcado pela temática samurai, com aquelas casas típicas japonesas e a entrada da versão zumbi samurai do Eddie logo na primeira canção. 

Após a primeira parte, o cenário inspirado em Senjutsu se despede, dando lugar a uma catedral temática do Iron Maiden, toda ornada em imagens do mascote da banda e com um mural no fundo que vai trocando de acordo com as músicas. 

A partir daqui, o Iron Maiden faz uma jornada pelo passado, tocando seus clássicos mais ou menos recentes. Temos “Blood Brothers”, do Brave New World, álbum de 2000 que marcou o retorno de Bruce Dickinson à banda. Nesta música, Dickinson celebra a amizade e a união de banda, fãs e o staff por trás do palco que garante o espetáculo do grupo. 

Há também canções do Piece of Mind (1983) - “Revelations”, “Flight of Icarus” e a indispensável “The Trooper” - e músicas pinçadas dos discos mais famosos do grupo, The Number of the beast (1982) e Fear of the dark (1992). 

Claro que não faltam faixas como “Run to The Hills”, “Aces High”, “Fear of the dark”, “Iron Maiden” e “The number of the beast”, mas se o set list não for alterado para o Brasil, o que é improvável em shows do Iron Maiden, os fãs desta vez não ouvirão músicas como “2 minutes do midnight”, e “The evil that man do”, sacrificadas para a inclusão do novo material, e a empolgante “The Wicker Man”, substituída por “Blood Brothers”. 

O show do Iron Maiden segue cercado de muita teatralidade e elementos cênicos. Em “Sign of the cross”, Dickinson aparece no palco com um capuz e uma capa preta carregando uma cruz que brilha sob o seu comando. Em “Flight of Icarus”, uma das músicas mais empolgantes do set, o vocalista aparece com um lança-chamas no palco cantando a lenda mitológica de Ícaro, cuja imagem despenca do palco do fim da canção.

Outros momentos de pirotecnia também aparecem em “The number of the beast” e “Run to The Hills”. Já o aparição do  mascote Eddie não se resume à primeira música do show. Ele também retorna em “Iron Maiden”, em sua versão gigante diabólica,  e em “The Trooper”, em sua versão militar. 

Um Bruce Dickinson mascarado e carregando uma lamparina comanda a tradicional apoteose de “Fear of the dark” enquanto “The Trooper” ganhou também uma bandeira portuguesa a ser balançada junto com a britânica. Será que devemos esperar uma bandeira brasileira no Rock in Rio? 

“The Clansman”, “Run to The hills” e “Aces High”, com seu avião gigante balançando no palco, fecham o concerto. 

Em 15 canções das suas mais diferentes fases, o Iron Maiden mostra que tem um legado rico e não vai decepcionar os seus fãs que ainda pretendem ver o show.

Marcelo Alves

Acredita que o bom rock and roll consiste em dois elementos: algumas ideias na cabeça e guitarras no amplificador. Fã de cinema e do rock nas suas mais variadas vertentes, já cobriu três edições do Rock in Rio e uma do Monsters of Rock. Desde 2014, faz colaborações para o site "Rock on Board". Já trabalhou em veículos como os jornais "O Globo" e "O Fluminense". Twitter: @marceloalves007

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
SOM-NA-CAIXA-2