A-ha: show no Rio é intenso e com belo repertório

Morten Harket mantém voz preservada aos 62 anos de idade [Foto: Grupo Grow]
Plateia ganha, belo repertório e show intenso: a volta do A-ha ao Rio de Janeiro, na quinta-feira, 21 de julho, foi de inúmeros acertos.

A tour pela América Latina, inicialmente agendada para 2020, comemora os agora 37 anos da belíssima estreia da banda, Hunting High and Low, executada na íntegra, numa sequência diferente do disco, para dar maior dinamismo do repertório. Também aparecem diferentes arranjos, até mais pesados, muito pelo direcionamento da sessão rítmica, ou seja baixo e bateria. Sintonia dos músicos de apoio com o que trio oficial quer apresentar, aproveitando seus já 40 anos de existência. 


Por volta das 21:50, a banda iniciou a apresentação no Qualistage (antigo Metropolitan). Com uma produção intimista, o visual é trabalhado com belas projeções de cores se sobrepondo ao palco 'clean', sem adereços. Com os músicos presentes, o trio que, de fato, forma o A-ha toma a frente do palco, em proporções iguais, enquanto teclados, baixo e bateria são posicionados ao fundo.


 O minimalismo acertado e calculado ( em muito a ver com o background do trio principal, que possuem forte relação ou com moda, ou artes visuais) de clecoa o estilo do prolifico Paul Waaktaar-Savoy, guitarrista e um dos multi-instrumentistas do grupo. Quase sempre à esquerda do palco, o compositor principal do grupo tem enorme cuidado com as linhas de guitarra. Brotam acordes, sequências melódicas, efeitos e notas escolhidas com esmero, sempre tocando para a canção. Alternando guitarras Telecaster, Les Paul, SG e Stratocaster, o músico encaixa texturas de extremo bom gosto  ao decorrer do show, e quando os teclados tomam a frente, as seis cordas cobrem um papel mais de apoio, com um ou outro solo tendo espaço nas músicas.


E é nestes detalhes da performance que o show do A-ha traz o seu melhor: tudo é feito com enorme cuidado e densidade. Música pop com uma rara imersão, de atmosfera envolvente, cruzando melancolia e júbilo. Você pode cantar junto, dançar, curtir só os hits ou prestar atenção em cada detalhe, tema de teclado/sintetizador, batida do ótimo baterista Karl Oluf Wennerberg ou vocais do sensacional Morten Harket que ora adapta a voz para a atualidade de seus 62 anos, ora canta próximo ao seus 20 e poucos, 30 anos. O reservado frontman dá um show à parte, e justifica a confiança que o tecladista e o guitarrista tem no performer.


No repertório, "Forest For The Trees" composta no primeiro ano do surto de COVID-19, soa muito bem e acompanha faixas dos quatro primeiros trabalhos do grupo. Faltaram faixas de trabalhos seguintes, mas apresentar um álbum na íntegra tem dessas coisas. A banda, curtindo a recepção do público, interagia em inglês e português, em especial o simpático Magne Furuholmen, tecladista e ocasionalmente violonista, encarregado da maior parte da comunicação no palco.


Ao fim do show, o que se viu foi um grande e satisfeito público. Vale citar a pluralidade de estilos e idades na plateia, numa noite que teve tudo para agradar quem conhece a fundo todos os álbuns, quem estava alí para festejar os hits das rádios, MTVs e serviços de streaming, e também quem quer conhecer mais do trabalho do grupo. Pop com toque artístico é raro, e é nesta sensibilidade que o A-ha acerta em cheio, com um trabalho profundo e acessível, bem representado nesta de quinta-feira. Que voltem sempre!



Setlist:

1. Sycamore Leaves
2. The Swing of Things
3. Crying in the Rain (Cover de Carole King)
4. Forest for the Trees
5. Train of Thought
6. Hunting High and Low
7. The Blue Sky
8. Living a Boy's Adventure Tale
9. The Sun Always Shines on T.V.
10. And You Tell Me
11. Love Is Reason
12. I Dream Myself Alive
13. Here I Stand and Face the Rain
14. The Blood That Moves the Body
15. We're Looking for the Whales
16. Cry Wolf
17. I've Been Losing You
18. The Living Daylights
Encore:
19. Take On Me

Zeone Martins

Redator, tradutor e músico. Coleciona discos e vive na casa de vários gatos. Ex-estudante de Letras na UFRJ. Tem passagens por várias bandas da região serrana e da capital fluminense.

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