Rock in Rio Lisboa: Bush aquece dia de rock com Gavin Rossdale nos braços do público

 

Um dos principais expoentes do que se convencionou chamar pós-grunge, aquele grupo de bandas que sofreram influência do movimento de Seattle entre o final dos anos 80 e início dos anos 90 do século passado, o Bush vê com alguma distância os dias de glória que viveu, especialmente entre 1994 e 1999, quando lançou os álbuns Sixteen Stone (1994), Razorblade Suitcase (1996), The Science of Things (1999). 


Entre idas e vindas, separações e retornos, o grupo hoje com 30 anos de carreira se resume basicamente a Gavin Rossdale, o vocalista, líder e único membro da formação original. Ainda que a banda que o acompanha, o guitarrista Christ Traynor, o baixista Corey Britz e o baterista Nik Hughes, dê conta do recado, Rossdale é a alma e a razão de existir do Bush, que seguiu trabalhando, lançando álbuns e com um público menor do que o que tinha quando lançou o bem sucedido Sixteen Stone, de sucessos como “Machinehead” e “Glycerine”. Menor, porém fiel. 


“Obrigado a todos pelo apoio ao longo de todos estes anos. Obrigado pelo amor”, disse Rossdale no palco do Rock in Rio Lisboa. 


Primeira atração do terceiro dia do festival no Parque de Bela Vista, o Bush mostrou todas estas facetas entre a glória do passado e uma certa falta de notoriedade do presente. Fora do espectro dos seus fãs, poucos sabem que o Bush continuou trabalhando e lançando álbuns. Já são oito na carreira. O mais recente, The Kingdom, saiu há dois anos. 


O álbum recebeu recepção morna da crítica e não teve grande sucesso. E vemos está irregularidade na própria apresentação do grupo em músicas como “Flowers on a grave”, “Bullet Holes”, "The Kingdom" e “Blood River”, talvez a melhor das que o Bush apresentou no show e uma canção que emula os bons momentos do passado da banda. “Blood River” mostra uma centelha de um Bush que já esteve no topo, mas hoje se estabilizou com uma base de fãs sólida e fiel como são todos os fãs. 


Rossdale, no entanto, estava feliz. Tanto que foram inúmeras as vezes que ele foi para o meio da plateia, que ainda não lotava o Parque de Bela Vista. Porém, num momento de ousadia máxima e para delírio do público, ele pulou a área se segurança a que os artistas costumam circular e foi para o meio do povo andando por uma longa distância no parque. Enquanto cantava, era abraçado e posava para selfies de fãs incrédulos. 


Assim são as apresentações do Bush. O contato humano parece ser fundamental para Rossdale, que havia feito o mesmo em um show no Campo Pequeno, em 2017, em Lisboa. Mas não parecia possível que ele fosse repetir isso diante de um público e num espaço muito maior. Mas Rossdale fez e a plateia amou. 


“Estes dois anos foram terríveis. É muito bom estar de volta”, disse o cantor, em referência à pandemia de Covid-19. 


É claro que o ponto alto do show acaba ficando para os clássicos da banda. Ainda que o Bush tenha deixado várias canções de fora, como “Little Things”, “Swallowed”, “Cold Contagious”e “The Chemichal Between Us”, estiveram no show “Machinehead”, a segunda do set list, “Everything Zen” e “Glycerine”, cantada por Rossdale sozinho, apenas com sua guitarra. 


Em alguns momentos a voz do vocalista parecia falhar, mostrando que o cantor de 56 anos talvez não esteja na sua melhor forma vocal. Contudo, o público pareceu não se importar muito, ainda que sua recepção tenha sido um pouco morna. 


“Comedown” fechou o concerto e assim o Bush tinha cumprido a missão de aquecer a plateia para as atrações que viriam a seguir. 

Marcelo Alves

Acredita que o bom rock and roll consiste em dois elementos: algumas ideias na cabeça e guitarras no amplificador. Fã de cinema e do rock nas suas mais variadas vertentes, já cobriu três edições do Rock in Rio e uma do Monsters of Rock. Desde 2014, faz colaborações para o site "Rock on Board". Já trabalhou em veículos como os jornais "O Globo" e "O Fluminense". Twitter: @marceloalves007

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