Por Zeone Martins
A abertura da noite foi da banda carioca Pavio, que mescla hardcore da linha Nova York e metal. Com um discurso direto e em português, vale a pena conferir o trabalho da banda.
Krisiun entrega ótimo show e faz crítica ao governo
Por volta das 23:00, o Krisiun chegou com um palco adornado pela bela arte de Scourge of the Enthroned, de 2018, seu trabalho mais recente. Com o trabalho de luzes o backdrop faz uma bela vista, ponto pra produção do grupo.
E foi 1h:20 do Death Metal técnico do grupo, com a pista cheia e muitas rodas se abrindo. Com destaques para "Bloodcraft", "Combustion Inferno" de Southern Storm (2008, elogiado até Bill Ward, do Black Sabbath) a faixa título do já citado Scourge of The Enthroned e "Apocaliptic Victory" o Krisiun mostra a razão de ser uma das maiores bandas do metal extremo no mundo, passando todos os perrengues de ser músico no Brasil, que chegaram a níveis ainda mais precários neste tempo pandêmico.
Com 11 discos nas costas, trabalho intenso de turnês, o trio de Ijuí, no Rio Grande do Sul (há décadas radicado na capital paulista) faz jus à adoração e apoio que seu público entrega. Muito querido pelos fãs cariocas, o Krisiun teve uma ótima noite no calor da sexta feira. Aniversariante do dia, o vocalista/baixista Alex Camargo declarou palavras justas e nada respeitosas ao 'excrementíssimo' presidente da república, responsável-mor pela má gestão da pandemia.
Ratos de Porão comprova que clássicos nunca envelhecem
Pra fechar a noite, o lendário Ratos de Porão volta à tenda do circo voador após 3 anos, na última executando o álbum Brasil (1989). Desta vez o repertório se baseou nos 30 anos do disco RDP Ao Vivo (1992), que, lançado em meio ao governo Collor (citado em "Suposicollor") e alta inflação, não está distante da situação presente da alta dos combustíveis e preços inimagináveis nos mercados.
Se o tracklist de RDP Ao Vivo pouco envelheceu, as letras do Ratos até aquele ponto pouco sofreram a ação do tempo, vide os temas de Brasil (1989) e Anarkophobia (1991). E é com a virulência de suas letras que João Gordo encara a plateia carioca, comandando o baile repleto de stage divings, de novos fãs até alguns grisalhos.
E toda a pancadaria do Ratos de Porão se ancora nas bases violentas de Jão, guitarrista de um trabalho não menos que monumental, e um pilar da música pesada brasileira desde a fundação da banda. Quem também dá vida ao repertório é a exímia bateria de Boka e o Rickenbacker do baixista Juninho, este completando o trio instrumental já há 18 anos (!) e, sem exageros: o resultado dos 3 juntos é um verdadeiro esculacho no palco.
Com quase todas as músicas do disco ao vivo sendo apresentadas, as mudanças ficaram para o final do setlist, alternando a ordem das da pérola "Sentir Ódio e Nada Mais", da onipresente "Igreja Universal", "Crise Geral" e logo apos encerrando com a maravilhosa, e infelizmente profética -ainda mais na administração atual- "Amazônia Nunca Mais".
Com a volta das duas bandas ao Circo Voador concluiu-se uma noite de sucesso na Lapa: com uma ótima recepção do público - casa cheia, bonita de se ver - e muita gente saiu satisfeita, rouca e com os ouvidos zumbindo ao fim do show. Funcionou, não?