The Baggios
E o conturbado ano de 2021, da pandemia, do negacionismo e do genocídio, vai caminhando para o final, com vacinação em alta, a vida retornando aos poucos ao normal e com grande notícia musical: acaba de ser lançado Tupã-Rá, quinto e excelente álbum de estúdio da rapaziada sergipana do THE BAGGIOS.
Fundada em 2004, a banda tem o grande mérito de não se acomodar e
sempre inovar, através da introdução de ritmos e batidas diferentes ao seu
poderoso som, que ganha cada vez mais adeptos, não apenas dentro do público
rock, mas também da MPB.
Fazendo uma retrospectiva, em 2011, depois de lançar demo e
singles, e com formação definida no duo Julico Andrade, na voz, guitarra,
violão e baixo e Gabriel Perninha, na bateria, lançam seu primeiro disco: o autointitulado
The Baggios, blues-rock, com pitadas de guitarband
garageira e o delicioso sotaque vindo do nordeste brasileiro, já deixavam claro
que chegavam firmes, fortes e com um futuro brilhante os esperando.
Em 2013, calejados como uma banda de estrada, tocando e cativando
em festivais espalhados por todo o país, chega o segundo disco, Sina. E para
quem pudesse achar que o primeiro trabalho foi um acaso, neste, eles mostram
que ninguém deveria duvidar, pois conseguiram aprimorar e melhorar o que já era
ótimo. O disco vem com mais peso e mais influências incorporadas, como xote e
folk, numa salada pra lá de boa.
Os conheci em 2016, quando saiu o terceiro e brilhante álbum Brutown,
uma obra-prima, desde a inspirada capa, de autoria de Neilton Carvalho, artista
plástico e também guitarrista da banda pernambucana DEVOTOS. Um disco forte e
coeso, repleto de participações especiais, como Emily Barreto (FAR FROM ALASKA),
Gabriel Thomaz e Érika Martins (AUTORAMAS), Jorge Du Peixe (NAÇÃO ZUMBI) e
Fernando Catatau (CIDADÃO INSTIGADO). Foi nesse ano também que foram convidados
a tocar no festival Lollapalooza, em São Paulo.
Chega o ano de 2018, e a banda conta com a efetivação de Rafael
Ramos como membro da trupe (teclas e baixo – que já os acompanhava ao vivo
desde 2016), assim, eles lançam Vulcão. Outro álbum onde participações
especiais são bem vindas, aqui trazendo a cantora Céu e a banda BaianaSystem, num
disco que é uma perfeita continuação de Brutown, continua vigoroso, com a mistura
de ritmos característica desde o princípio, mas, em minha concepção, é um disco
mais orgânico, mais apegado a terra,
mais pessoal e com toques do psicodélico ao erudito.
Ano de 2020, um ano bem difícil, no meio de uma pandemia que
afetou o mundo todo e nos fez repensarmos muita coisa, fazer autoanálise e nos
situar no tempo e espaço. Tempo em que muitos de nós ficamos mais
introspectivos, e, para um artista, foi o tempo exato de um voo solo, e foi por
aí que o vocalista Julico lançou seu primeiro trabalho solo, o excelente Ikê Maré.
E... depois de tanta lenga-lenga, é hora de centrar em Tupã-Rá,
o novíssimo trabalho de Júlio, Gabriel e Rafael. Disco que já chega com status
de um dos melhores do ano. Abrindo com uma deliciosa mistura do suingue do
baixo, com o teclado que me remeteu ao The Doors, e uma guitarrinha bem da
psicodélica, “A Chegança” chega chegando, e, pelo menos no meu caso, não me
deixou ficar parado. Sem tempo para respirar, a batida e o coro tribal de “Avia
Menino!” invadem o ambiente.
O álbum continua com as conhecidas e famosas participações
especiais, e aqui Chico César e Cátia de França emprestam seu talento em “Barra
Pesada”, single que já havia sido liberado e trás de volta a banda ao som que a
fez conhecida, com uma gostosa mistura de repente e embolada.
A suingueira continua com “Cura Taio”, e na faixa seguinte, “Espelho
Negro”, a influência nítida é o samba, com introdução do baião com o andamento
da música. Grande trabalho! “Clareia Trevas” vem logo depois, num trabalho mais
rock and roll.
“Baggios Encontra Siba” é autoexplicativa, aqui o power-trio
sergipano encontra o cantor pernambucano Siba, conhecido pelo trabalho com a
ótima Mestre Ambrósio, além de coisas interessantíssimas, como Siba & A
Fuloresta. Musicão da porra!
“Deixa Raiar” é outra onde o suingue fala alto, o som é todo bem
encaixado, a linda marcação do baixo com a bateria seca e firme, metais bem
colocados e a guitarra viajando e costurando tudo. “Senhor dos Passos” é um
rockão que me remeteu a Raul Seixas... Sinceramente, não sei se alguém já
pensou nessa relação, mas, foi o que senti ao ouvir. “Chuva” mantém o astral lá
no alto, impossível de ficar parado com essa batida.
“Digaê!” tem instrumental onde a guitarra me fez lembrar o trabalho de Lúcio Maia na Nação Zumbi, tem um ritmo acelerado, com teclado e bateria frenética. Para finalizar, “Sun Rá”, bela canção que nada tem de novo, mas faz um belo apanhado de tudo o que ouvimos antes, peso, suingue, teclado setentista, voz que remete ao rock rural de Sá, Rodrix & Guarabyra. Enfim, MAIS um grande disco da banda... é o quinto no mesmo nível! Que venha o Grammy.