Weezer soa nostálgico em álbum cheio de referências e homenagens ao metal e ao hard rock

Weezer lança seu segundo álbum de inéditas nesse ano
 

Weezer

Van Weezer
⭐⭐⭐ 3/5

Por  Marcelo Alves 


Com meio século de vida, Rivers Cuomo parece estar com saudade do que viveu. É quase impossível escutar Van Weezer”, novo álbum do Weezer lançado apenas três meses e meio depois de Ok Human e não reparar no sentimento de nostalgia que o álbum passa não apenas nas suas letras, mas também nas melodias, riffs e solos de guitarra de influência direta ou indiretamente de bandas do hard rock e do metal dos anos 70 e 80 como Kiss, Black Sabbath, Metallica e Van Halen. Décadas em que Cuomo era um adolescente e um jovem adulto e que talvez sonhasse com seu futuro brilhante como o de seus heróis do rock.


Curiosamente, Van Weezer é um álbum extremamente atual. Vivemos na arte, especialmente no terreno do audiovisual como cinema e TV, mas também na música, uma longa era de referências, homenagens, citações, piscadelas que alimentam o saudosismo do público num eterno retorno do mesmo nietzschiano. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche, aliás, não por acaso é citado na letra de “All the good ones”.


Na música, temos esse sentimento de nostalgia em “Detroit Stories”, de Alice Cooper, e “Future Nostalgia”, de Dua Lipa. No cinema e na TV, basta vermos a quantidade de franquias que foram retomadas nos últimos anos, algumas delas com previsões de lançamentos no futuro, como “Cobra Kai”, série filhote de “Karatê Kid”, “Rambo”, “Rocky” a partir dos filmes de “Creed”, “Top Gun” e “Indiana Jones”. Além dos filmes que se constroem numa colcha de referências. Talvez a maior usina deles seja o “Ready Player One” (2018), de Steven Spielberg.


Divagações à parte, o fato é que Van Weezer é um álbum carregado por estes elementos. Saudade, nostalgia, homenagens e referências. O tempo todo, o álbum te acena com piscadelas para o fã fazer os entrecruzamentos entre o som do Weezer e daqueles que servem de influência para a banda. É o riff de “Crazy Train”, de Ozzy Osbourne, em “Blue Dream”, citações a Motley Crüe em “Sheila can do it” e Billy Joel em “Begining of the End”, além de referências indiretas à guitarra de Kirk Hammett, do Metallica, em “1 More hit” e, claro, de Eddie Van Halen, em “All the good ones”, “The end of the game” e “Begining of the end”. O álbum, aliás, é dedicado ao guitarrista do Van Halen morto em outubro no ano passado de um câncer.


As letras também trazem o sentimento nostálgico. “All the good ones” fala sobre amores do passado. Um tema recorrente no álbum e também encontrado em “The end of the game”, em que Cuomo, inclusive, faz uma referência a um casal que encerrou a relação, mas que se via como o Mick e Marianne, uma referência a Mick Jagger e Marianne Faithfull, que foram namorados na década de 60. Além de “Precious metal girl”, a canção acústica que fecha o álbum e que relaciona a mulher da letra à banda de hard rock dos anos 80 “Faster Pussycat”.


Uma das canções mais divertidas, mas não necessariamente a melhor, do álbum, é “I need some of that”. Esta talvez seja a música que resume todos os conceitos que Van Weezer representa em suas dez canções e pouco mais de 30 minutos. Tem aquele começo clássico de riff de guitarra que o roqueiro velho reconhece de longe, aquele som que se insere ali entre os anos 70 e 80, tem um refrão pop-rock grudento e uma letra que poderíamos definir como a “confort song” do roqueiro saudosista nerd que olha para o horizonte contemplando o passado feliz. Numa tradução livre, suas três estrofes poderiam ser assim: “Verão, eu aperto rebobinar/e volto para uma época simples/ Quando eu era apenas um pirralho punk/Sonhando acordado com a minha fuga/Escutando Aerosmith/Mais tarde, vou ligar para minha mãe/Agora que estou plugando em um amplificador Marshall/Posso ser tudo o que eu quiser/Eu preciso de um pouco disso/É só o que preciso/Eu preciso de um pouco disso/Nós estamos a toda velocidade/Eu preciso de um pouco disso/Mesmo que a gente arrebente/nunca iremos crescer”. Talvez seja Cuomo sofrendo com uma síndrome de Peter Pan? Não querendo crescer? Talvez. Mas quanto mais velhos ficamos somos um pouco puxados pelas memórias doces do passado. Por mais que a vida possa eventualmente ser boa. É um sentimento naturalmente humano.


Passada a diversão de buscar estas referências, podemos dizer que musicalmente Van Weezer é um bom álbum. É difícil compará-lo com o mais recente lançamento da banda, o controverso Ok Human porque ali a proposta era outra. Fazer um disco mais orquestral, pop rock e mais leve. Van Weezer é um retorno ao peso das guitarras e que flerta até com uma estética de bricolagem em algumas canções. E o exemplo mais gritante disso é “Blue Dream”, onde o Weezer lança mão de um material cultural pré-existente, a melodia e a guitarra de “Crazy Train”, para criar uma canção da banda que referencia Ozzy Osbourne. Já “1 Moe Hit” quase grita para James Hetfield para ser incluída num álbum do Metallica. Curiosamente, Van Weezer era para ter saido antes de Ok Human, mas teve seu lançamento adiado por causa da pandemia de Covid-19. 


Van Weezer talvez não conquiste o ouvinte médio de primeira. Embora tenha algumas boas canções. Especialmente a primeira metade do disco “Hero”, “All the good ones”, “The end of the game”, “I need some of that” e “Beginning of the end” caberiam muito bem num show da “Hella Mega Tour”, que o Weezer deve retomar quando a pandemia estiver mais controlada. Esta última canção, aliás, é a que tem a letra mais interessante, com sua pegada um tanto quanto niilista.


Se a primeira metade do álbum é bem boa, a segunda é mais irregular. “Blue Dream”, não funciona muito bem, “Sheila can do it” não tem uma letra muito inspirada. O mesmo podemos dizer de “She needs me” e seu personagem creepy e obsessivo pela mulher em questão: “Ela é minha, toda minha/Ela gosta disso assim na maior parte do tempo/Ela é minha, toda minha”. Eu teria medo dessa pessoa.


Mas “1 more hit” e a acústica “Precious metal girl”, são bem legais e ajudam a concluir um disco que pode não estar entre os melhores do Weezer, mas é bem divertido e que pode agradar aos fãs que comprarem a ideia da banda. 

Marcelo Alves

Acredita que o bom rock and roll consiste em dois elementos: algumas ideias na cabeça e guitarras no amplificador. Fã de cinema e do rock nas suas mais variadas vertentes, já cobriu três edições do Rock in Rio e uma do Monsters of Rock. Desde 2014, faz colaborações para o site "Rock on Board". Já trabalhou em veículos como os jornais "O Globo" e "O Fluminense". Twitter: @marceloalves007

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