Produzido por St. Vincent, novo álbum do Sleater-Kinney surge como ponto baixo da carreira

Novo álbum do Sleater-Kinney foi produzido por St. Vincent
Por  Luciano Cirne 

Antes de mais nada, quero deixar bem claro: Adoro o Sleater-Kinney, é uma das minhas bandas favoritas. Sempre levantei a bandeira que Janet Weiss é uma baterista subestimadíssima, tenho quase todos seus discos e considero sua discografia praticamente impecável. Quando elas resolveram retornar em 2015, eu quase soltei fogos de tanta alegria e com justiça, já que No Cities to Love, álbum que selou essa volta, foi um discaço. 

Isso posto, eu confesso que, quando foi noticiado que estavam para lançar mais um trabalho, mas desta vez produzido por St. Vincent, fiquei com a pulga atrás da orelha. Afinal, St. Vincent sempre fez um som mais voltado para o eletropop e que não combina em nada com a proposta urgente e nervosa do Sleater-Kinney. "Ainda assim", pensei, "vamos esperar e torcer pelo melhor". Finalizada a gravação, Janet Weiss resolve sair, alegando divergências criativas. Mau sinal, péssimo sinal! Contudo, como bom fã que sou (e como vocês bem sabem, todo fã é um otimista), mesmo com todos esses alertas indicando que alguma coisa estava errada, segui esperançoso. Pois bem, hoje finalmente escutei The Center Won't Hold e acho que acertei em partes: Não é a bomba que achei que poderia ser, mas com certeza é o ponto mais baixo de sua brilhante carreira.

A furiosa faixa de abertura que dá título à bolachinha impressiona e dá até a sensação que estamos diante do bom e velho Sleater-Kinney de clássicos como "Dig Me Out". Porém, momentos empolgantes como esse são raros. Fora a canção-título, podemos destacar também as melancólicas "Restless" e "The Dog, The Body"  Pena que de resto o que temos são uma decepcionante sequência de músicas que tinham potencial e poderiam ser interessantes, se não fosse pelas experimentações eletrônicas forçadas como no caso de "Can I Go On" e "Reach Out". As letras fortes, confessionais e politizadas continuam lá (a de "Love", onde fazem uma crítica contundente a pessoas que se recusam a envelhecer com dignidade em versos como "não há nada mais assustador e nada mais obsceno/do que um corpo bem desgastado exigindo ser visto" é o grande destaque) e, com boa vontade, dá pra salvar também o single "Hurry On Home", que parece sobra de algum disco do B-52's, mas no geral parece que estamos ouvindo uma versão mais acessível e requentada da própria St. Vincent ou então um New Order tosco, caso de "The Future is Here".  

Ao menos para mim o grande atrativo do Sleater-Kinney sempre foi a crueza do som e como elas tinham que ser criativas nos arranjos pra preencher os espaços deixados pela ausência do baixo, portanto vê-las optando por uma saída fácil para resolver a questão enchendo as músicas com sintetizadores e tecladinhos de gosto duvidoso é decepcionante, para dizer o mínimo. É realmente curioso: Na tentativa de modernizar o som, conseguiram deixá-lo mais datado! E, sendo muito sincero com vocês, eu tomo quase que por insulto a decisão de usarem bateria eletrônica em faixas como as já citadas "Love" e "Can I Go On": Pombas, você tem uma baterista excepcional como Janet Weiss a seu dispor e prefere deixá-la de lado pra usar bases programadas? Alguém por favor me responda, qual é a inteligência disso? Não dá para entender! Não foi a toa que Janet pediu as contas depois da gravação, eu no lugar dela me sentiria muito menosprezado! 

Não me entendam mal, não sou daqueles xaropes que acham que as bandas devem ficar ad infinitum fazendo a mesma coisa. Ao contrário, admiro artistas que sabem se reinventar, têm a coragem de ousar e enveredam por novos caminhos, porém nem sempre vale a pena arriscar. Nos trabalhos anteriores, o Sleater-Kinney fez coisas que mais nenhuma banda fazia, e isso agora acabou, é um caminho sem volta. A forma como as guitarras se entrelaçavam, como as guitarristas Corin Tucker e Carrie Brownstein sempre dividiam os vocais nas faixas, nada disso está presente aqui. The Center Won't Hold infelizmente tem mais momentos baixos que altos, não deve agradar os fãs das antigas e dificilmente vai fazer com que conquistem novos.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
SOM-NA-CAIXA-2