Plebe Rude finaliza turnê de disco ao vivo e se prepara para novo álbum de estúdio

Plebe Rude com o público no fundo: sucesso da turnê "Primórdios"
Por Ricardo Cachorrão Flávio

Matinê num sábado escaldante, no senegalês verão paulistano, e pontualmente às 11 da manhã, a PLEBE RUDE faz seu primeiro show de 2019, e, como lembrado diversas vezes durante a apresentação, o primeiro desta banda sempre marcada pela contestação e o discurso inteligente de protesto, nesta nova era conservadora vivida pelo país.

A apresentação faz parte da “Primórdios Tour 2019”, e, segundo o guitarrista e vocalista Philippe Seabra, em rápido bate-papo pós show, foi o último em São Paulo antes da banda ir para estúdio para trabalhar no novo disco, que ele nos adiantou em primeira mão, que será um álbum conceitual da Plebe Rude, e já conta com 20 canções prontas, todas dentro de um mesmo tema. Perguntei: “Teremos uma ópera rock da Plebe então?”, e ele, sorrindo, “é por aí, quase isso”. Coisa boa vem pela frente.

Voltando ao show e sua origem... Em novembro de 2017, a Plebe Rude, hoje formada por Philippe Seabra e André X, membros fundadores da banda, além de Clemente Nascimento, na guitarra e voz, fundador da banda punk Inocentes, que também prepara material inédito, e Marcelo Capucci, na bateria, se reuniram no complexo de estúdios Espaço Som, em São Paulo e gravaram ao vivo, com produção do Showlivre.com, o disco Primórdios 1981-1983, para 100 felizardos fãs que puderam participar da gravação. O disco em questão, que saiu há poucos meses, trouxe apenas músicas compostas no início da carreira, entre 1981 e 83, muitas delas inéditas até então, e este show ainda faz parte da turnê de lançamento.

Com uma gravação da ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes, abrindo o show, a banda sobe ao palco com “Voz do Brasil”, música que faz parte de “Primórdios 1981-83”, mas que havia aparecido anteriormente no disco ao vivo “Enquanto a Trégua Não Vem”, de 2000. Sequência matadora com “Brasília” e “Johnny Vai à Guerra (Outra Vez)” e jogo ganho, como esperado.

A próxima música, “Dança do Semáforo”, na gravação do disco contou com participação de Gabriel Thomaz e Érika Martins, da banda Autoramas, e é velha conhecida do público. Seguem-se “Luzes”, cover da Escola de Escândalos e “Censura”, que apareceu no segundo disco da banda, Nunca Fomos Tão Brasileiros, de 1987, mas é outra dos primórdios.

Resgatada do terceiro e pouco tocado disco “Plebe Rude III”, sempre pedido pelos fãs mais antigos, vem a bela música “Um Outro Lugar”, e o último disco de estúdio da banda, Nação Daltônica, de 2014, se faz presente com a contundente “Dias de Luta”, que mostra que se o rock nacional mainstream ficou bunda mole e acomodado, a Plebe, continua Rude. Valorizando toda a carreira, inicia o playback de gaita de foles que introduz “O Que Se Faz”, faixa do disco R Ao Contrário, de 2006, que foi o primeiro trabalho a contar com Clemente como membro oficial da banda.

A gravação do arranjo de cordas da Orquestra Filarmônica de Praga feito para a banda introduz a faixa “Sua História”, outra de “Nação Daltônica”. E o clima permanece ameno, quanto Philippe empunha o violão e começa o hit “A Ida”. Mantendo todos os discos no repertório, é a vez de Mais Raiva do Que Medo, de 1993, aparecer com “Este Ano”. Lembrando da atual situação política, Seabra diz que a próxima música fazia tempo que não tocavam, mas acharam por bem resgatar, e vem “Bravo Mundo Novo”.

Um pouquinho de história, e contam como foi o primeiro ensaio da banda, junto com o pessoal do Aborto Elétrico, quando saiu a primeira música, “Pressão Social”, que faz parte de “Primórdios 1981-1983”, mas consta originalmente de “Mais Raiva do Que Medo”, numa gravação que contou com Renato Russo nos vocais, e agora tem Clemente na voz principal. Ainda com Clemente só cantando, sem guitarra, vem “Tá Com Nada”, com a letra atualizada com “homenagem”, dentre outros, ao grande símbolo da direita mundial, o presidente norte-americano Donald Trump, em música que a banda Detrito Federal havia gravado em seu disco de estreia, “Vítimas do Milagre”, de 1987. “Códigos”, de “Nunca Fomos Tão Brasileiros”, é a próxima e gera risadas de todos. No palco os músicos se olham e parece não entenderem nada, mas vão tocando, até todos pararem e o baixista André X explicar ao público, que essa música sempre foi tocada com guitarra, mas Philippe começou com violão e todo mundo se perdeu. Guitarra em punho, piadas de “acústico não”, e saiu “Códigos”.

Com playback do programa “Cassino do Chacrinha”, com a voz do ‘velho guerreiro’ anunciando “Com vocês a Plebe Rude”, começa “Minha Renda”, clássico do disco de estreia, O Concreto Já Rachou, de 1985. Breve pausa, e Philippe diz, sério, “essa música tem 36 anos, e nunca foi tão atual”, segue “Proteção”, que, lembrando do governo de direita recém eleito, sob a bandeira do conservadorismo e do militarismo, emociona velhos fãs que cantam em uníssono: “Tropas de choque, PM’s armados / mantém o povo no seu lugar / mas logo é preso, ideologia marcada / se alguém quiser se rebelar / Oposição reprimida, radicais calados / toda a angústia do povo é silenciada / Tudo pra manter a boa imagem do Estado! Sou uma minoria mas pelo menos falo o que quero apesar da repressão... é para sua proteção”. É hora também de Clemente se lembrar dos Inocentes e mandar “Pátria Amada”, como música incidental, antes de Philippe reassumir e terminar “Proteção”.

Com o tempo contado pela produção do Sesc, algumas músicas programadas ficaram de fora, e entra a introdução de violoncelo do Jaques Morelenbaum, que determina o começo do maior sucesso da Plebe Rude, “Até Quando Esperar”, que para quem conhece bem os shows da banda, sabe que é o início do fim da festa.

Durante o show, André X chegou a dizer que ele e Philippe passaram todo o mês de dezembro compondo em estúdio e fizeram “umas 30 músicas novas”, e, como já adiantado, Philippe nos disse depois do show, que 20 dessas músicas seguem um tema e farão parte de um disco conceitual da banda. Ficamos no aguardo, que a contundência permaneça.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

2 Comentários

  1. É sempre bom ler uma resenha de rock por quem escreve, registra e vive o rock. God save the Plebe Rude.Claudio Art Rock.

    ResponderExcluir
  2. God save the Plebe Rude. Que bom ler um texto sobre rock, por quem entende e vive o rock. Long live Dog, long live rock and roll.

    ResponderExcluir
Postagem Anterior Próxima Postagem
SOM-NA-CAIXA-2