Não é só futebol! Desde 1980 o Maracanã é uma das maiores arenas de shows do mundo

Em 1991 o Maracanã recebeu 700 mil pessoas em nove dias de Rock in Rio
Por Bruno Eduardo

Afinal, um estádio é feito pra partidas de futebol ou shows de rock? Foi com esse discurso que a Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj) entrou com pedido na Justiça do Rio, para receber uma multa de R$1 milhão caso a Maracanã S.A. não consiga deixar o estádio em condições de receber as partidas do Campeonato Carioca de futebol por conta dos três grandes shows marcados para o início desse ano. Conforme informado pelo O Globo, o pedido de indenização será muito mais como um protesto contra a marcação dos concertos do que uma tentativa de impedir a realização dos mesmos. Só que de acordo com o mesmo jornal, em março de 2017, a Maracanã S.A já tinha comunicado oficialmente à Casa Civil do Estado que estava negociando esses shows - assim como manda o contrato.

Embora seja uma prática comum, shows em estádios de futebol costumam levantar discussões sobre prioridades quando há embates de datas no calendário. O mais estranho é que os imbróglios aumentam com o passar dos anos, mesmo sabendo que nos tempos atuais até mesmo os clubes-gerentes preferem negociar datas para esses eventos do que dar prioridade a um mando de campo - exemplos mais específicos nos dias de hoje são o Palmeiras (Allianz Parque) e o São Paulo (Morumbi). 

Mas vamos deixar o fator econômico-viável de lado, porque aqui no Rio de Janeiro a coisa não é tão simples assim - ainda mais quando é levantada a polêmica pauta da "elitização dos estádios" na discussão. Só que historicamente falando, antes mesmo de se tornar uma arena padrão FIFA, o Maracanã já tinha se transformado num dos mais importantes locais para shows da história - inclusive com presença no Guinness Book (o livro dos recordes) e ostentando marcas até hoje nunca batidas no showbusiness.

"O Maraca é do povo, e por isso tem que ter futebol!"

Ninguém vai questionar que o futebol manda no Maracanã e é a razão de sua existência. E nem vamos discutir a relação do povo brasileiro com o esporte bretão. Mas os argumentos são frágeis se falarmos de exclusividade num local que há quase quatro décadas vem sendo palco para verdadeiras multidões fora do âmbito futebolesco. 

Tudo começou com Frank Sinatra em 1980, que foi o primeiro grande megaconcerto do estádio com 170 mil pessoas presentes. Três anos depois, o Kiss reuniu a incrível marca de 250 mil pessoas no Maraca, para uma das maiores audiências que o estádio já teve um dia. Nos anos noventa a coisa foi ainda mais além, a começar com Paul McCartney e a estreia de um Beatle no Brasil (184 mil pessoas). E o que falar dos nove dias ininterruptos de Rock in Rio no ano de 1991? A segunda edição do festival teve um público total de 700 mil pessoas e estreias de artistas como Guns N'Roses, Prince, A-haFaith No More, Joe Cocker e George Michael no país.

Estamos falando de shows que ocorreram há vinte e cinco, trinta anos. Numa época sem Odebrecht, carteirinha de estudante falsificada e todos os encostos que perseguem o novo Maracanã. Outras estrelas que lotaram o Maraca naquele tempo de estádio "do povo", com geral, arquibancada e cadeiras numeradas, foram Madonna (1993), Rolling Stones (1995) e Tina Turner (1988). Depois o estádio começou a sofrer suas reformas e a capacidade foi cada vez diminuindo mais (e os preços dos bilhetes aumentando). Mesmo assim, o Maracanã continuou fazendo história na vida de muitas pessoas como palco de grandes concertos de música e abrindo oportunidade ao povo de assistir espetáculos que só mesmo um local tão sagrado poderia ser capaz de abrigar - independente de qual fosse a sua gerência administrativa.

Shows no Maraca em 2018

Na ordem cronológica, este ano teremos Phil Collins no dia 21 de fevereiro, Foo Fighters Queens Of The Stone Age no dia 25 e Royal Blood e Pearl Jam no dia 21 de março. As três datas já estão com ingressos à venda desde outubro do ano passado e a expectativa é que o estádio receba um público superior a 70 mil pessoas por noite. E isso sem contar que em outubro ainda teremos Roger Waters, que promete ser mais um capítulo épico na história desse coliseu chamado Maracanã.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
SOM-NA-CAIXA-2