Em seu primeiro álbum, Prophets Of Rage soa apenas como mais um supergrupo sem muito a dizer

Com base do Rage Against The Machine, Prophets Of Rage estreia no estúdio
PROPHETS OF RAGE
"Prophets Of Rage"
Fantasy Rec; 2017
Por Luciano Cirne


Já viram aquele anúncio xarope do Trivago onde aquele 'famoso garoto propaganda' diz: "Eu estou me repetindo ultimamente, mas sabem o que isso quer dizer?"...Pois bem, eu tive vontade de começar esta crítica do mesmíssimo jeito, porque é inevitável: em praticamente todos os reviews que fiz este ano, comentei álbuns de supergrupos! A bola da vez agora é o badalado Prophets of Rage - embora Tom Morello tenha dito em diversas entrevistas que não deveriam ser rotulados como tal, mas sim como "uma força-tarefa de elite de músicos revolucionários" (mas é assim que irei chamá-lo... desculpa aí, Tom!). Mas voltando ao assunto, o POR causou um rebuliço considerável na cena roqueira desde quando anunciou oficialmente sua formação - e não era pra ser diferente. Afinal, metade dos integrantes são do Rage Against the Machine, uma banda até hoje cultuada e respeitada. Completam o time ainda: Chuck D e o DJ Lord do Public Enemy e B-Real, do Cypress Hill). A expectativa foi enorme, a intenção foi a melhor possível, mas infelizmente na hora do "pega para capar", nem sempre a realidade corresponde às expectativas.

OK, o disco tem alguns momentos maravilhosos. O primeiro single "Unfuck The World" (com sua letra bastante sintomática que diz "tudo mudou, no entanto nada mudou") é bem enérgico e certamente se encaixaria com perfeição num disco do RATM como 'Battle of Los Angeles', assim como "Hail to The Chief" e "Who Owns Who" (talvez a melhor do álbum). "Legalize Me" também é uma agradável surpresa, que soa como um outtake do Audioslave (o que não é nenhuma surpresa, não é mesmo?). Pena que o resto da bolachinha não siga essa mesma pegada e seja de uma mesmice de causar sono.

Muitas das músicas soam praticamente iguais entre si (o que é surpreendentemente decepcionante para um conjunto que tem Tom Morello, um dos guitarristas mais versáteis e criativos de sua geração). Em diversas partes fica difícil até saber onde uma canção termina e outra começa. Até mesmo a faixa que abre os trabalhos, "Radical Eyes", é morna e parece nunca engrenar.


Chuck D também é um problema, pois se por um lado ele é reconhecidamente hábil com as palavras, cantando fica cansativo, uma vez que sua linha vocal não muda praticamente nada ao longo dos cerca de 34 minutos de duração do disquinho, tornando-o monótono às vezes e fazendo-o parecer muito maior do que realmente é. Sem contar que (aposto que os fãs do Rage Against the Machine vão querer me bater por essa, mas vamos lá) não consigo entender com que propósito fizeram uma música tão esquisita como "Strenght in Numbers" (outra canção na qual a entressafra criativa se mostra latente, haja vista que a introdução é quase igual a do hit do RATM "Bulls On Parade"), onde o riff da guitarra do Tom Morello soa idêntico a um monte de galinhas cacarejando! Façam o teste; ouçam essa faixa e tentem não cair na risada! Assim fica difícil levar a sério e se concentrar na mensagem, né?

Entendo que em tempos obscuros como o que vivemos atualmente, bandas como o Prophets of Rage, vociferando verdades sem medo de enfiar o dedo na ferida são absolutamente necessárias. Também concordo com as declarações do Tom Morello, que já andou falando por aí que "Tempos perigosos exigem músicas perigosas"... Mas também acredito que a melodia é um veículo importante para que as mensagens transmitidas se façam captadas, e com um trabalho que na maior parte do tempo é apenas preguiçoso e insosso, toda boa vontade vai para o espaço. 

Se você amigo(a) leitor(a) encará-lo como ele supostamente foi concebido (ou seja, uma conclamação à luta) e enfatizar as letras, certamente vai apreciar melhor e achá-lo mais interessante. Entretanto, se você é apenas um(a) fã de rock querendo diversão pura e simples, com certeza irá se decepcionar. Ouça e tire suas próprias conclusões, mas se quer um conselho de amigo, não vá com muita sede ao pote...

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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