Discos: The Flaming Lips (Oczy Mlody)

Foto: Divulgação
Wayne Coyne e cia. seguem firmes na exploração psicodélica
THE FLAMING LIPS
"Oczy Mlody"
Warner Bros; 2016
Por Lucas Scaliza


Para quem esperava um álbum mais amigável ao público, como eu, acabou se deparando com um misto de canções e pirações psicodélicas instrumentais - como aquelas que Wayne Coyne compôs em discos dos anos 90 e início dos 2000 – que não são pesadas como em The Terror (o disco mais difícil do The Flaming Lips) mas também não deixam de representar um desafio para o ouvinte menos acostumado a longas músicas ambiente.

Assim, embora a ideia sonora que perpassa o trabalho seja um primor, nem sempre as canções funcionam bem, podendo causar tédio em alguns momentos, principalmente se o ouvinte não estiver no momento mais viajante de seu dia.

Oczy Mlody”, a linda introdução, dá o tom para músicas como “How??”, “Sunrise (Eyes Of The Young)”, “The Castle”, “We a Family” (esta com participação de Miley Cyrus) e a primeira parte de “There Should Be Unicorns”, todas com potencial para embalar o ouvinte e, de fato, representam o melhor do Flaming Lips neste novo disco. Mesmo que existam algumas interferências mais psicodélicas, que servem justamente para tirar um pouco da segurança do ouvinte, elas não são nenhum desafio.

O restante das faixas serve muito mais como exploração de texturas e experimentações sonoras - uma lembrança de um lado musical de Coyne e Cia que realmente é capaz de afundar na psicodelia enevoada. “Nigdy Nie (Never No)”, “Galaxy I Sink”, “Do Glowy” e a longa “One Night While Hunting For Faeries And Witches And Wizards To Kill” se desenvolvem ao longo de diversos tipos de sons de teclado e sintetizador e um baixo que ora soa orgânico, ora eletrônico, ora distorcido. Aliás, a mistura dos timbres de baixo e sintetizador é o que move a estética de 'Oczy Mlody' até o fim da audição.

Todas as faixas são tristes, noturnas e cósmicas, como se a viagem de ácido nos tivesse levado para um espaço repleto de estrelas néon. Há conforto nessa vista, mas estamos em gravidade zero, à deriva.

Levando em conta diversos fatores, dá para dizer que o álbum começa bem, termina bem (Miley Cyrus se beneficiou muito da parceria com a banda e vice-versa) e em seu miolo tem várias ótimas ideias. No entanto, as explorações instrumentais tomam tempo demais e acabam tornando a paisagem sonora bem turbulenta. É lógico que isso tem um lado positivo, que é a recusa do Flaming Lips de se tornar mais pop e menos exigente, contudo, Oczy Mlody parece dividido entre dois universos e não decide em qual deles quer ficar.

Os singles se salvam todos, mas teremos que esperar mais alguns anos se quisermos ver o palco de Wayne Coyne transformado em uma festa surreal novamente, com papel picado, serpentina e bolas coloridas. Por enquanto, reflete apenas a nossa tristeza interior.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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