Atração do Lollapalooza Brasil, The Outs mostra a realidade do rock independente

Foto: Divulgação
The Outs se apresenta no dia 25 de março no Lollapalooza Brasil
Por Bruno Eduardo

Quem for ao Lollapalooza Brasil, que acontece nos dias 25 e 26 de março no Autódromo de Interlagos, vai ter um motivo especial para chegar cedo. Trata-se de uma das maiores revelações do cenário independente: a banda carioca The Outs - que acaba de lançar seu primeiro disco por uma gravadora (Deck) e primeiro também com canções em português. 'Percipere', lançado no ano passado, foi masterizado pelo australiano Rob Grant, que já trabalhou com Tame Impala e Lenny Kravitz, e entrou na lista de melhores do ano do site Rock On Board. Formada em 2012 por Tiago Carneiro (voz e baixo), Dennis Guedes (guitarra, baixo e backvocal), Vinícius Massolar (guitarra, teclado, baixo e backvocal) e Gabriel Politzer (bateria e percussão), a The Outs começou a chamar atenção da mídia após receber um elogio de ninguém menos do que Noel Gallagher do Oasis. O grupo também ficou na 2ª colocação no reality autoral Breakout Brasil, promovido pela Sony (que contou com mais de 6.000 bandas inscritas) e lançou o ótimo 'Marmalade Land' em 2015. Em exclusiva ao Rock On Board, Dennis Guedes falou sobre essa nova fase da banda e sobre a expectativa de tocar no Lollapalooza Brasil. No bate-papo, ele também mostrou uma visão particular do cenário roqueiro e acredita que o mercado passa por um momento de transformação. Resumindo: é o rock independente por ele mesmo. 

Como está a expectativa para o show do Lollapalooza Brasil?

Na verdade a ficha só começou a cair agora, pois estamos tendo que resolver algumas questões burocráticas envolvendo o festival. Com isso, a gente já começa a pensar no que vai ser o show e nas possibilidades da apresentação. Para nós é muito legal ser uma das bandas mais independentes do festival e estarmos representando essa leva.

E como surgiu o convite?

Na verdade está tudo muito linkado. Tem muito com o lançamento do nosso novo disco e por ele ter sido o nosso primeiro trabalho em português, o que acabou chamando a atenção do Rafael Ramos (Deck / Polysom). Com isso, conseguimos o contrato com a gravadora e a coisa foi abrindo a partir daí. Então fomos sugeridos para o Lolla e a produção veio conversar conosco. Foi uma coisa natural e que aconteceu como conseqüência do momento que a gente está vivendo.

Na minha opinião particular, nessa edição tivemos menos bandas da cena rock independente em comparação aos anos anteriores. Você também sentiu falta de bandas independentes que vivem no mesmo cenário rock que a The Outs?

Eu até acho que tem uma boa quantidade de artistas independentes nessa edição. Não tanto numa estrutura tão menor quanto a nossa. Mas é fato que não houveram muitas bandas de rock independentes esse ano. Eu acredito que é uma coisa aleatória e que ao mesmo tempo não é. No meu ponto de vista isso é um reflexo do que tem se tornado o nosso mercado, que é essa coisa de mesclar bastantes ritmos. Você vê o Jaloo, Baiana System, o próprio Criolo. Não são artistas de rock, embora peguem resquícios, mas são de certa forma consideradas alternativas e que estão lá. Mas do nosso tamanho, realmente a gente vê em menor proporção esse ano. Mas de qualquer forma, estamos muito felizes de sermos uma das bandas que podem representar esse cenário na edição deste ano do festival.

E como vocês avaliam a importância desses festivais para bandas de menor porte, que ainda lutam para sobreviver no cenário nacional de rock independente?

É muito importante bandas como a nossa poderem transitar em festivais desse tamanho com bandas maiores, até mesmo para entender como funciona. Porque a gente tem vários festivais que acontecem no Brasil o ano inteiro e nem sempre a gente consegue circular. Embora o The Outs esteja tocando no Lolla, não é em todo festival aqui no Brasil que a gente tem essa facilidade de conseguir tocar. Parece que cada coisa é um círculo que você precisa ir penetrando até eles aceitarem e entenderem que você é uma banda realmente promissora. É uma coisa que não dá para definir. Acredito ser uma conseqüência de como as coisas estão caminhando por aqui, já que o rock está numa baixa no Brasil e está tendo que se reinventar. Então enquanto não acharmos um meio termo entre a galera que procura outras coisas e o público roqueiro, a coisa vai ficar desse jeito.

Ainda não recebemos a programação dos shows, mas provavelmente vocês devem ser a primeira banda do festival, já que tocam no primeiro dia... 

Na verdade a gente não vai ser a primeira do festival. A gente abre o palco dois, que é o Palco Ônix. Acho que antes de nós, quem abre é a Doctor Pheabes no palco 1, e quase no mesmo horário que a gente vai rolar o show do Baiana System.

Palco Ônix? Vocês vão tocar no palco mais distante. No entanto é o que tem uma das melhores vistas do palco por ser numa espécie de ladeira...

Eu nunca fui no Lolla, mas realmente, ele é o mais distante. Só que eu acho que como a gente não vai começar o festival, isso vai ficar bem equilibrado, pois a primeira banda toca no palco próximo aos portões e a dinâmica deve facilitar para a galera depois ir ver a gente.

E quem vocês gostariam de assistir nessa edição do Lollapalooza Brasil

No nosso dia vai ter o Glass Animals, que é uma banda que realmente quero ver. Também tem o Jaloo e o Suricato, que tocam um pouco depois do nosso show, então não sei se conseguiremos ver, mas que eu estou querendo muito. Os shows do Cage The Elephant, Criolo, The XX eu também pretendo poder assistir.

Falando agora sobre o novo disco de vocês. Como surgiu a ideia de gravar em português?

A gente já vinha gravando coisas em português. Na verdade, foi no Breakout Brasil que compomos a primeira música em português, que foi "Ainda me Lembro", que acabou sendo o primeiro single do disco. Depois disso a gente começou a escrever bastante coisa, tanto em português quanto em inglês, mas estávamos na pilha de mesclar as coisas que a gente vinha fazendo com letras em português. Por isso também demoramos mais tempo para conseguir chegar a um resultado que representasse bem o que queríamos dizer. A notícia de que a gente estava gravando em português chegou ao ouvido do Rafael [Ramos] e ele ficou curioso.

E como foi esse contato com ele?

A gente já tinha feito um contato com ele há um tempo atrás. Ele ficou interessado na época, só que ele tem essa barreira com coisas cantadas em inglês. Mas quando mostramos coisas em português ele gostou da proposta. Nossa ideia era fazer apenas um mini álbum. Mas conversando com o Rafael, ele pediu para fazermos mais músicas e daí o trabalho acabou se tornando um álbum full, meio que sem querer.

Vocês sempre tiveram essa sonoridade meio psicodélica. Como foi definir o que fazer após saberem que iriam escrever as letras em português? Teve alguma influência do Rafael na produção desse disco?

A gente já estava gravando antes de decidirmos isso. Já tínhamos um conceito do que seria o trabalho. O Rafael acompanhou o processo depois de um tempo, mas foi um trabalho que nós produzimos em nossos home studios, seguindo a mesma lógica dos outros discos. Então não teve um grande envolvimento do Rafael e da Deck nesse disco na questão de produção. 

E como você vê essa questão de bandas independentes lançarem discos por selos e gravadoras em tempos de streaming? Nos anos oitenta e noventa as bandas precisavam correr atrás das gravadoras para conseguir lançar seus trabalhos e alcançar um grande público. Como você vê isso hoje?

Eu não acho que as bandas devam ficar correndo atrás de gravadoras de forma desesperada. Quando acontece, deve ser mutuamente. No caso da Deck, por ela ser uma gravadora independente, ela trabalha muito em conjunto com o artista. Então o que rola é uma ajuda mútua. Nós também poderíamos ter lançado o disco por conta própria, mas achamos mais vantajoso nesse momento fazer essa troca, já que foi uma coisa que simplesmente aconteceu. Hoje em dia o streaming tem se tornado a forma padrão de se consumir música. Já vi alguns teorizando inclusive de que as playlists substituem as rádios nos tempos atuais. Então é importante estarmos todos alinhados com essas plataformas para poder alcançar o máximo de pessoas que pudermos.

E o retorno financeiro dos streamings para bandas independentes? Grandes artistas reclamam muito ainda desse formato de repasse monetário. O que você pode falar sobre isso? Compensa?

O retorno financeiro nesse meio de internet é uma coisa ainda muito vaga. Ainda é uma coisa que não é suficiente para o artista conseguir sobreviver. Mas as coisas estão tendendo a se organizar por aí. Então se em algum momento isso vier funcionar, é bom que o artista já esteja usando o formato. Porque mal ou bem é um meio de construir público. O retorno financeiro às vezes acontece. Já aconteceu de salvar um mês nosso de poucos shows, e o dinheiro veio para ajudar a banda a continuar trabalhando. Vai de como cada um organiza esse retorno. Principalmente os artistas pequenos, que não conseguem fazer muito volume de dinheiro. Porque para você fazer um volume você precisa ter muito público. Então isso é que tem que ser acertado, pois ela precisa favorecer também quem é pequeno. Então ele vai funcionar quando isso for justo para todos que estão nessa cadeia, com os nicho pequenos alcançando bons retornos também.

Para finalizar, fale um pouco dessa polêmica de faltar rock e rádios rock nas FMs, principalmente no Rio, onde vocês moram.

É bem chato ver rádios como a Cidade sumirem da FM. Mas acho que também tem o problema da falta de espaço que essas próprias rádios proporcionam às bandas independentes. Rola um saudosismo muito grande dentro do rock. Uma mentalidade errada já que o rock também se atualiza e tem novidades acontecendo. O rock não morreu mas está num processo de renovação tanto para quem curte quanto para as próprias bandas. Hoje o público de rock está mais ligado na internet do que nas rádios, mas é muito importante estar nas FMs para alcançar um outro público que não seja especificamente o público roqueiro. Não é porque você faz rock que tem que ser escutado apenas por roqueiros. O Brasil é um país muito eclético onde as pessoas curtem muitos estilos diferentes. O problema é se atualizar dentro do próprio rock. Porque para um público geral, o rock meio que se tachou. Temos é que mudar essa ideia de que o rock é exclusivo para roqueiros e que as pessoas para achar algo sobre o gênero precisem ir buscar em locais específicos.

LOLLAPALOOZA BRASIL 2017
Datas: 25 e 26 de março de 2017
Local: Autódromo de Interlagos
Endereço: Avenida Senador Teotônio Vilela, 261 – Interlagos
Classificação etária: Crianças com menos de 05 anos - não será permitida a entrada. De 05 a 14 anos: Permitida a entrada acompanhado por pais ou responsáveis. A partir de 15 anos: Permitida a entrada desacompanhados.
Ingressos: 
Lolla Pass - 1º Lote: R$800 / R$400 (meia) ESGOTADO
Lolla Pass - 2º Lote: R$920 / R$460 (meia)
Lolla Day - 1º Lote: R$540 / R$270 (meia)
Lolla Day - 2º Lote: R$590 / R$295 (meia)
Venda pela internet AQUI

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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